— Hum ... — Expressei, abrindo um sorriso.
O sinal abriu; a avenida, grande e vazia, o carro seguiu passando pelas paisagens escuras e belas da cidade, iluminadas só pelas luzes saídas dos postes de rua. O telefone rangeu contra o compartimento em que estava.
Paramos em mais um semáforo, onde já outros carros mostravam um sinal de civilização. Ele atendeu e colocou o fone.
— Oi. — Fiquei tentando escutar do meu canto o que se passava nesta conversa.
— Não, não tô perto. Tô levando o filho do Tadeu. — Quando escutei isto, estas palavras mataram meu coração.
“Bom, acho que sou só o filho do Tadeu... Tenho que me conformar. Tenho? Será que eu conseguiria mudar essa situação?”, pensei “Ele deve está falando com aquela vaca inchada, aff.”.
Olhando para aquela paisagem parada do transito; imaginei-me sentado em uma daquelas mesas num clube em que se dança música clássica. Estava olhando os casais valsarem. Ele aparece, pegou minha mão que estava em cima da mesa me levantou, me levantou e começamos a valsar. Olhamos-nos e de repente estávamos sós, eu e ele valsando.
A conversa ao lado voltara e me retirara bruscamente de meu querido transe.
— Sim, o menino do quarto da frente. — Ouvi um berro vindo do fone. Já estávamos perto do condomínio, o carro havia entrado em movimento e eu nem notara este mínimo detalhe.
O transe foi tão profundo que se não fosse mais uma vez a tosquice do Ricardo, eu ainda estaria lá naquele sonho, sim realmente aquilo só poderia ser sonho... (Suspirei).
— Ei, cara te acalma , relaxa.
— Tá, vem logo então, antes que seja tarde — Ele riu, senti seus olhos sobre mim.
“Não é ela que te enche? Porra que ridícula esta droga de situação...”, pensei.
Estávamos adentrando os portões do condomínio. Ele desligou.
— Se tu quiseres pode me deixar aqui e vai lá pegar tua namorada. — falei cabisbaixo, estávamos na rua doze — Já tá perto.
— Não, ela que espere. Que custa eu te deixar, ainda mais que teu pai pode ficar ‘p’ comigo.
— Tá, tu que sabes. — Ele acelerou. — Ei, tá rápido demais, acalma-te ai.
— Tu não tá com pressa? — Desacelerou.
— Eu não, não sei para que. Ai-meu-Deus, meu curso!
— Não querendo me intrometer, mas eles já falaram com teu pai.
— Mesmo assim, eu posso ser punido com quatro faltas, já estou na segunda — Chegamos à frente de minha casa. — Obrigado pela carona, não queres entrar? — Agradeci saindo do carro.
— Não, não, mas manda um beijo por teus velhos.
— Tá bom então, tchau. — Tentei ser frio, em meio ao tom derretido que minha voz saiu.
Entrei em casa na sala estavam papai e mamãe que logo me olharam enquanto fechando a porta.
— Filho! — disse mamãe.
— Por que a demora? Estava quase voltando ao hospital! — disse papai de pijama.
— Pai, o senhor tá de pijama! E eu tô cansado, amanhã nós conversamos, tchau para vocês. — Falei subindo a escada, me virei — Ah, me acordem se eu não conseguir me levantar amanhã. Tchau.
Entrei no quarto, me troquei, liguei o split e fui dormir. A injeção ainda estava fazendo efeito, me deixando sonolento. Estava muito cansado, quase todo dia no hospital agora? Pelo amor do santo Cristo! Me joguei na cama, agarrei meu travesseiro suspirei, fechei os olhos e dormiHoje decidi que esse elo seria bem curtinho, espero que esteja no gosto de vocês por mais curtinho que esteja.
Beijos!!