Mais uma parte aqui. Espero que estejam gostando. Na próxima parte encerra-se a introdução e a história surge a partir do que foi exposto na primeira parte, com o casal curtindo férias na praia.
Brigado e até mais.
--
Como um trovão, Gustavo se colocou na minha frente, aos fundos da lanchonete.
- Agora você explica pra mim. Que palhaçada foi aquela?
Eu apenas queria fugir do confronto. Me levantei e segui andando. Mas ele queria uma explicação, ainda que estivesse errado, desde o início.
- Anda, Nuno. Começa a falar.
Sua voz bem perto do meu ouvido se conectava com a força da sua mão prendendo meu braço ao seu corpo. Ao me fazer sentar, fui obrigado a falar, mais uma vez no mesmo dia.
- O que você quer que eu fale, Gustavo?
- Você acha bonito ficar me traindo com aquele cara? Ainda mais dentro da agência?
- E a gente tem o quê? A gente namora? A gente é um casal?
- Não importa o que a gente é. Você é meu.
- Mas você não é meu, Gustavo. Você é da sua mulher e eu não tenho nenhuma importância.
- Você fez isso tudo por ciúmes?
- Eu não planejei nada. Se eu quisesse ficar com o Raul eu já teria feito isso há muito tempo.
- Mas preferiu fazer na minha frente, não é Nuno? Tudo isso por um ciuminho. Coisa de viado baixo.
Suas palavras tiveram o efeito de mentos na coca-cola. Como nunca havia feito na minha vida, explodi.
- Eu sou o quê? Fala de novo o que você acha que eu sou.
Eu disse isso alto, já chamando atenção das pessoas que estavam na lanchonete.
- Fala baixo, porra. Ninguém precisa saber do que tá acontecendo.
- Repete o que você disse, Gustavo.
- Você tá parecendo uma bichinha revoltada. Eu não sou como você. Eu precisei me casar, mas isso não muda nada.
- Realmente. Você continua do mesmo jeito: um imbecil que segue as ordens do papai e vai viver infeliz porque não consegue assumir o que sente.
Ele respirou fundo, já vermelho de raiva. Sabia que havia tocado na sua ferida. O fato de ser mandado pelo pai era algo que ele não conseguia assumir, ou suportar.
Continuei caminhando e ele foi atrás de mim. Passei no caixa, paguei a conta e ele me vigiando. Ao chegar na calçada, fui atirado pra dentro do carro e, por estar trancado, não consegui sair.
- O que você quer comigo ainda?
- Nuno, você é meu. Será que você não entende isso?
- Você que não entende, Gustavo. Olha onde eu cheguei por sua causa. Me coloquei naquela agência, ouvi desaforos do seu pai, fui até padrinho do seu maldito casamento. Quer mais o quê? Que eu seja babá do seu futuro filho?
- Eu tô fazendo isso por nós dois também. Eu preciso manter o nome e o dinheiro da minha família.
- Então quando você sentir a minha falta, pensa no dinheiro e tudo se resolve. Agora me deixa ir.
Mesmo me olhando de forma estranha, consegui que ele destravasse as portas e saí do carro. Andei até em casa e encontrei meu irmão. Tive que dar a notícia.
- Dani, preciso te falar.
- O que foi? O que Gustavo aprontou?
- Nada. Eu que aprontei. Me livrei dele e tô me sentindo mais leve que nunca.
Naquela noite meu irmão até fez questão de comemorar. Pediu uma pizza e meu olho só estava no meu celular. As ligações de Gustavo não paravam, mas que eu queria ver no visor do celular era o nome Raul! Em vão.
Ele sequer me mandou uma mensagem e eu percebi que era melhor deixar que ele me procurasse. Tudo era difícil pra mim, imagine pra ele. Enfim, tudo estava entrando nos eixos. Agora era procurar meu pai e desvendar o mistério da minha família. A faculdade estava apertada e eu daria conta de seguir, agora sem o Gustavo, pra facilitar as coisas.
Cheguei ao meu estágio e comecei a trabalhar. Era tudo que eu queria e precisava: usar a teoria da faculdade na prática com crianças com câncer. Sempre tive um amor por crianças e eram elas que me animariam de agora em diante. Raul, sumido, ficava nos meus pensamentos tanto quanto Gustavo. Porém, de formas diferentes.
Meu irmão, curioso, buscava possíveis informações na internet sobre nosso pai, ainda que os elementos fossem poucos.
Eu até entendia sua motivação, afinal ele não tinha nenhuma imagem desse homem, enquanto eu me lembrava de algumas coisas, principalmente da vez em que ele agrediu nossa mãe.
Ao encontrar Raul na faculdade, era como um ritual. Ele me cumprimentava e seguia seu caminho para o outro lado da sala. Ao fim das aulas, dava um tchau educado e nos víamos no dia seguinte. Não me sentia confortável em cobrar nada dele, nem uma amizade.
Assim que ele saiu, fui atrás dele para que eu não perdesse o ônibus pro estágio. Ao chegar na porta da faculdade, ainda próximo de Raul, vejo Gustavo parado encostado no carro.
- Vamos dar uma volta, Nuno. Precisamos conversar.
- Eu preciso ir pro estágio, Gustavo.
- Eu levo você.
- Acho melhor eu ir sozinho.
- Anda Nuno. Não tenho a tarde toda. Entra e a gente conversa.
Ele se aproximou e antes de encostar em mim, Raul me puxou para seu lado.
- Ele já disse que não quer ir.
- Meu papo é com ele, idiota.
- Cai fora playboy. Ele vai comigo.
- Fala Nuno. Com quem você vai? Comigo ou com esse merda aí?
CONTINUA...