Acordei com Rafael pegando na minha mão, ele me disse que mesmo sobre o efeito da anestesia eu estava um pouco agitado, fazendo expressões de medo. "Eu estava perdido, não conseguia fazer nada, era como se eu não fosse mais eu mesmo. Você me salvou.", eu falei enquanto olhava para o teto, apertando sua mão com força. "Como estão seus pés?" eu perguntei, agora olhando para ele, "Se você acha legal usar faixas nos pés, eu não acho, parece legal em jogos, mas na realidade é muito feio", ele falou rindo, "Haha, idiota, perguntei sobre a dor", "Está bem, só tenho um pouco de dificuldade para andar e os seus?".
Não havia sentido falar das minhas dores, não depois de tudo que ele fez por mim, não queria vê-lo desanimar, "Obrigado", foi o máximo que pude dizer sem derramar nenhuma lágrima, mas dessa vez eram de felicidade, ou alívio, de tê-lo ao meu lado, de ter alguém para me apoiar. Ele notou isso e nós permanecemos em silêncio até Roberta, a médica entrar no quarto, "Lucas, para vocês não ficarem sozinhos optei por dar alta aos dois amanhã de tarde e transferir vocês para um quarto duplo. Rafael, você deveria ter alta hoje, mas se alguém perguntar diga que teve um pouco de febre e eu pedi observação.". Adorei a notícia, realmente fomos levados para um quarto, chegando lá Rafael deu um jeito de juntar nossas camas, formando algo como uma cama de casal e me abraçou por trás com força, "Você quer falar sobre o pesadelo, Lu?", como eu falaria sobre tudo o que sonhei para ele? Resolvi mentir, "Não lembro de muita coisa Rafa, sei que me sentia muito mal, mas você estava lá para me proteger, como sempre esteve.", eu disse, virando para ele e o beijando na bochecha. "E-eu... Eu te amo muito Lu", ele me falava olhando para mim de uma forma estranha, em uma mistura de confusão e constrangimento, deitei em seu peito, escutando o batimento do seu coração, enquanto estivesse com ele sabia que estava protegido de tudo.
Enquanto meu irmão me fazia carinho na nuca e beijava minha cabeça, adormeci. Já era hora da janta quando acordei, Rafael estava sentado do meu lado e dois enfermeiros estavam no quarto, entregando nossos pratos e medindo a temperatura dele. "Você já está bem, Rafael", disse um deles, "Ótimo, então as únicas coisas que não estão bem aqui são as comidas", ele falou, fazendo todos que estavam no quarto rirem. Sempre foi bom com as palavras, muito melhor que eu, eu pensei enquanto começava a comer. Notei que um dos enfermeiros, baixo, cabelos pretos e olhos verdes, não tirava os olhos do meu irmão, e também não tirava um sorriso do rosto, aquilo me fez olhar com uma cara de desprezo para ele, que logo percebeu.
"Vocês não preferem quartos separados não? Teriam mais privacidade e talvez Lucas melhorasse mais rápido.", disse o enfermeiro que não parava de olhar para Rafael. Sério que ele falou isso? Olhei enfurecido para ele e depois para meu irmão, que também não parecia nada agradado coma pergunta. "Não, se quiséssemos teríamos pedido", Rafa falou sem nem olhar para ele, não consegui esconder a satisfação e dessa vez o enfermeiro olhava cinicamente para mim. "Tem certeza mesmo que não quer isso Rafael?", "Não! Já disse que não, pode se retirar por favor?!", ele falava com a voz alterada, quase gritando, raramente vi isso acontecer, o enfermeiro tinha irritado tanto Rafael que ele já estava ficando vermelho. Ambos enfermeiros saíram, "Quem ele achava que é? Ninguém nunca vai poder separar a gente, eu quero estar sempre do seu lado!", Rafael disse apertando minha mão com força enquanto olhava para a comida, eu o observava perplexo, sem entender o motivo para isso tudo, "Eu sei, Rafa" e encostei minha cabeça em seu ombro, sem conseguir fechar minha boca.
"Me promete que sempre vai estar comigo.", ele me falava beijando minha cabeça. Eu sempre achei que ele me protegia, que eu dependeria dele para o resto da minha vida, mas agora era ao contrário, ele estava lá pedindo para que eu nunca o deixasse. "Eu vou estar sempre ao seu lado Rafa, não precisa se preocupar, não importa o que aconteça.", eu falei segurando seu rosto para que ele olhasse para mim e com esforço consegui disfarçar minha preocupação. Depois que ele comeu fiz ele dormir alisando seu cabelo e seu corpo, como ele que sempre foi o mais forte ficou tão frágil? Na minha cabeça isso tudo foi culpa do que eu fiz na festa de Renan, de quando eu quase pulei do prédio, "Me desculpa Rafa, nunca mais vou falhar com você, eu prometo".
