Deitei na cama e adormeci logo. Acordei e estava na escola e percebi que o sinal do último tempo tinha tocado eu sai pelo portão da escola de cabeça baixa, estava meio triste por algum motivo que ainda não sabia. Alguém me chamou do outro lado da rua, era Bernardo ofegante e estava bem arrumado, parecia que ia a algum lugar.
- Ben! Não te vi ontem no curso de inglês, o que houve? - perguntei, pois como ele já havia terminado o ensino médio, o via só no curso de inglês e acompanhava ele de vez em quando ao seu preparatório pro vestibular.
- Eric te amo muito tá não esquece! - disse me abraçando forte enquanto tentava conter as lágrimas.
- O que aconteceu Bernardo? Por que você está falando assim? Não chore! - tentei acalmá-lo.
- Eles descobriram Indiozinho! Sabem de nós… - falou com a voz embargada.
- Mas o que? - parei em choque. - Depois de tanto tempo, quase dois anos a gente guardando segredo eles descobriram… mas como? - perguntei.
- Alguém contou! Alguém sabia o tempo todo e contou pra nossos pais de propósito e agora não tem mais jeito, Eric! - ele continuava abraçado em mim e estava tremendo.
- O que vai acontecer agora? - nesta hora chega o pai de Ben e sai do carro furioso e vem em nossa direção.
- Bernardo! - gritou. - Bernardo solte já esse garoto e entra no carro agora que estou mandando! - ordenou em voz alta e com a cara fechada.
- Mas pai… se o senhor puder entender… - ele havia me largado rápido e tentava argumentar com o pai.
- Mas nada eu já disse e não vou repetir! - falou por fim, me lançou um olhar de reprovação que me fez encolher.
- O que aconteceu senhor Luan, não trate o Ben dessa forma, seja o que for que ele fez, deve ter tido um motivo afinal… - tentei ajudar Ben como podia, porém fui interrompido.
- Cala a boca moleque! “seja o que ele fez” foi você que fez com ele. Se ele não tivesse te conhecido, de repente não estaria em uma situação tão deplorável agora. Por sua culpa eu tive que tomar providências extremas. Estamos indo embora da cidade e não quero nunca mais ouvir falar de você, e nem pense em tentar procurar o Bernardo, adeus! - disse por fim entrando no carro e dando a partida. A última vez que vi Bernardo foi pelo vidro traseiro escuro que me olhava nos olhos e dizia “um dia eu volto”.
Acordei suando e assustado, foi uma lembrança em forma de sonho que tinha me acometido. Olhei as horas e já eram 9h, levantei tomei um banho frio, troquei de roupas e arrumei a cama. Desci e todos já haviam saído, como tinha acordado tarde nem deu tempo de ir à faculdade e não estava tão afim assim, André e Lola estavam no maior love e não queria segurar vela.
Sentado tomando café, me lembrei do sonho. Ben e eu nos conhecemos eu tinha 14 anos e ele 16. Começamos a namorar escondidos de todos, praticamente uma semana depois que a gente se conheceu, foi repentino e muito intenso. Quando ele terminou a escola um ano depois entrou pra um curso de pré-vestibular e inglês, o último eu fazia junto com ele.
Foi muito difícil quando nos separaram. Um garoto do ultimo ano, Tobias, da escola, descobriu que nós estávamos juntos e contou tudo pros nossos pais, fiquei sabendo por Vanessa. Foi um caos, os pais de Ben jogaram a culpa em mim por ter feito ele “ficar” daquele jeito e como pretexto pra acobertar a decisão repentina de ir embora foi que Bernardo havia passado na universidade e iria cursar publicidade.
Quando eu cheguei em casa naquele dia foi um choque, porque minha mãe chorava e achava que tinha feito alguma coisa de errado enquanto meu pai repetia pra si mesmo que eu não era daquele jeito, meus irmãos compreenderam e aceitaram a minha condição também. Depois que Ben foi embora conseguimos nos comunicar pelo ano seguinte inteiro, depois eu simplesmente perdi todo o contato com ele.
A campainha tocou me tirando do meu devaneio, arrumei mais ou menos a bagunça que fiz e fui atender a porta. Era Bernardo e estava mais despojado do que ontem, com uma bermuda jeans, camiseta rosa, chinelos e uns óculos escuros, abri a porta e o cumprimentei.
