Mais um...
ParteLucas assume a narrativa. Não se sabe em que ponto do tempo está (...)
Eu estava com fome e cede. Não sabia quanto tempo mais aguentaria. De repente ouvi um barulho metálico que indicava que alguém abriu a cela. Uma mão fria me segurou pelo braço e me arrastou para fora. Percebi que outro prisioneiro era arrastado por uma silueta masculina. Aproximávamos-nos de uma sala iluminada por luzes que pareciam vir de uma fogueira, a temperatura subia conforme nos chegávamos ao nosso destino. Vi que a outra pessoa arrastada era a Madalena.
Finalmente chegamos a uma sala grande, cheia de criaturas pavorosas... Ok, algumas eram bem bonitas, como a garota que me levava. Fui levado até um canto onde um homem com um bigode bem escuro e de cabelo de mesma cor, pele esbranquiçada e expressão séria falava aos outros. Eu e madalena fomos jogados junto a uma mulher que percebi ser a diretora.
Homem de bigode – Agora vamos fazer um lanchinho, temos um banquete pronto e para todos os gostos, depois vamos decidir como usar esse garoto e finalmente julgar os atos de traição dessa mulher – ele apontou para mim e depois para a diretora.
Vários garotos e garotas, com a pele bem lisa e pálida, serviram os convidados com os mais diversos pratos. Havia uma mesa em um lado do grande salão, mas ninguém parecia interessado em levantar para buscar algo, preferiam ser servidos. Não posso descrever o como repugnante algumas das coisas que estavam ali. Duvidei que qualquer um naquela sala, os prisioneiros, fosse humano.
Por que tudo isso estava acontecendo? Se eu nunca houvesse conhecido o Rafael, provavelmente eu estaria vivendo minha vidinha normal, talvez eu houvesse encontrado outra pessoa para amar. Pensei em falar algo para a madalena, mas antes de eu fazer isso o Homem de Bigode a pegou e aproximou sua boca do pescoço dela. Vi os dentes dele e percebi o que ele era e o que pretendia fazer.
Tentei fazer algo para evitar, mas antes de eu chegar ao sujeito, a garota que estava atrás me jogou no chão e colocou o pé em minhas costas, de modo que eu fiquei com o rosto no chão. Eu não tinha forças para levantar. Estava em algum lugar entre acordado e em profundo sono, quer dizer, eu sabia que não estava dormindo, mas as coisas ao redor eram muito indistintas e meu corpo não respondia a minha vontade...
Rafael assume a narrativa. O tempo passa a ser contado do ultimo momento em que o Rafael narrou (...)
Entramos pela porta e descobrimos que era apenas uma sala com uma mesa no cento e algumas coisas que eu tinha quase certeza que eram ossos. Saímos rapidamente e andamos silenciosamente até a entrada do salão. As luzes que vimos não eram de uma fogueira, mas rios de lava que incandesciam em algumas paredes.
A primeira coisa que notei era que todos estavam comendo. A segunda, Muitos eram velhos ou muito pequenos para ser uma real ameaça. Por fim avistei uma cena perto de um palanque que chocou meu coração. O meu Lucas caído no chão com um claro aspecto de morto e a madalena sendo mordida por um sujeito que logo a jogou, inerte, ao lado de meu amado.
Leopoldo – fique calmo, não é uma boa ideia atacar com todos esses ai – ele disse percebendo meu corpo latejar de raiva.
Era inevitável. O ódio subia por meu corpo e gerava um poder absurdo. Tudo ao redor ficava meio fora de foco excetuando as criaturas que pareciam estar em minha mira. Gritei, novamente, como no parque, a caverna tremeu e todos olharam para mim. Alguns expressavam terror nos olhos, enquanto outros apenas observavam.
Antes que qualquer um pudesse fazer algo, a Dona Maria jogou algumas granadas que explodiram perto de alguns dos bichos os deixando atordoados. A gritaria começou, alguns corriam para as saídas que estavam desmoronando e outros partiram para cima de mim. Cortei a esquerda e a direita, em cima e em baixo. Desviei de algo que parecia ser gliter roxo e cortei a cabeça de um vampiro que mostrava os dentes e havia pulado para me agarrar.
Uma criatura peluda e do tamanho de um urso me deu um golpe no ombro e me jogou contra a parede. Ouvia os disparos e vi que alguns tiros acertaram “o olho” da criatura. Levantei rapidamente e vi que os bichos estavam mais preocupados comigo do que com os meus ajudantes, vi que a Maria sabia usar uma adaga, provavelmente a que eu dei para o delegado e ela pegou. Matei um e outro monstro, e fui novamente acertado por algo quente que queimou minha perna, percebi vários arranhões no meu corpo.
Não tenho certeza se foi descuido ou falta de sorte, mas aquela criatura que me jogou na parede desferiu um golpe nas costas da Maria. A vi esbugalhar os olhos antes de uma coisinha parecida com um anão com garras e cabelo espetado arrancar a cabeça dela. O ódio apenas aumentava no meu interior.
Abri as asas e todos pararam momentaneamente. Senti a espada mais leve em minhas mãos estão comecei novamente a acertar um e outro monstro. E curioso algo que percebi somente depois: alguns dos monstros apenas ficavam atordoados com os meus golpes.
Pensei naquela arma que o Velho me deu. Assim que o fiz ela se materializou na minha mão. Nesse momento, um menino de cabelo verde pegou o arco e mirou em mim. Pensei em um escudo e antes de a flecha me atingir a pequena esfera, agora nega como minhas asas, tomou a forma de um escudo, feito de alguma coisa indistinta e muito fria que parecia leve, porém inquebrável.
Continuei a golpear, mas os monstros voltavam estavam se recuperando rápido. Pensei em algo que pudesse matar. Uma foice surgiu em minhas mãos. O seu cabo parecia madeira velha, como se o galho houvesse sido arrancado da arvore e sido usado assim mesmo. A lamina curva da ponta era negra e parecia muito pesada... Comecei a usar essa arma, estava funcionando, a lamina rasgava as criaturas e elas se desintegravam. Alguns bichos chegaram a fugir quando me viram empunhar aquilo.
Finalmente me vi sozinho. Corpos em decomposição por todos os lados. Maria e Leopoldo estraçalhados, eu mesmo cheio de feridas e arranhões. Cheguei a notar facas no meu corpo e vi que uma de minhas pernas estava toda queimada. Senti o peso da arma em minhas mãos, ouvia gritos de dor ao longe e sentia muita dor também. Meu estado de ódio não havia me deixado sentir esses sentimentos, mas agora... Fiz a arma desaparecer, fui até onde estava o Lucas e vi ele estatelado no chão, ao lado a madalena, morta.
Tomei meu amado em meu colo e comecei a chorar. Ele se mexeu! Parei de fungar e aproximei meu rosto do dele. Senti sua respiração quase cessando e seu corpo fragilizado ainda tremendo. Graças a Deus, ele viveria!
Continua...