Cheguei na minha casa e fui direto pro meu quarto. Nem sequer jantei. Deitei na minha cama e abafei um grito de raiva com o travesseiro. Como que aquilo poderia estar acontecendo comigo?
Estava prestes a transar com o meu namorado e sou interrompido pela sua avó... Ah aquilo era demais! Tudo bem que era a vó dele, mas que eu fiquei com um pouco de raiva dela eu fiquei...
Acabei pegando no sono ali mesmo, sem nem ao menos trocar de roupa. Só acordei depois da meia noite com meu irmão me virando na cama e tirando o meu tênis.
- Aê finalmente acordou hein! – ele sorriu.
- Oi Lucas – eu retribui o sorriso com uma cara de sono – Acabei cochilando aqui.
- É percebi. – ele riu. – Ta tudo bem Léo? – ele sentou do meu lado na cama.
- Ta tudo sim e com você? – perguntei enquanto me despia.
- Também. A gente nem conversa mais né maninho... Nem parecemos irmãos...
- Verdade. Você se distanciou de mim nesses últimos meses.
- Desculpa, é que eu ainda não me acostumei com esse lugar. Quero voltar pra minha verdadeira casa!
- Lucas, Lucas! Você ta sendo radical demais mano. – a essa altura eu estava só de cueca na frente dele, e ele olhando pro meu volume sem piscar. – Aqui é bem melhor do que lá cara, é mais animado, tem mais gente, é maior... Temos como crescer aqui, e lá não, só regredimos com o tempo.
- Hã? O que você disse?
Eu percebi que ele estava de olho no meu pau. O que era aquilo? Meu irmão, gay? Não podia ser... Eu devia estar pirando já!
- Eu disse que aqui a gente pode crescer e lá não.
- Ah isso é verdade, mas mesmo assim não gosto daqui não sei porquê.
- Entendo.
Me deitei na minha cama e me cobri ate a cintura.
- Algum problema Lucas?
- Nenhum por quê?
- Por nada não mano, só que você ta meio distante...
- Pensando na vida Léo.
- Saquei...
- Léo e como anda a sua vida? Ta namorando? Enrolado? Ou solteiro?
- Solteiro. Dei um tempo nisso mano. Mulher é bom mas dá um trampo do caralho – A gente deu risada. – E você?
- Solteiro também. Desde que sai de la eu não fiquei com mais ninguém. Também quero esfriar a cabeça.
- Faz bem de vez em quando ficar sozinho pra poder colocar as idéias em ordem.
- Isso é verdade... Mas se bem que eu to precisando de uma gatinha pra “aliviar o estresse” se é que você me entende. – ele sintonizou bem esse “aliviar o estresse” da frase.
- Ô se entendo... Também to precisando viu mano... Já tem quase cinco meses que eu não faço isso.
- Eu também. Desde as férias de julho.
- Isso.
- Mas também nem tem ninguém que valha a pena pra fazer isso.
- Na escola até que tem umas gatinhas, mas sem chance de rolar nada, tudo umas nojentinhas filhinhas de mamãe.
- É foda mano! Mas a gente aguenta.
- É né, é o jeito
A gente riu e apagamos a luz do abajur.
- Boa noite maninho – ele disse.
- Boa mano, dorme bem.
- Você também.
Adormeci em mais ou menos meia hora.
Dormi muito bem naquela noite, estava um friozinho bem gostoso e aconchegante, acordei no outro dia só ao meio dia. Alem de ser sábado era feriado, então era tranqüilo pra ficar em casa.
Almocei e fiquei na internet. O Dani não estava online e isso me deixou um pouco encucado. Resolvi ligar pra ele para ver se estava tudo bem com a Dona Celeste. Quando ele atendeu percebi que ainda estava dormindo.
- Oi dorminhoco, vamos acordar?
- Oi Léo, tudo bem com você?
- Tudo e com você? Ainda dormindo a essa hora menino...
- Ai pois é amor, a minha avo tossiu e ficou me chamando a note toda, acho que hoje vou levar ela no medico...
- Ai amor que triste... Leva sim, é o melhor que você tem a fazer nesse momento.
- Por falar nela já ta me chamando. Preciso ir, depois eu te ligo ta bom?
- Tudo bem, um ótimo sábado pra você ta? Te amo!
