Podia ser uma ideia louca, mas quem sabe da certo? Comprei um cartão de orelhão, nisso já gastei quase 5 reais dos quase 8 reais que eu tinha.
Peguei o papel que Angela me deu, disquei, chamou duas vezes, uma mulher atendeu:
- Quer falar com quem?
Simpatia em pessoa (sqn).
- Angela.
- Amor, tem uma mulher... Qual seu nome, criatura?
- Ninguém... (tu tu tu...)
Dealiguei. Burrice minha acreditar que aquela bofinha linda não tivesse ninguém e de bom grado fosse me ajudar, uma total desconhecida para ela. O bom grado ou agrado que ela queria comigo estava debaixo da minha calcinha.
Caralho, de volta à estaca. Meu dinheiro só dava para mais uma volta de ônibus, já sabia para onde ir.
Parei em frente à um prédio de classe média baixa, a causadora do meu desespero tinha que me dar uma solução. Falei com o porteiro, ela ainda não tinha chegado.
Vinte minutos se passaram, a moto parou no portão de entrada, acenei para ela, fingiu não me ver. Ia entrar, eu corri e pulei na moto, nisso meu salto quebrou, ela desequilibrou e chegou a bater com o pneu em uma lixeira.
- Tá a fim de me matar, pirralha?
Silvia desceu da moto furiosa, tirando o capacete, indo ver o estrago na roda.
- Era o que eu devia fazer com você. Por sua culpa meu pai me pôs para fora de casa.
- Minha culpa não, minha querida, sua culpa. Quem fica esfregando buceta não sou eu, a indecente aqui é você!
Ela praticamente pediu para morrer , vocês não acham? Que ser humano, ainda mais sendo lésbica vai ouvir um disparate desse e não vai reagir? Eu já estava cansada de falar, parti para a ignorância... Voei de soco, chute e tapas em cima de Silvia.
Quando o segurança conseguiu nos separar, a boca e o super cílio esquerdo dela sangravam.
- Chama a polícia para prender essa louca.
Fugi do segurança, corri pelo portão aberto, havia uma senhora entrando com umas sacolas tadinha, esbarrei nela, foi a senhora e as compras para o chão. Enquanto o segurança ajudava a velhinha, eu de sapato quebrado e tudo, sumi pelas ruas. Parei de correr, já estava na última rua do bairro, perto de um riozinho. Mato fechado, entrei lá. Tudo o que eu menos precisava era ser presa.
Cheguei a ver uma viatura subir com o giroflex ligado, indo em direção ao prédio.
Será que ela chamou mesmo a polícia?
Eu nunca soube. O que eu sabia, era que aquele lugar era frequentado por usuários de drogas à noite.
Ouvi umas conversas, barulhos no mato, me escondi. Dois rapazes vieram fumando em minha direção, para mim que nunca havia fumado nada, o cheiro da maconha estava me deixando estranha.
Graças à Deus eles passaram perto de mim e não me viu, foram para debaixo da ponte onde o rio passa, lá é escondido, eles fumam e até fazem sexo lá. Sai do mato, apesar da polícia estava mais segura na rua.
A barriga roncando de fome, o tempo formou para chuva de repente, fez frio. Na minha cabeça só uma pergunta; Onde eu ia dormir?