- Oi! Bom dia, tudo bom? - ele tirou seus óculos e me olhou com a cara de “O que é isso?”. - Ah para! Eu sempre ando parecendo mulambento em casa! - me empertiguei. - Entra! - convidei-o.
- Bom dia então mendigozinho! - deu uma gargalhada. - E aí? Vai fazer alguma coisa agora de manhã? Já que não foi pra faculdade né! - me olhou com tom de reprovação.
- Olha aqui! Depois de trezentos anos você aparece e ainda quer fazer essa pose de pessoa responsável? Não vou fazer nada não e sim adoraria sair com você até por que como bom advogado vou te interrogar e se preciso usarei de tortura, senta aí e me espere que já venho! - subi pro meu quarto e deixei ele na sala com ar desconfiado.
Peguei uma bermuda laranja, uma camiseta branca, meu boné preto que quase não usava e um par de chinelos pretos, vesti tudo e desci. Peguei as chaves e abri a porta e virei pra ele que me olhava com ar de “você não muda mesmo”, revirei os olhos pra ele.
- Gostei do seu street look! - disse ele pra mim com exagero óbvio. Ele sempre preferiu roupas mais despojadas, que variava até o formal e só.
- Você poderia tentar usar outras roupas, outras combinações, você é todo pomposo! - disse enfatizando a palavra “pomposo”, comecei a rir.
- Pomposo?! - Ele riu disso. - Ok, vamos! - disse ele abrindo um sorriso muito lindo por sinal e colocando os óculos. E nada dos meus pais me ligarem e nem meus irmãos, estava começando a achar que tinha sido deixado de lado.
Andamos pela praça enquanto tomávamos sorvete, fomos em direção aos banquinhos e decidi que começaria meu interrogatório ali mesmo.
- Ben você não tem direito a um advogado, até por que seria eu então… Eu quero saber: por que você sumiu? O que aconteceu que perdemos o contato? Como vão seus pais? O que você tem feito da vida? Por que não veio antes? - parei e esperei as respostas.
- Como é que era a primeira pergunta mesmo? - ele me encarou com aqueles olhos verdes vivos, porém não me deixei levar por eles, muito relutante, mas não deixei, rimos da situação! - Ok, eu sumi por que meus pais me levaram pra Porto Alegre, e sim tinha passado na universidade de lá!
“Perdemos o contato por que acredite ou não, meu pai ainda estava meio psicótico com nossa relação e contratou pessoas para me vigiarem, grampearam tudo que eu possuía, e-mail, celular, Skype, tudo… Meus pais vão bem”. Disse não entendendo muito bem o porquê eu fiz a pergunta, mas antes de tudo eu me importava com os pais dele, por mais que tenham feito aquilo comigo.
“Eu me formei e estou trabalhando pro grupo Pepsico”. Ele deu uma risada da minha cara de surpresa e choque. “E não vim antes pra não levantar suspeitas, eu tinha planos de vir logo depois que a gente perdeu o contato, mas esperei passar a onda de loucura do meu pai, que só passou com algumas providências minhas… mas isso não vem ao caso”.
- Providências? Que tipo? - olhei pra ele sem entender.
- Eu… digamos… que estou… noivo! - fiquei parado de boca aberta com a notícia.
- Você está noivo?! - exclamei. - E me beijou? Ah meu Deus eu fiz você trair a pessoa! - estava preocupado mais com isso do que em provavelmente ter perdido Ben.
- O quê? - ele perguntou franzindo a testa. - Para de maluquice Eric! Eu fiz isso pro meu pai parar de me perseguir, o nome dela é Giulia, sim eu sei… desculpa… mas foi a única coisa em que pensei que pudesse deixar meu pai menos neurótico. - ele falava com um pedido de desculpas.
- Não precisa se desculpar! Eu entendo muito bem o que deve ter sido pra você passar por isso e chegar a essa atitude! - ele deixou escapar uma lágrima. - “Ben te amo muito tá não esquece!” - repeti o que havia me dito quando nos vimos pela ultima vez.
- Ah Indiozinho! Gosto muito de você por causa disso! - nos abraçamos.
