Pessoal, valeu mais uma vez por estarem aqui.
A cada comentário, mais uma motivação pra escrever.
Comentem o que gostem e o que não gostem pra eu ir alterando e ficando melhor.
Obrigado. :)
--
Antes que eu pudesse terminar ele me beijou. O beijo foi bom, incrível. Me senti amado, como há tempos não estava me sentindo. Foi tão bom que prolongamos o tempo e nem nos atentamos ao barulho dos Lamberi entrando no banheiro.
Tudo muito rápido, ouvi apenas o grito de Gustavo e o soco que ele deu em Raul:
- Que putaria é essa?
Raul, no chão, me olhava com surpresa ao perceber que não o defendi. Da cara de nojo de Antônio até a raiva de Gustavo, não conseguia dizer nada.
Gustavo foi pra cima de Raul, que dessa vez se defendeu. Acho que o soco dado em Guto doeu mais em mim do que nele. Quando vi Gustavo caído no chão, meu instinto foi mais rápido que meu raciocínio. Corri até Guto e fui ajudá-lo a se levantar. O que não deu muito certo devido a intervenção de seu pai, mais uma vez de forma grosseira:
- Tira a mão do meu filho, seu viado.
Gustavo só me olhava com raiva e eu conseguia ver no olhar de Raul suas dúvidas com essa história. Seu Antônio continuou:
- Eu sabia que esse menino era bicha. Vai continuar com essa amizade idiota, Gustavo? Daqui a pouco tá todo mundo comentando que você come esse viado.
E Gustavo não dizia nada. Já Raul...
- Não fala assim do Nuno.
- E o namoradinho vai defender?
Gustavo me olhava com tanto ódio que eu já chorava. Tudo podia ser evitado se não fosse a minha ideia de me esconder no banheiro. O medo de estar frente a frente com Gustavo me fez cair numa cilada. Quando vi que Raul iria prolongar a discussão, decidi falar:
- Eu peço desculpas, senhor Antônio. Não era minha intenção...
- Desculpas de merda. Eu não quero minha agência com viados se pegando no banheiro. Passa no departamento pessoal. Vai embora.
- Estou demitido?
- Claro. Ou meu filho vai defender o amigo baitola?
Gustavo nem pensou. Se levantou rápido e se aproximou com a maior raiva do mundo:
- Some da minha frente, Nuno.
Ele saiu do banheiro com seu pai buzinando em seus ouvidos e eu fiquei lá, estático. Raul só me olhava com um olhar indecifrável:
- Eu acho que tô entendendo tudo.
- Não, Raul. Não tira conclusão precipitada.
- Não é precipitado. Eu tô te avaliando há tempos. Nuno, me diz que é mentira.
- Eu não vou falar nada.
- Então eu também não. Vou embora.
Não consegui deixa-lo ir. Eu gostava demais do Raul pra ver seu olhar decepcionado sobre mim.
- Calma. Raul, espera. Eu vou só pegar as minhas coisas e a gente vai pra algum lugar, conversar.
- Eu não sei se quero conversar com você.
- Por favor, Raul.
- Eu amo você, Nuno. E me dói muito saber que você se prestou a isso. Com um cara casado. Isso é horrível.
- Me escuta, eu só te peço isso. Não me deixa sozinho.
Ele se balançou com meu pedido e aceitou me esperar. Fui até a mesa e juntei as poucas coisas que precisaria e fui descendo. Na espera pelo elevador pude ver Guto me olhando de sua sala, agora de vidro, com a marca do soco que Raul lhe deu na boca. Seu olhar me consumia, mas eu estava aprendendo a ser egoísta, a pensar em mim.
Quem merecia minha atenção e justificativa era Raul, que foi homem pra me defender, mesmo quando nem eu mesmo era capaz disso.
Fomos até uma lanchonete em silêncio. Eu chorava em silêncio por perceber que havia perdido Guto, afinal era um ciclo que se encerrava. Mas chorava mais por medo de perder a amizade de Raul.
- Começa.
- Raul, eu quero te pedir desculpas pelo que ocorreu na agência.
- Não foi pra isso que eu te trouxe aqui.
- Não, não foi. Eu quero te contar tudo. Se depois você não quiser mais falar comigo eu vou entender, mas quero que pense no meu lado da história.
Contei tudo pra ele. Entre expressões nervosas e calmas, ele pareceu ter entendido meu lado. Percebeu como me tornei marionete de Gustavo, que conseguiu me envolver numa trama que se desenhava perigosa, mas ao mesmo tempo excitante.
- Me entende, Raul?
- Eu... Eu preciso pensar. Sozinho.
- Claro. Eu vou entender se você se afastar de mim.
- Agora é sua vez de não tirar conclusões. Quer uma carona até em casa?
- Não. Eu vou ficar um pouco aqui. Preciso me acalmar pra encontrar meu irmão.
- Ok. Eu te ligo.
Me deu um abraço fraterno e se foi. Fiquei olhando-o sair e percebi que ele havia me entendido. Raul era sem dúvida um grande amigo.
De um carro parado em nossa frente saiu quem eu menos conseguiria ver naquele momento.
Como um trovão, Gustavo se colocou na minha frente, aos fundos da lanchonete.
- Agora você explica pra mim. Que palhaçada foi aquela?
CONTINUA...