Ele apareceu diante daquele bando de pessoas sofisticadas. Parecia uma cena de novela. O Alberto estava bêbado e com uma cara nada agradável!
- Desculpe a demora com a... – eu não acreditava no que via.
O Sandro deixou a bandeja cair no chão, tamanho foi o seu susto quando viu a presença do seu tio.
E agora? Ele será desmascarado diante de todos?
O Alberto fixava os seus olhos no Sandro. Seu ódio e raiva eram evidentes. O Sandro ficou sem chão... Seu corpo suava frio e ele ficou pálido.
- Você está bem Sandro? – perguntou a mãe do Mauro, vendo o nervosismo dele. Antes que ele respondesse, o Alberto começou o discurso.
- Ele está ótimo. – todos olharam para aquele homem velho e rabugento, e o Mauro foi o primeiro a não entender nada do que estava acontecendo. O Alexandre já tinha visto o Alberto antes, e tentou colocá-lo para fora.
- Como você é esperto, hein meu sobrinho? Quem diria que um dia eu ia te ver morando no Leblon, bairro mais rico do Rio de Janeiro! E eu que pensava que você fosse um bobão. – ele deu uma risada suja.
- Cala a boca seu porco! – o Sandro gritou e todos ali presentes ficaram chocados.
- Porco, eu? Vejamos... Será que esse bando de gente idiota sabe quem é você de verdade?
- O que este senhor está querendo dizer? – o patriarca da família se alterou.
- O que eu estou querendo dizer, é que este jovem aí – ele apontou para o Sandro. – Ele é um ex-presidiário e garoto de programa!
Ele jogou a bomba, no dia do aniversário do sobrinho. O Igor fez o impossível para conseguir o endereço daquela família, e alimentou a todo o momento, a vingança do Alberto contra o sobrinho, pois assim, seria a sua vingança também.
A mãe dos irmãos quase teve um troço, e o pai deles se voltou para o Sandro, com muita raiva no olhar. Só restou ao Sandro sair correndo dali, pois até mesmo o Mauro, já o condenava com o olhar.
Eu saí correndo daquela casa. Meu mundo havia desabado. Quando eu me sentia feliz, parecia que as coisas aconteciam contra. E agora? O que seria de mim? Eu me senti tão sozinho no mundo... Completamente desprotegido, feito um mendigo de rua. Eu corri o máximo que eu pude, e já sem forças, me joguei no banco de uma praça, e chorei tanto, que a única imagem que vinha em minha cabeça, eram a dos meus pais sorrindo pra mim. As pessoas me olhavam com pena, e eu tinha a certeza de que não iria suportar por muito tempo tanta dor.
- Ei! Não fique assim.
- Alexandre?
- Você achou mesmo que eu iria deixar você sair correndo daquele jeito e que eu não viria atrás de você?
- Me perdoa. Eu posso explicar. – o Sandro soluçava de chorar e estava tão agitado e nervoso.
- Xiiii... Não precisa. Algo me diz, bem aqui no meu coração, que você é especial.
Eu chorei ainda mais. Eu não acreditava que teria o apoio de alguém, muito menos dele.
- Você esqueceu de que eu amo você? Eu não sei muito sobre a sua vida, mas é só olhar para dentro dos teus olhos, que eu consigo ver o quanto você sofreu na vida. Muito mais do que o meu amor, é a minha vontade de cuidar de você. Eu estou aqui, e não vou deixar ninguém de machucar.
O Sandro chorava feito uma criança ingênua. Ele havia passado por tantas barreiras e teve de aprender a lutar sozinho, ainda quando era adolescente... E ele teve todas as oportunidades do mundo, para ter se tornado um bandido, um mendigo, ou coisa parecida. A fome que ele passou, não foi maior do que a sua fé de que um dia daria a volta por cima. Foram muitos, os inimigos em seu caminho: a fome, a violência, a dor, o desespero... E a sua única saída foi se render a prostituição. Mas ele nunca fez aquilo por prazer e sim, por uma necessidade cruel! Porque lhe arrancaram toda a esperança.
