Acordei zonzo. Segurei-me na barra da cama, onde senti uma pontada em minha mão esquerda, mamãe estava do meu lado. Olhei ao redor, não estava mais na enfermaria, que fedia muito Brilux.
Agora estava num apartamento arrumado que cheirava Bom Ar, tinham dois criados-mudos, um de cada lado do leito. Estava com soro na veia da mão esquerda e estava com uma máscara de aerossol, que logo tirei. O quarto era branco e tinha duas portas lisas, uma era a entrada e a outra era do banheiro. A janela tinha cortina com peso nas pontas, típico, o peso era coberto pelo mesmo tecido da cortina. Não sentia mais meu pé pesado e sujo como antes...
— Filho, filhinho estás bem? — disse mamãe saindo da hipnose televisiva, se levantou da poltrona reclinável. E fechou a válvula de ar.
— Ãn?! — Minha cabeça doía, não me lembrava de nada. —, o que houve? — Fechei meus olhos com força e abri-os. — Mãe chama a enfermeira para tirar o soro!
— Você comeu uma torta de camarão. — disse ela em pé. Ela afagava meus cabelos. — Você não sabe que não pode?! Sorte sua ter aquele colega, muito simpático por sinal. Que é médico, não? Bom, vou lá ao posto de enfermagem.
Mal ela sabia que eu estava ali e desse jeito por causa dele...
— Ah, sim, foi um descuido meu. Cadê ele?
— Já acordou simpático, não? Ele foi comprar um lanche para mim. Um amor ele, não? O que você veio fazer aqui, filho?
— Hahahaha — Sorri com ironia — É, ele é. Vim vê-lo e fomos lanchar. — Me ajeitei na cama. “Nunca mais vou comer nada com ele!”, pensei. — Mãe, quero ir para casa, já tô melhor!
— O médico tem que te dispensar. Mas eu — disse mamãe.
— Mas eu quero ir! — Me balancei tomando o maior cuidado possível com a minha mão com soro.
Augusto abriu a porta:
— E ai, como tá meu querido...? — Virei o rosto.
— Ah, acordo agora. Com as mesmas manhas...
— Mãe, vai lá falar com o médico!! Quero ir tirar esse soro e ir para casa (ahhhhhhhhhhh).
— Tudo bem, vou lá, mimoso!!
Mamãe saiu do quarto. Augusto se encostou ao meu lado e começou a passar a mão na minha perna. Ignorei-o, fiquei olhando para a TV.
— Tá com raiva de mim? — falou com a voz bem sensual.
— Para!
— O que foi? Vai me fala! Você que me disse “Surpreenda-me!”.
— Tu brigaste comigo porque eu tava passando mal!! E ainda vem reclamar? Vá à merda!
— Ei, eu errei, mas você errou mais. Não me avisou sobre a alergia!
— Agora eu tenho culpa de ter alergia? Pelo amor!
— Ei!, Amor, eu não tô dizendo isso! — disse carinhoso — Eu tô falando que você deveria ter me avisado! — Chegou mais perto com o intento de me beijar, mas virei meu rosto.
— Amor? Como assim? Por acaso eu entrei numa semiconsciência e disse que te amava?
Mamãe entrou no quarto com uma enfermeira. Augusto fingiu que estava analisando meu pescoço.
— Não, não há nenhuma vermelhidão. — Se afastou.
— Nossa, você não sabe o quanto isso dói. — disse à enfermeira.
— Tá doendo? Estranho, não devia. — disse a enfermeira.
— Não, não está. Mas não gosto de ficar com essa coisa na mão!
— Tudo bem, quietinho e já, já passa. — falou como se eu fosse um idiota.
— Ô, filho, é só uma picadinha — disse mamãe quando gemi um pouco.
— Então faça nela também enfermeira!! Pode fazer, bora ver a picadinha — disse ainda com o olho fechado. Ouvi um risinho perto da porta e depois a porta se abriu, senti mais duas pessoas dentro do quarto.
— E ai, cadê meu filhão corajoso? — perguntou o papai.
— Ausente no momento. — respondi abrindo o olho, quando a enfermeira colocava o algodão e esparadrapo. Colocou o que restava do soro numa bandeja. E saiu.
Vi um sorriso lindo, ignorei os demais. Olhei-o com tanta ternura, meu coração disparou.
— E ai, cara, tudo numa boa? — disse a voz gostosa, suave e máscula de Ricardo.
— Tudo indo. Visitando-me é? — Suspirei, mas logo tossi disfarçando, lembrando-me os demais presentes.
— Tava fazendo umas negociações com a empresa do teu pai. Mas ai, avisaram-no que estavas aqui e vim visitar.
— Verdade, é, pai? Coisa grande vem por ai? — disse com um sorriso no rosto.
Notei uma carranca particular no canto perto da porta que quase fora esmagada pela porta que se abrira.
Meu pai afirmara e rira.
— Olá, vim aqui dizer que nosso paciente que tem medo de injeções já esta de alta. — disse o médico, sorrindo.
— Graças a Deus!! — exclamei com as mãos para cima.
— Mas não se esqueça de reparar no que vai comer! — disse o médico.
