Capitulo 25
- O que!? - Isso não podia ser verdade, não podia, simplesmente não podia. Li ainda continuava na mesma posição degradante de antes - cabeça nas mãos e orgulho no chão - ele não se mexeu quando eu avancei rapidamente na direção de Chin e peguei na gola da camisa dele e sacodi. A cena seria engraçada, por que eu tinha a altura e o peso exato de Chin, mas eu estava com raiva. Muita raiva que se misturava com uma tristeza enorme e traição amarga - Ela é sua irmã? Como? Por que sua família deu ela para a família de Li?
- Me põem no chão e eu te digo - Não tinha percebido, mas os pés de Chin flutuavam centímetros acima do chão. Quando a crise de consciência me varreu, toda aquela força que eu estava sentindo me abandonou, meus braços adquiriram consistência de concreto e deixei Chin cair no chão, ele cambaleou para longe de mim e desamassou o local onde eu torci o tecido - Obrigado, Christian.
- Conta, Chin! - Gritei e avancei para cima dele, mas dessa vez não na intenção de apenas ameaçar, eu estava a ponto de explodir e precisava extravasar. Dei apenas cinco passos para frente quando senti braços grandes e musculosos em minha cintura, meus pés saíram do chão e depois a voz de Heitor penetrou o nevoeiro de confusão que rodeava meu cérebro.
- Nada se resolve com violência, Christy-Ann - Seu hálito quente fez contato com a minha pele gelada e sem vida, minhas emoções eram iguais a ondas no mar, tão rápido quanto elas vinham elas iam. Agora a culpa e a vergonha me assolavam - Se acalme e depois converse com o garoto ali.
- Eu não quero briga, Christian - Eu vi como Chin estava tremendo de medo, e com uma dose extra de culpa percebi que o medo dele era eu que estava causando - Eu vou chegar nessa parte.
- Agora eu que quero saber o que aconteceu lá - Pedro que falou, não precisei virar a cabeça para saber que ele estava do lado de Heitor quando falou - Li não nos contou nada sobre essa parte da historia. Irmã com câncer?
- Leah é mais velha que eu um ano - Ele começou - Quando nossos pais souberam que estariam esperando mais um filho eles se desesperaram, afinal eles já tinham outros três filhos. E como vocês sabem na Ásia a taxa de natalidade é tratada com severidade. Meus pais já estavam pagando muito, só se pode ter um filho, eles já tinham três - Ele estava rodeando muito, a raiva me tomou novamente e eu me contorci nos braços de Heitor. Chin tomou esse gesto como um aviso para que ele se apressasse - Tudo bem, tudo bem. Eita, mas que pessoa agoniada! Meus pais não queriam mais um filho, mas também não queriam se desfazer desse filho, então minha mãe deixou a gravidez ir a diante. Foi no dia do parto que meus pais conheceram os pais de Li.
"Minha mãe teve o parto normal, uma garota saudável e sadia, mas a Senhora Wang, não. - Meus olhos rapidamente foram parar em Li, seu corpo estava sofrendo com grandes soluços e eu poderia jurar que tinha ouvido um gemido da mais pura dor. Aquele gemido foi pior do que acido em meus ouvidos, com o acido eu lidaria apenas com a dor física, o gemido me destruiu de dentro para fora - Minha mãe dividiu o mesmo quarto com a Senhora Wang e foi quando ela teve uma ideia. Elas rapidamente ficaram amigas e um determinado dia a mãe de Li sugeriu para minha mãe se ela não queria dar a menininha para ela, afinal, a Senhora Wang tinha se afeiçoado muito com Leah"
" Como minha mãe já estava super apertada e não teria como cuidar de mais um filho, ela concordou com a Senhora Wang. Meu pai não foi o homem que registrou Leah, meu pai não foi o homem que colocou Leah como nome de sua filha. O Senhor Wang que fez isso tudo - Chin se encostou na parede e foi descendo até o chão - Depois de toda a papelada estar feita, mas com os pais erados, Leah foi parar nos braços da Senhora Wang definitivamente."
Ele parou de falar e enterrou a cabeça nas mãos também, mas só que ele não chorou como Li, que alias, ainda continuava chorando. Eu ainda estava nos braços de Heitor e ele não tinha reclamado nenhum minuto a respeito do meu peso, Pedro ainda continuava do lado de Heitor e eu não sabia onde meus outros irmãos estavam. Cutuquei Heitor e pedi para descer, hesitantemente ele me colocou no chão. Caminhei a passos pequenos até estar na frente do japonesinho, seguindo o exemplo dele eu me sentei no chão a sua frente.
- Isso é tudo muito comovente e esclarecedor, Chin - Fiz questão de deixar a minha voz baixa, por que era assim que as outras pessoas falavam comigo quando eu estava assustado -, mas eu quero saber o que aconteceu agora, nessa viagem.
- Só um minuto, Christian. Eu vou contar.