- Eu também. Beijos.
Quando desliguei o celular fiquei pensando no Dani, de como foi bom ter ficado com ele na noite anterior, de como foi bom ter começado a me entregar pra ele... A sensação do pau dele na minha boca e do meu na boca dele não saía de meus pensamentos, como era bom fazer aquilo...
Acordei de meus devaneios e voltei ao MSN pra falar com a galera. Alguns amigos do interior estavam online e a gente ficou papeando.
Saí da internet já passava das oito da noite. Jantei e voltei pro quarto. No celular tinha umas quinze chamadas não atendidas do Daniel, não entendi porque ele não ligou na minha casa, resolvi retornar a ligação. Na terceira chamada ele me atendeu.
- Léo finalmente.
- Aconteceu alguma coisa?
- Minha avó ta internada no hospital. Ta com uma pneumonia muito forte e a pressão dela ta muito alta. Preciso de você aqui comigo Léo, você pode vir pra cá?
- Claro que sim, que hospital que você ta?
- Beneficiência Portuguesa. To com medo Léo...
A voz dele me transmitia o que ele estava sentindo...
- Fica calmo, to indo praí.
Desliguei meu celular e desci correndo as escadas ate a sala.
- Pai pai pai pai, preciso que você me leve no hospital!
- Que foi filho, o que aconteceu? – meu pai perguntou assustado.
- A avó do Daniel ta internada e ele pediu pra mim ir fazer companhia pra ele. Ela ta com pneumonia e a pressão ta super alta. Me leva la pai por favor, é urgente!
- Claro filho, que hospital ela ta?
- Beneficiência Portuguesa.
- Perto daqui, vai pra garagem que eu vou pegar as chaves do carro e a gente vai pra lá.
A gente saiu de casa e em vinte minutos já estávamos la. Procurei pelo Dani e o encontrei na sala de espera de cirurgia sentado numa cadeira com as mãos no rosto.
- Dani, Dani cheguei... Onde ela está?
- Ai Léo, ta sendo operada – Ele me deu um abraço muito forte e começou a chorar desesperadamente.
- Fica calmo meu amor, eu to com você – eu disse de modo que só ele ouvisse. – Ela ta sendo operada de que?
- Do coração, os médicos fizeram uns exames e constataram que as veias do coração dela estão todas entupidas e precisam ser restauradas. Alem do que tem a pneumonia também. To com medo Léo...
- Fica calmo Daniel, vai tudo sair bem – O meu pai estava com a gente, do nosso lado, fiquei ate com medo dele não ter ouvido o que eu disse...
- Obrigado senhor...
- E seus pais já sabem?
- Já, liguei pra minha mãe e ela já está vindo pra cá, chega amanha pela manha. Espero que ela chegue logo, preciso dela.
- Calma, vai ficar tudo bem – repeti a frase do meu pai e o abracei novamente. – Eu to do seu lado e você pode contar comigo.
- Obrigado Léo, não sei o que seria de mim sem você ao meu lado.
- Agora pára de chorar e vamos esperar ela sair da sala de cirurgia.
A gente se sentou nas cadeiras e eu comecei a consolar ele. Parecia que tinha perdido o chão de tão aéreo que ele estava. Meu pai nos deixou a sós e voltou pra casa para cuidar dos meus outros irmãos pois minha mãe estava na casa da minha avó em Blumenau pois ela também não estava muito legal.
Acabamos pernoitando por lá mesmo, fizemos as cadeiras de cama e adormecemos. Se é que poderia chamar aquilo de cama.
Acordei as três e quarenta e cinco da manha com um medico perto da gente.
- Você é familiar da paciente Celeste Maria Gonçalves de Oliveira? – O medico perguntou para mim.
- Eu não, mas ele é. Alguma noticia doutor?
- Sim tenho uma novidade sobre a cirurgia.
Nesse momento o Dani acordou.
- Doutor doutor, como esta a minha avó?
- Bom, tenho que ser sincero com você meu rapaz...
- Fala doutor, o que aconteceu com a minha avó?
- Calma filho, não aconteceu nada, pelo contrario. A cirurgia foi um sucesso e ela esta se recuperando na UTI, caso continue reagindo bem ao transplante de veias amanha ela retorna ao quarto.
