Naquele ano eu começaria a fazer o primeiro ano do Ensino Médio. Então, além de todas as mudanças que eu já estava passando em minha vida, eu também iria mudar de turma, mudar de escola, mudar de colegas... era tudo muito novo demais! Muita coisa para digerir em tão pouco tempo. A sensação de insegurança era constante.
É preciso ressaltar que na minha antiga cidade, eu estudava com os mesmos colegas desde a primeira série. Então, todos se conheciam e eram amigos um do outros, afinal, havíamos crescido juntos. Os professores eram como tios e tias, pessoas da família que acompanhavam o seu desenvolvimento com atenção e carinho. Ainda havia um certo clima de infância e inocência naquela escola colorida em que eu passei os meus primeiros anos.
Bem, a nova escola não tinha nada a ver com isso. Das paredes cinzentas, aos professores apáticos, aos alunos desinteressados. Eu era o mais novo da turma e parecia haver um abismo entre eu e meus colegas.
Uma turma cheia de adolescentes com os hormônios fervendo, a sala quase cheirava a sexo. E eu, que nunca havia falado de sexo abertamente, ficava constrangido e espantado com as conversas dos meus novos colegas.
No início eu fora tratado com curiosidade e euforia, por ser novo, uma cara desconhecida, carne fresca, ter vindo de fora, virei o sabor da semana. Os colegas revezavam em me mostrar a escola, as meninas esforçavam-se em serem simpáticas e interessadas, mas com o passar do tempo, por não preencher as expectativas deles, fui deixado de lado e tratado com indiferença.
A verdade é que eu estava perdido demais, atônito demais para lidar com aquele tipo de atenção, simplesmente recuei e me senti acuado com todas aquelas pessoas me cercando. A diferença entre eu e aquelas pessoas era gritante, não me adaptei a elas, e elas não se adaptaram a mim, ao contrário, me afastaram e talvez até desprezaram, por não me compreenderem, ou era eu que era incapaz de compreendê-los.
Fiz alguns amigos, mas passado algum tempo, eu inadvertidamente fazia algo que os afastava ou que os magoava, acabando assim com a amizade. Tipo furava trabalhos importantes, deixando todo o grupo na mão. Certa vez cheguei a praticar bullying em um cara que até então era amigo meu, usando de palavras depreciativas.
Me envolvi em brigas várias vezes, físicas e verbais. Já bati boca com professores em casos de ir parar na direção da escola. Minha mãe era várias vezes chamada pra conversar com a orientadora, com a diretora, com a pedagoga, e por aí vai. Sei que ela cortou um dobrado, pois eu estava em uma fase difícil. Talvez a ausência do meu pai e todas aquelas malditas mudanças estivessem realmente mexendo comigo.
Apesar disso, havia um colega que era diferente comigo. O nome dele era Tiago. Desde o primeiro dia, ele tinha me dado atenção e tudo o mais. Me abraçou pelo pescoço e saiu me apresentando a escola. Conhecia tudo e todos, estava no primeiro ano, mas era uma das figurinhas mais populares daquele lugar. Todos gostavam dele.
Lembro-me de uma vez que, enquanto a professora tinha desaparecido em algum telefonema escuso, ele havia subido em cima da cadeira e começado a dançar em frente da turma. Só a zueira, que óbvio, não tem limites. Era o tipo de cara descolado que todos adoram, algo como Ferris de Curtindo a Vida Adoidado.
Nunca fomos próximos, mas volta e meia ele chegava perto de mim e me puxava conversa do nada, tentava me empurrar para outra menina, falava que o sonho dele era jogar leite condensado e chupar a menina mais linda da sala todinha. Eu só ria e tentava imaginar porque aquele garota estava fazendo contato comigo, um alienígena assistindo espantado e boquiaberto ao espetáculo humano.
Mas Tiago, assim como o meu amigo Pedro, me deixava confortável e desarmado, as tentativas dele de me fazer rir e de me conhecer mais me deixavam achegado, próximo, inclinado a sua pessoa. Me fazia sentir bem.
Agradeço os comentários, valeu mesmo. Esperem por mais publicações