— Então vamos! — disse papai girando o chaveiro por entre os dedos. Todos saíram com meu pai. Eu fiquei sentado na cama olhando para a figura carrancuda, meu pai falou: — Vamos Henrique ou quer ficar aqui? — Meu pai estava de olho em Augusto e seu interesse súbito por um paciente.
— De jeito nenhum, mas já vou! — respondi.
— Vê se não demora!
Todos saíram. Augusto fechou a porta
— Ei, olha sei que podia ter te encrencado. Muito obrigado mesmo, por me aturar. Sinceramente, eu só vim trazer seu jaleco — Tirei um jaleco branco e com seu cheiro (Não sei se aquiloera verdadeiro ou falso). — Eu não quero um relacionamento contigo Augusto.
— Vamos tentar? Eu te quero! Quero te beijar, te agarrar, vem cá vem. — Ele chegou bem perto de mim, pude sentir seu corpo quente. Pouso o jaleco ao meu lado.
— Eu não sei... — Encostei minha cabeça em seu ombro. Seu perfume mais forte e amadeirado. Passei a mão por sua cintura e senti seus gominhos, enlacei ele mais para perto e fiquei com a cabeça em seu ombro.Tão bom...
Ricardo apareceu na porta.
— Desculpa aê, mas Henrique seus pais já foram. Eles me falaram para te levar para casa. — Ele notou que algo estava acontecendo, senti que Augusto ficara tenso; Augusto sabia o que eu sentia por Ricardo.
— Perai, cara. Ele já vai ou, deixa que eu levo ele.
— O pai dele me disse que não era para deixá-lo só e que era para levá-lo daqui. — Ricardo foi direto.
Eles se estranharam.
Own, dois gatinhos se enfrentando por mim!! Opa, vou me meter!
— Tchau, Guto. — falei pulando para o lado de Ricardo.
— Henrique, deixa que eu te levo! — falou ele num tom meigo.
— Vamos, Henrique. — disse Ricardo na porta de camisa e calça social, a camisa enrolada até o inicio do antebraço colada em seu bíceps.
— Não, tudo bem, eu irei com Ricardo, tchau! — Dei um sorriso e fui com Ricardo. Ele ficou chateado, percebi por sua expressão.
— Desculpa. — falou Ricardo.
— Por quê? — perguntei virando-me para ele. Foi até o elevador e apertou o botão. O engraçado é que eu ficava quente, realmente quente perto de Ricardo.
— Por esse climão e ‘tals’.
— Desculpa, mas eu não uso elevador. — falei indo à escadaria.
— Tudo bem, vamos de escada. — Mal ele disse isso e eu já estava empurrando a alavanca da porta da escadaria para entrar.
Ao contrario da escadaria do HGNSF, esta era escura ao entrar, mas logo se acende a luz graças ao sensor de presença, não existiam janelões lá, somente receptáculos, um a cada andar, com suas lâmpadas fluorescentes. Este hospital parecia ser tão antiquado, tão arcaico, sei lá, me lembrava o Magnum Hospital of England enquanto estava com anemia e viajei para o UK. Em silêncio, chegamos ao subterrâneo, quase tropecei e ele me segurou, soltando o seu costumeiro “opa”.
— Obrigado.
— Beleza, cara.
Fiquei ofegante. Sim, era esse jeito mulecão dele que me atraia, meu avesso. Falava gírias, jogava futebol, bebia, curtia reggae e todos os gêneros musicais menos o velho e pop que amo, até este às vezes ele escutava. Este estava sendo substituído pelo jeito do Seu Frederico, seu pai correto que mais parecia meu pai. Ele tinha o jeito de meu pai e eu tinha o jeito do pai dele.
— Cara, foi ‘mals’ ai, qualquer coisa, se te interrompi em algum lance, viu? — disse ele meio triste ao se lembrar de Augusto.
— Não, muito pelo contrario. Eu que me desculpo por te dar esse trabalhão. — falei sem graça.
Ele desativou o alarme de seu carro Citroën DS3 com as janelas com películas negras. Abriu a porta para mim e entrei.
— Sério, foi muito ‘mals’ — disse ele entrando e batendo a porta do carro.
— Sério digo eu, não grila Ricardo.
— Não grila?? Ahahahahahah — riu ele — ‘Mew’ tu me lembrou meu velhinho que tá lá em Goiás.
— Teu avô?
— É — disse ele ainda rindo.
O telefone dele vibra. Olho para a tela do telefone e vejo a foto de Ricardo e Thaís – a vadia- fiquei emburrado. Ele percebeu.
— Que droga! Eu não quero falar com ela, mas ela insiste! — disse ele irritado apertando no botão ignorar. Sua voz se tornou áspera e mandona, bem grossa, lembrei-me do meu sonho com ele. Fiquei duro, queria agarrá-lo ali mesmo.
Estávamos parados no sinalGente, acho que vocês perceberam e peço-lhes que me desculpem por esse erro ENORMEEEEEE no nome da personagem do vizinho, para confirmar é RICARDO. Desculpem-me, irei ajeitar! Meu povo o próximo capítulo será um elo de ligação.
Beijos a Caduuh°, Fill, Thiago Silva e também para meus leitores anônimos !!