- Você é um verdadeiro anjo. Eu sinto um vazio tão grande no meu peito. É como se eu não existisse. Eu não aguento mais tanto sofrimento. – ele se atirou nos braços do Xandi, que o acolheu num aconchego tão bom.
- Não fique assim meu amor. Não vou deixar que você sogra mais. Hoje eu descobri que você é a razão da minha vida; e pode todos ficar contra mim, mas eu jamais irei abrir mão do amor que sinto por você.
- Eu também te amo muito. Eu tentei amar o seu irmão, mas o meu coração pertence a você. Não me deixa sozinho, por favor!
- Nunca! Olha pra mim. Nunca! Você é meu e eu não vou desisti de você.
Eles se beijaram em plena praça. O movimento já não era tão grande. Mais calmo, o Sandro resolveu abrir o seu passado para o Alexandre, e acabar de uma vez com os mistérios.
- O meu pai, Xandi... Foi um homem muito bem de vida. Ele junto a minha tia Carla, a que mora junto com aquele velho nojento... Eles abriram uma empresa de autopeças, e as vendas eram intensas. O faturamento era alto, e eu sempre estudei em escola particular. O meu pai era um homem querido no bairro onde morávamos, e também muito respeitado por todos. Essa minha tia, deu um jeito, para que homens batessem nele, até a morte; para que ela pudesse cuidar sozinha da empresa. Ela é uma mulher ambiciosa e ruim, assim como o tio Alberto.
- Meu Deus! – ele ficou chocado.
- Os dois tramaram a morte do meu pai. A minha mãe ficou tão depressiva, e eu ainda era um garoto. Eles deram um jeito de empurrar um cara chamado Adilson, para cima da minha mãe. No princípio, eu acreditei que ele fosse um cara bom. Eu já estava o aceitando como padrasto. Só que um dia, quando eu já tinha dezoito anos... Ele chegou em casa descontrolado, batendo na minha mãe, e quebrando tudo que encontrava pela frente. Eu estava com medo dele, e o pior aconteceu. Ele pegou uma faca na cozinha... O Adilson estava muito bêbado, e partiu para cima da minha mãe.
Naquele momento, o Sandro começou a chorar, dificultando a fala.
- Ele esfaqueou a minha mãe na minha frente, e ele ia me matar também, só que eu descobrir que ele guardava uma arma em casa, e por legítima defesa, eu o matei. Mas eu não me importava em ir pra cadeia... A cena da morte da minha mãe me persegue até hoje. Eu não consegui evitar.
- A culpa não foi sua. Eu sinto muito. – o Alexandre estava chocado com toda a história.
- Mas tarde, eu descobri, que mais uma vez, os meus tios estavam envolvidos na história, pois foram eles que apresentaram o Adilson a minha mãe, na intenção de roubar o pouco que ainda nos restou. Bom, eu fui preso por homicídio, mas conseguir provar minha inocência. Quando eu saí da prisão, eu me senti sozinho, largado, um lixo! E minha única solução foi ter que vender o meu corpo. Ninguém queria me dar emprego, e eu precisava sobreviver. Me perdoa.
- Eu não tenho nada que te perdoar. É você quem deve me perdoar, por eu ter te julgado no inicio. Oh, meu amor! Eu sinto tanto pelo que aconteceu com você.
- Os meus tios colocaram a empresa que o meu pai ergueu com muito suor, na lama. E agora, eles querem me perseguir...
- Agora você tem a mim. Vamos! A gente vai voltar em minha casa, e eu aposto que os meus pais irão te compreender.
- Eu to com medo. Eles nunca vão me perdoar. Seu pai é tão conservador.
- Foda-se! Eles vão ter que te ouvir, e se alguém te condenar, eu tiro você de lá, e a gente vai viver o nosso amor bem longe.
Ele me passou segurança. Eu me senti tão aliviado por ter contado toda a minha história. Ao lado do Xandi, eu criei coragem e adquirir forças para encarar o mundo se fosse preciso.
CONTINUA...