Esperei, esperei e esperei um pouco mais. Chin estava com a cabeça baixa a bastante tempo, seu peito subia e descia em um ritmo constante. Ninguém que estava na sala se mexia ou fazia barulho, o único som que ecoou por aquele espaço pequeno foi o grito de Larissa avisando que Li iria cair, a exaustão emocional foi demasiada para ele. Li estava até agora dormindo no pequeno sofá de minha pequena casa. Encarava fixamente o garoto que estava em minha frente e com o ronco baixo de Li ecoando na sala eu percebi uma coisa. Li dormindo, será....?
- Chin? - Dessa vez aumentei um pouco o tom de minha voz - Chin!? Está acordado?
- Estou - Ele levantou a cabeça e me encarou com aqueles olhos puxados - Não gosto de falar sobre essa historia de minha família, Christian.
- Tudo bem, Chin - Levei a minha mão e peguei a dele. Rapidamente seus dedos pequenos e magros se enroscaram em meus dedos pequenos e magros. Até as nossas peles não eram muito diferente, a palma da mão dele era macia, enquanto a minha era áspera e calosa - Não quero mexer em feridas familiares, mas por favor me conte o que aconteceu naquela viagem.
- Tudo bem - Respirou fundo e enroscou mais seus dedos nos meus - Leah chegou no Japão quase morta, O Senhor e a Senhora Wang tinham comunicado a minha família sobre o estado de Leah e que ela precisava ser internada urgentemente. Minha família tem um hospital em uma pequena província no Japão, eles construíram o hospital anos depois que Leah nasceu, tentaram de todas as maneiras de recuperar a filha de volta agora que eles tinham condições para arcar com mais um filho, mas Leah já estava muito apegada com toda a família Wang.
" Praticamente toda a equipe medica do hospital de meus pais foram acionadas para cuidar do caso de Leah - Senti que ele estava fazendo mais pressão em minha mão - Meus pais já estão com uma idade avançada e nós não deixamos eles doarem, meu irmão mais velho e o do meio não quiseram doar então sobrou o segundo mais velho e eu. Mas eu fui a escolha perfeita, afinal eu nunca tinha ingerido álcool, usado drogas ou tido relações sexuais - Ele se remexeu desconfortável e vi suas faces ficarem vermelhas - Leah chegou no Japão e foi logo para a sala de cirurgia. Agora a minha irmã tem um pedaço de mim dentro dela."
" Como praticamente toda a equipe do hospital foi chamada para atender o caso de Leah O Senhor e a Senhora Wang teriam que pagar alguns médicos e cirurgiões, por que eles não estavam em horário de trabalho. E foi ai que começou o problema. A hora cobrada pelos cirurgiões eram exorbitantes, os pais de Li tentaram fazer um negocio, mas nenhum deles aceitaram. Christian - Ele se inclinou até sua boca está perto de minha orelha - A família de Li estava falindo, eles estavam com uma reserva rasa de dinheiro, eles não teriam como pagar aquela divida. Foi ai que eu ajudei"
- Eu conversei com os meus pais para fazermos um acordo com a família Wang - Tirou sua mão da minha e se encostou novamente na parede - Observando agora eu percebo o quão burro e cruel eu fui quando coloquei aquela ideia na cabeça de meus pais.
- O que você fez, Chin? - Não tentei pegar a mão dele, ele já tinha fugido do meu toque. Mas fiz questão de modelar a minha voz, até ela adquirir um tom duro - Você tem que me contar.
- Eu convenci os meus pais a propor uma junção de casal com pessoas das famílias - Uma ideia maluca e enjoativa de repente explodiu em meu cérebro, mas me recusei a acreditar naquilo - Convenci eles a pagar a divida dos Wang, contando que eles me dessem Li-Yang como pretendente.
- Eu te mato! - Avancei para cima dele, minhas mãos ásperas encontraram a pele macia e quente de seu pescoço, instantaneamente apertei e tive o prazer de ver o seu rosto adquirir uma coloração arroxeada. Mas meu deleite sádico foi tirado de mim quando Heitor me arrancou de cima daquela coisinha falsa - Sua bixa nojenta, tu esta subornando Li?
- Desculpa, Christian - Ele colocou a mão na garganta - Desculpa mesmo. Li me cativou no primeiro instante que eu pus os olhos nele. E eu o desejei quase como nunca desejei ninguém.
- Cala essa tua boca - Me contorci nos braços de Heitor - Seu farsante de merda.
- Eu conversei com Li, Christian - Ele se levantou e começou a andar na direção a saída - Não sabia que ele era tão afim de você. Desculpa, mas eu cai na real e agora ele é todo seu. Desculpa.
E fechou a porta atrás de si.
Olhei para a única coisa que me importava naquele momento e Li também me olhou. Naquele momento eu sabia que ele me amava quase ou mais fervorosamente que eu. Li abriu o meu sorriso, cheio de dentes e brilhante. Ele se levantou e veio em minha direção, estendeu os braços e Heitor me entregou para ele, quase como se eu fosse um bebe. Li me pegou no colo e eu imediatamente cai no choro, todo aquele medo, tristeza, angustia que guardei por meses se esvaindo de mim através das lagrimas.
- Eu nunca te trai, Chris. - Ele falou antes de seus lábios esmagarem os meus.
Estava completo novamente