- Ei vamos almoçar lá em casa hoje, tá? E não aceito um não como resposta! Aposto como meus pais vão ficar contentes em te ver. A propósito, eles depois do chilique de seis meses, após o que aconteceu, ficaram calmos como monges tibetanos e não falaram mais no assunto. - rimos da piada. - Me aceitaram assim… eu acho… enfim, vamos lá! - levantei puxando sua mão.
- Tá bom então… - com a outra mão ele deu um tapa na minha bunda. - Que bundão heim! - disse dando um gargalhada.
- Minha filha?! Sabe que não gosto dessas brincadeiras e ainda mais no meio da rua vai que alguém vê? - olhei em volta. Ele dessa vez me deu outro tapa mais forte. - AI! QUER VIRAR ESTATÍSTICA?! - soltei a sua mão e fui na frente. - Vem logo! - ele me olhou com aqueles olhos verdes e cheios de malícia e se levantou.
- Olha só, pode parando de me olhar assim tá?! Você é um homem agora compromissado, e não pode ficar querendo sair com outra pessoa que não seja sua noiva e além do mais… esse olhar de “quero te comer” não cola. - dei uma risada alta.
- Sei… só não te agarro aqui no meio da rua porque o horário é impróprio, mas se não fosse você ia me dar aqui mesmo depois da minha pegada. - fiquei com medo daquilo, sabia o quanto ele era gostoso e era verdade se ele quisesse me pegar, mas tinha que resistir, me empertiguei e fui andando com ele até em casa.
- E aí? Vai ficar até quando? - perguntei distraído.
- Hum… acho que vou embora amanhã! - disse meio tristinho.
- Poxa… mas já? Foi tão rapidinho! - fiz uma carinha de triste. - Mas vamos manter contato dessa vez né? - olhei pra ele com cara de “né?”.
- Sim, sim, indiozinho! Anota meu número aí, e esse ninguém consegue grampear sabe… uma pessoa igual a mim… ocupando altos cargos em uma empresa top de mercado… - disse ele se gabando.
- Tá, tá querido! Pode baixando a bola aí tá, por mais que você possa falar… mas enfim… - rimos da situação e anotei o número dele.
Chegamos em casa e todos já estavam indo sentar à mesa pra comer quando cheguei na cozinha e ia começar meu show.
- Nossa! Ninguém liga pra mim não é? Todos sumiram de manhã! Ninguém me ligou até agora… é isso aí… - disse já começando a fazer um mini drama, mas me contive afinal o Ben estava ali.
- Oi filho! Não precisa fazer esse drama todo também, é claro que ligamos pra você, só nos esquecemos um pouco! - disse minha mãe.
- É... e que bom que chegou pro almoço na hora, menos tempo perdido te procurando… ah quero dizer… - meu pai sentou na mesa desviando o assunto, perde a linha mas não perde a piada.
- Pessoal um velho amigo meu está na cidade veio almoçar hoje conosco vou buscá-lo! - todos me olharam com duvidas estampadas em seus rostos, cheguei seguido por Ben. - Então gente, o Bernardo veio a trabalho e convidei-o pra almoçar hoje! - falei meio apreensivo.
- Bernardo? Quanto tempo, você sumiu! Como está você e seus pais? - disse minha mãe toda sorridente e alegre indo cumprimentá-lo com um beijo.
- Estamos todos bem dona Jade! - disse cordial.
- Bernardo! Cresceu e virou um homem forte, heim, meu filho! - disse meu pai indo apertar a mão dele com um abraço em seguida. - Venha, sente-se conosco.
Meus irmãos falaram com Ben também e pra minha surpresa todos estavam surpresos e felizes que haviam o revisto. Assim, todos sentamos à mesa e fomos comer uma linda e deliciosa lasanha quatro queijos que minha mãe tinha preparado, nem sabia da visita, mas ainda bem que o cardápio foi digno da ocasião~Oi gente!
Voltei né... HASUAShasuhs' me reerguendo das cinzas like a Fawks, amo aquela fenix *-*
Enfim estou surpreso de a última visualização do conto ter sido esse mês <3 you didn't forget me!
No mais, merci beaucoup de votre lecture! HSAUSAHhasuah' Vou postar os capítulos agora pra vocês novamente
E acreditem, não escrevi mto desde então! .-. De qualquer forma boa leitura, bye!