A Casa do Sol Nascente - 01
Nova Orleans – 12 de Dezembro de 1982
“There is a house in New Orleans
They call the Risin' Sun
And it's been the ruin of many a poor boy.
And God, I know I'm one”
- Seu próximo cliente te espera no quarto 13. – disse Nazaré empurrando o pequeno Nico em direção do corredor.
Ele começou a caminhar pelo corredor, agarrado com seu pequeno coelho de pelúcia que foi nomeado de Tonton. Nico sabia que não podia confiar em ninguém, a não ser em Tonton, Claro! Seu coelhinho era seu melhor e único amigo e nesse momento só o seu abraço de algodão que o esquentava do inverno, já que suas roupas – ou o que ele podia chamar de roupas – estavam em farrapos.
O jovem Nico, timidamente, para em frente a uma porta com o número 13 escrito em tinta branca, olha para o rosto de Tonton e o abraça mais forte, fechando os olhos, dá duas batidas na porta de madeira velha.
- Olha só quem está aqui para alegrar o titio. – o governador abria um sorriso de dentes amarelos. Na verdade, nem era o tio de Nico, era somente mais um velho, pedófilo e tarado que queria se aproveitar do menino. Ele ia para a Casa sempre que podia, dava uma desculpa para sua mulher que fingia não saber de nada em troca de joias, os eleitores de Luisiana nem imaginavam o passatempo doentio do governador.
Ao abrir os olhos, o olhar do pequeno Nico só conseguia olhar para a barriga saliente e peluda daquele velho, precisando levantar sua cabeça para poder encará-lo.
- Como o senhor ordenou, eu vim para te satisfazer. – A criança pronunciava aquilo de modo robótico, como se fosse um texto decorado. Extava explícito o seu medo na fala.
- Bom garoto. – o governador passava a mão nos cabelos do menor.
Nico estremeceu com o toque.
- Shi! Não precisa ter medo, não é sua primeira vez, o titio vai cuidar muito bem de você – o pedófilo tirou a mão da cabeça de Nico e pegou o coelho que o menino estava agarrado.
- Você não vai precisar disso aqui. – E jogou o animalzinho pelo canto do corredor.
- Vamos que hoje o você e o titio vão brincar muito hoje. – Ele puxou Nico enquanto o pequeno anjo olhava para trás derramando uma lágrima dos olhos ao olhar Tonton caído no chão e ao perceber as trevas daquele quarto lhe puxando mais uma vez para suas brincadeiras doentias. Esperança, amor, calor. Tudo ficava para trás à medida que a porta era fechada.
Nova Orleans – 12 de Dezembro de 1994
Enfim o lobo arrancou a pureza do cordeiro.
Bruscamente, Josh segurou Nico firme pelo braço, e subiu com ele para o quarto 13. Prazer e dor, recompensa e punição – Nico sabia que o nome de seu cliente não era Josh, mas na Casa era costumeiro os clientes viverem uma vida dupla. O doce sabor do prazer encobria qualquer moralismo da sociedade.
- Vou mostrar o quanto pode machucar. Vou lhe apresentar a volúpia que mora na dor. Está preparado?
Nico balança a cabeça, já decidido, ficando vagamente atordoado, sentindo o sangue fugir do seu rosto.
Eles adentram no quarto e, ainda segurando seu braço, pega o que parece um cinto da estante ao lado da porta, depois o leva para o banco de couro vermelho na outra ponta do quarto.
- Debruce no branco – Josh murmura com doçura.
Nico debruçou-se no couro velho e rasgado. Ele estava só de roupão. Agradecia mentalmente por não ter que tirar a roupa do ruivo masoquista.
Apertou seus olhos e respirava pesadamente, esperando a ardência lhe invadir. Josh levanta a barra do roupão do submisso e acaricia delicadamente sua bunda, passando as mãos quentes nas duas nádegas e descendo até o alto das coxas.
- Você é tão sexy, você é meu bonequinho, meu objeto de prazer. – Sua voz mudou de tom, algo monstruoso e dominador estava tomando conta daquele homem.
O jovem aperta o canto do banco. Estava mais preparado que tudo para o golpe. E ele veio com força batendo em suas nádegas arredondadas. Nico grita automaticamente aspirando uma enorme tragada de ar.
A risada rouca e maníaca do possuidor passava como uma corrente elétrica, intensificando a agonia.
Ele torna a bater, e a dor lateja e ecoa ao longo da correada.
- PUTA MERDA – Nico soltou.
- Eu não mandei você falar, objeto! – Josh esbravejou. A respiração dele está ofegante e áspera enquanto a de Nico era quase inexistente. Mais uma correada.
As lágrimas começaram a brotar de forma inoportuna. Pela quarta vez a correia torna a estalar, agora as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Nico não queria chorar, não gostava de mostrar fraqueza. Ele bate de novo.
Seus gemidos eram engasgados, estrangulados. Mais uma correada. Sua bunda estava pegando fogo. Nico o escuta largar a correia atrás dele. Ele o pega pelo braço novamente e o joga na pequena cama no centro do quarto. Arranca sua roupa e o roupão de Nico, montando em cima dele. Seus dedos passeiam lentamente pelo corpo, levantando suas pernas e introduzindo dois dedos. A dor nas nádegas reclamou, mas ele ignorou apenas para terminar isso logo.
Ele tira a mão e pega um envelopinho de papel laminado na mesa da cabeceira. Põe um travesseiro embaixo do corpo de Nico e desenrola a camisinha em sua extensão. Dá uma palmada em sua bunda forte e antes que Nico reaja ele o penetra.
Não foi uma metida fácil, não houve delicadeza. Ele apenas o comeu como um animal. Nico não gemia, não sentia prazer, apenas ficou lá deitado com o corpo em estado vegetativo como um bom objeto de prazer esperando seu dono terminar o serviço. Josh não aguentou muito, afinal tinha ejaculação precoce. Gozou calado desabando em cima dele, ofegando.
O cliente já havia se arrumado enquanto Nico estava taciturno jogado na cama. Ele abriu a carteira e tirou uma quantia de dólares jogando sobre a cama. Não houve muita conversa, apenas Josh que ao sair do quarto falou um “até a próxima”.
Nico se levantou, pôs o roupão e se dirigiu à cozinha fim de beber água e algum analgésico. A dor estava muito forte e em seu ápice gemeu e se curvou, pondo as duas mãos no balcão. As lágrimas voltaram a aparecer só que dessa vez não foram silenciosas. Ele começou a chorar deixando toda raiva, agonia e descaso sair do seu corpo. Ele não era mais um garotinho de 8 anos, sabia que durante anos aguentou o pior tipo de gente com os piores tipos de fetiches, queria se libertar disso tudo, só esperava a hora certa.
- O que fizeram com você? – uma mão tocou gentilmente seu ombro.
Nico se soltou do balcão e abraçou o outro rapaz, derramando o resto de sua alma quebrada.
“Há uma casa em Nova Orleans.
Eles a chamam de Casa do Sol Nascente
E tem sido a ruína de muitos pobres garotos
E, Deus, eu sei que eu sou um.”