Depois de três semanas em casa minha mão já estava praticamente nova, nos meus pés nenhum sinal do que o vidro havia feito. Estava perto do Natal e a gente não tinha feito nenhum preparativo para quando nossos pais chegassem, mas Rafael já havia pensado nisso. Desci do quarto e encontrei várias caixas de enfeites de Natal, uma árvore no canto da sala, mas sem nenhum enfeite. "Você sempre gostou de arrumar a árvore, então deixei para você", Rafael apareceu atrás de mim segurando mais uma caixa, "Eu ia guardar esses de surpresa, mas como você acordou antes do que eu imaginava...", abri um sorriso imenso e fui pegar a caixa, mas ele não deixou, com medo de machucar minha mão. "Então vem arrumar comigo Rafa", eu disse envolvendo seu pescoço com meu braço e o puxando na direção da árvore. Passamos a manhã inteira montando tudo, combinamos que iríamos enfeitar a casa toda naquele diz, já que nossos pais chegaria em menos de uma semana, depois fomos almoçar. Mas eu precisava fazer uma coisa, descobri o que o motivo de eu ter me cortado e indiretamente ter cortado meu irmão queria, fui até meu quarto e peguei o celular e botei nas chamadas perdidas e passei pelo menos cinco minutos na dúvida se ligava ou não, resolvi ligar e esperei até ser atendido. "Alô, Lucas?", "Oi", eu disse sem muita paciência, "Já vi que nem em férias você melhora a educação, enfim...", "Você me ligou só para dar lição de moral ou tem algo para dizer?", eu interrompi, já estressado, mas não parecia surtir efeito. "Enfim, eu liguei para saber se estava tudo bem com vocês, na festa vocês ficaram muito estranhos e isso acabou me preocupando de certa forma", como assim, preocupando? Achei que a gente nunca mais quisesse ver um ao outro e agora isso? "Lucas? Você tá aí?", "Estou sim, Amanda. Agora preciso desligar, espero que você também esteja bem." e desliguei sem me despedir, já que não sabia como fazer isso. Passei meia hora no quarto, estático, ela que sempre demonstrou me desprezar agora estava preocupada, e não via motivo pelo qual ela me ligou e não ligou para Rafael.
Não comentei com ninguém sobre isso, passei a semana com Rafael, mal saindo de casa, até que chegou o dia da vinda dos nossos pais. "Rafa, rafa, acorda, a gente tem que arrumar a casa para o almoço, eles chegam às 13:00", ele se espreguiçou e se levantou de sua cama, vindo para a minha, onde se deitou e nos cobriu com a coberta, "A gente tem mesmo que se levantar? Estou morrendo de sono, me deixa dormir mais um pouco", "já são 10 horas, só mais 20 minutos então, e enquanto isso eu já vou arrumando as coisas", quando me levantei Rafa me puxou de volta para a cama e começou a me fazer cócegas. Perdemos a hora com isso e resolvemos encomendar um almoço e torcer para que chegasse antes dos nossos pais.
Já eram 12:30 quando um carro parou do lado de fora da casa, eram eles, nos fizemos uma festa com a chegada, eles adoraram como a casa estava, comemos conversando sobre as viagens deles, sobre o que aconteceu enquanto estavam fora, claro que omitindo a parte da festa de Renan, falei do acidente com o prato e eles ficaram preocupados, mas como já estava tudo bem, deixaram de lado o assunto. E assim se seguiu por duas semanas, ate que chegou o Natal, "Filho, acorda,chegou sua data favorita", era meu pai alisando meu cabelo, ele podia ser ausente, mas geralmente compensava com carinho, "Vem, vamos acordar o Rafa", ele disse rindo, já sabia o que faríamos, mesmo plano de sempre, deitamos cada um de um lado do meu irmão e começamos a fazer cócegas, só meu pai sabia exatamente como fazer no Rafael, que acordou gargalhando muito alto, fazendo nossa mãe correr para a porta, rindo da situação. Fomos para a praia, onde passamos o dia, depois voltamos para casa,nos preparando para a ceia em família, na casa da minha avó. Reencontramos nossos tios e primos, tanto tempo que não os via. Recebi uma mensagem, de Lúcio, me desejando feliz Natal, estava tão confuso que esqueci da promessa de não me afastar dele, "Lúcio, feliz Natal para você também! Espero que tudo também esteja bem com você, nos vemos quando voltar às aulas!" e para minha surpresa ele respondeu de forma totalmente diferente do esperado: "Talvez, eu tenho uma surpresa para você, guardei para presente de Natal, acredito que vá gostar. Amanhã eu te ligo para contar tudo.", essa curiosidade me tomou boa parte da noite, mas depois acabei esquecendo, conversando com minha família, comendo, trocando presentes. Ao voltar para casa recebi uma mensagem de Amanda, desejando feliz Natal, isso me deixou ainda mais confuso, por que ela tava agindo assim? E qual seria a surpresa de Lúcio que faria com que nos encontrássemos antes das aulas?