Na esquina tinha um bar, fui lá ver o movimento, havia várias pessoas, a maioria homens. Me desejavam com o olhar, um deles chegou em mim, perguntou se eu queria beber alguma coisa.
- Pode ser comer?
- Claro, o que você quiser, linda.
Devorei duas coxinhas de frango e uma coca-cola de latinha. A fome diminiu, o fogo do tiozinho aumentou, começou a passar a mão em minha coxa por debaixo da mesa.
- Preciso ir ao bamheiro.
O banheiro fica fora do bar, o homem foi ao balcão buscar mais uma cerveja, aproveitei a desculpa de ir no banheiro, corri de novo.
No centro da cidade à noite tem cada coisa e pessoas, impressionante! Parei de correr na avenida, andando ao lado de moças na esquina, com poucas roupas, certamente prostitutas. O rapaz que conversava com uma delas me olhou como se avaliasse um produto para pôr em sua vitrine, gostou do meu corpo, veio até mim.
- Com a roupa certa, você pode se dar bem por aqui. O quê acha?
- Não, obrigada.
- Moça é perigoso andar sozinha pela rua, eu posso cuidar de você se trabalhar pra mim. Setenta à trinta, depois que fizer clientes e me pagar o prejuízo, meio-à-meio.
- Já disse não.
- Olha aqui vadia, com quem você acha que tá falando?
Segurou firme em meu braço, parei de andar, o encarei. Nesae momento chegou um rapaz, vestia calça e blusa impermeável, pingava fraco, chuva.
- Deixa ela ir, ela tá comigo, mano.
- Ah, me desculpa.
Me soltou depressa.
- Sobe duas ruas, número 171. Albergue, vai pra lá menina.
- Obrigada.
Por quê ele me ajudou? Parece que ele tinha mais poder que o outro, não precisava me pedir nada, se me quisesse com ele como mulher, não ia ter esforços.
Segui o caminho indicado. Albergue feminino, chovia muito, eu estava destruída, quase descalça, o vestido rasgado pela correria, os cabelos não tem nem explicação.
Toquei a campainha, uma senhora idosa veio abrir o portão, segurava um guarda-chuva em sua cabeça, me deu um. Eu já estava encharcada de chuva, peguei, abri, entramos.
Era o horário da janta, uma mesa imensa de gente com roupas velhas, rasgadas em alguns lugares, mas seca, quente. Comiam uma espécie de caldo amarelo, arroz e carne de panela cozida. Na caneca de plástico não deu pra ver o que bebiam.
Uma mulher mais jovem, com um crachá de assistente social, trouxe roupas, toalha e uma escova de dentes para mim. Não houve conversa, me deu as coisas e mostrou onde ficava o banheiro.
Pude lembrar como é maravilhoso um banho quente. Shampoo de marca nunca usado por mim, fiz o milagre que pude no meu cabelo. Dez segundos depois de lavar o cabelo do creme, tirar a água suja do corpo, a água do chuveiro parou de cair. Na porta um papel colado, banho: 10 minutos.
Horários, uma regra que eu tive que aprender a seguir.