- Graças a Deus...
O Dani me abraçou tão forte que eu pensei que ia quebrar os meus ossos.
- Viu só seu bobo, eu disse que ia dar tudo certo!
- É, agora eu to tranqüilo!
- Qual o seu nome garoto?
- Daniel doutor, sou neto dela...
- Que bela coincidência. Prazer meu rapaz, sou doutor Daniel Gaspar Neto, cardiologista e cirurgião.
- Nossa, somos charas, que legal – ele deu um sorriso – Obrigado por tudo doutor, devo a vida da minha vó ao senhor.
- Não tem que agradecer rapaz, esse é o meu serviço. Fico muito feliz de ver que você esta melhor e de que a Dona Celeste esteja bem agora. Vai ficar tudo bem, tenha fé em Deus.
- É o que eu mais tenho!
- Agora já que está mais tranqüilo, se me derem licença vou atender outro paciente. Qualquer noticia eu aviso. Se quiserem podem ir para casa, é melhor do que ficarem dormindo nessas cadeiras horríveis. Bom com licença.
Ele saiu e o Dani me abraçou novamente. Como era bom ver o meu gatinho feliz. Ficamos naquele abraço um bom tempo ate que me veio uma ideia.
- O que você acha da gente ir embora pra sua casa? Assim podemos dormir melhor e ficamos mais descansados para amanha virmos de novo.
- Por mim pode ser, mas tenho receio de ir e a minha mãe chegar.
- Será que ela chega nas próximas horas?
- Não sei, é melhor ligar pra ela e perguntar né?
- É faz isso sim, qualquer coisa a gente volta.
Ele foi na recepção e pediu o telefone emprestado. Ligou pra mãe dele e ouvi ele dizendo:
- Ela esta se recuperando já. O medico disse que foi tudo bem. Amanha se der ela volta pro quarto... – ele tava impaciente, eu conhecia ele – Então ta mãe, vou desligar que to no hospital. Vou ficar aqui te esperando. Beijo te amo.
Então a gente ia esperar ela no hospital... Droga, meus planos de ficar com ele tinham ido de água a baixo...
- E aí? – Perguntei curioso.
- Eles estão chegando já. Vou ter que ficar aqui você se importa?
- Claro que não Dani, eu fico com você.
- Não Léo, pode ir embora, você ta cansado, eu fico aqui sozinho...
- Nem pensar, eu fico com você ate o fim.
- Você não existe mesmo – Ele me deu um selinho bem rápido e nós nos sentamos e ficamos conversando sobre o acontecido.
Demorou um pouco para amanhecer, mas finalmente o dia clareou. As cinco pras seis os pais dele e a irmã chegaram.
- Filho... – A mãe dele veio correndo – Graças a Deus! Onde esta o medico?
- Não sei mãe. Oi pai, oi maninha...
Todos se abraçaram e eu fiquei olhando.
- Gente esse é o Léo, o meu na... – ele tossiu e eu arregalei os olhos com medo deles terem percebido – Desculpem, to ficando sem voz de tanto nervoso, ele é o Léo, o meu melhor amigo, veio pra me dar uma força enquanto vocês não vinham.
Eles me cumprimentaram e eu senti um alivio muito grande por ninguém ter percebido a gafe do Dani. Eles me cumprimentaram e saíram em busca do medico para saber noticias. Enquanto isso:
- Você é louco menino? Quase nos denunciou...
- Desculpa, foi automático, saiu sem que eu percebesse, mas conturbei a situação!
- Ainda bem ne?
A gente sorriu e nos abraçamos bem forte.
- Agora você pode ir mocinho, já tenho companhia!
- Tem certeza?
- Absoluta, não quero te dar mais trabalho.
- Você não me da trabalho, ao contrario, é sempre bom estar com você.
- Eu digo o mesmo. Te amo!
- Eu também...
- Agora anda, vai pra sua casa descansar, mais tarde você pode voltar se quiser.
- Ta bom. Eu volto sim. Tchau.
- Tchau.
Nos abraçamos e eu fui embora. No meio do caminho encontrei os pais e a irmã dele e me despedi. A minha sogra muito atenciosa me agradeceu pelo carinho com ele e pela forca e depois disso eu fui pra minha casa.
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