Resumo do primeiro mês no Albergue, focado no trabalho. Como eu era obrigada a trabalhar para poder ficar no Albergue, depois de tomar o café da manhã (1 pão com manteiga, um copo de leite com café), Silvana me levou para um lugar aonde se faz a carteira de trabalho.
Ficamos lá por mais de duas horas até eu ser atendida, só que faltava a bendita da foto 3/4. Silvana pagou para mim fazer, isso não era obrigação dela, ela estava sendo muito legal comigo. Não que ela estivesse querendo algo em troca, estava fazendo de bom grado, para ajudar. Voltamos ao mesmo local, dei a foto à moça, em alguns minutos tive minha carteira de trabalho em mãos.
Passamos em uma agência de emprego filiada do governo, mais uma horas na fila. Estava lotado, a vida de ninguém anda fácil nesta cidade.
- Você tem o segundo grau?
- Sim. - Respondi ao rapaz que nos atendia.
- Deixa eu ver sua carteira de trabalho. - Pegou, olhos as páginas, devolveu. - Primeiro emprego... Deixa eu ver aqui.
Olhou para a tela do computador, vários cliques no mouse, sua expressão facial não era das melhores.
- Poucas empresas dão oportunidades para o primeiro emprego. Tenho duas vagas, uma para ajudante de açougue e a outra para entregador de supermercado. Os dois exigem carteira de motorista, A e B.
- Não tenho.
- Sinto muito, não temos nada, no momento. Seu cadastro foi feito, você pode entrar no site do CINE usando este número.
Me deu um papel. Saímos de lá por volta de 13:40, faltava muito tempo para eu voltar ao Albergue.
- Quer que eu te deixe em algum lugar? - Perguntou Silvana.
- Faculdade Pitágoras.
- Faculdade?
- Sim, aquela perto do centro. Vou cancelar minha matrícula.
Silvana não perguntou mais nada. Se ela fosse saber da história de cada um dos internos no Albergue, iria ter que mudar de profissão, ser psicóloga.
Sai do carro, senti uma leve tontura, encostei na lataria do carro.
- O quê foi?
Silvana saiu do carro apressada, me amparou antes que eu caísse.
- Deve ser a pressão.
Me ajudou a sentar em um banco, no ponto de ônibus ao lado da faculdade.
- Deve ser o calor, não se preocupe pode ir, deve ter compromissos.
- Sim, tenho. Só vou quando tiver certeza que você está bem, menina.
Menina, eu odeia que me chamem de menina, mas desaa vez não achei. Eita, o quê foi Rake? Silvana é casada, tem uma filha e, é 8 anos mais velha que você. Deixa a tiazinha em paz! Rhum!
Eu descutia com meus pensamensamentos, a verdade era, para uma mulher de 30 anos, com uma filha de 7 anos, Silvana estava um bom pedaço de mal caminho.
Que isso? Saí de mim pensamento!
Silvana foi ao bar o Point, trouxe uma garrrafa de água gelada e uma bandeja de massa, me deu.
Quatro bolas de sorvete, morango, flôcos, sensação, a última eu não defini antes de provar. Era milho. Nunca havia comido antes, gostosa até.
- Não devia gastar seu dinheiro comigo. Te prometo pagar tudo, quando eu começar a trabalhar. Quanto deu? Lá na carteira e agora.
- Relaxa, não precisa se preocupar. Melhorou?
- Sim. Muito obrigada.
- Ok. Agora preciso ir.
Ela foi me dar um beijo no rosto, eu virei sem querer, acabamos dando um selinho.
- Me desculpa, foi sem querer.
- Claro. Nos vêmos à noite, no Albergue.
Ela levou na esportiva, ainda bem. Eu gostei, gostei muito e queria mais, mas não podia.
Terminei de comer, bebi a água e fui para a recepção. Demorou para o porteiro me reconhecer naquelas roupas gastas, mal ajeitada em meu corpo.
- Senhorita Raquel Dias....
Ele realmente estava assustado.
- Sim, sou eu. Vim aqui para cancelar minha matrícula.
- O quê houve com você, menina?
- Por favor, não me chame de menina. Ah, aconteceu tantas coisas que quase posso escrever um livro ao invés de lhe contar. Posso falar com a Dra. Regina?
- Sim.
Regina é a reitora da faculadade.
Resumindo falei com ela e tranquei minha matrícula, se um dia eu pudesse continuar a faculdade teria que começar o segundo ano de novo.
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Tive uma carência de 10 dias para conseguir o emprego, no dia 8 Silvana me levou à um baracão, na saída da cidade. Ela tinha arrumado um emprego para mim. Sabe onde?
Em uma cooperativa de materiais recicláveis.
Dá para imaginar, eu, uma moça criada no luxo, mexendo no lixo?