- Agora você vai entender tudo. Vou contar.
- Conta logo.
- Então, meu nome é Gustavo, tenho 23 anos, sou empresário e você já deve ter percebido que eu sou rico né?
- Percebi sim. E daí?
- E daí que eu sou gay. Tenho uma namorada pelas circunstâncias que me obrigam. Meus pais, mais precisamente meu pai, é dono de uma grande agência de publicidade aqui em São Paulo. Ele se recusa a aceitar minha sexualidade e me obriga a ter um relacionamento de aparências com a filha do sócio dele.
- Peraí, você quer que eu acredite nisso?
- Nunes, confia em mim. Eu tava precisando de alguém pra desabafar e você precisa entender...
- Me chama de Nuno. E eu não preciso entender nada.
- Precisa sim. Eu não quero ficar nessa história como mal caráter.
- Já ficou. E você não me deve satisfações.
- Olha, me escuta pelo menos. Eu vivo uma vida de aparências porque minha família precisa disso. Eu não sou quem eu aparento ser. Você conheceu o Gustavo que eu não consigo ser com ninguém.
- Eu não sou cara de pegação em banheiro, nem de ser amante.
- Eu não te pedi isso, Nuno. Abaixa a guarda.
- Não, não preciso. Eu vou pra casa.
Me levantei e na mesma hora chegou um pedido de sorvete que eu nem tinha visto ele fazer. A garçonete, meio sem ter o que fazer, me assustou e eu parei ao me levantar. Gustavo pegou no meu braço:
- Toma o sorvete comigo, por favor.
Olhei em seus olhos e vi sinceridade. Decidi sentar e baixar a guarda. Não me faria mal conhece-lo melhor, eu acho.
- Me fala de você, Nuno.
- O que quer saber?
- O que você faz?
- Estudo medicina.
- Que legal. Mas você paga?
- Não, nem daria. Tenho bolsa.
- Seus pais sabem de você?
- Minha mãe sabe. Meu pai sumiu no mundo há alguns anos. Minha família é minha mãe, meu irmão e eu.
- A propósito, adorei seu irmão.
- Ele é encantador mesmo, muito educado e estudioso.
- Como você, né?
- É. Seja sincero, o que você quer de mim?
- Eu vou ser sincero, Nuno, como eu nunca fui na vida. Eu gostei muito de você. Você acredita em mim?
Por incrível que pareça eu consegui ver sinceridade na fala dela. Mais do que isso, eu via sinceridade nos seus olhos.
- Sim, Gustavo. Eu acredito em você.
Ficamos nos olhando por uns minuto e eu sentia vontade de beijá-lo. Olhava pra sua boca e ele pra minha. Fui me aproximando devagar, até que a garçonete apareceu de longe e ele me empurrou de leve.
- Vocês querem mais alguma coisa?
Ele ficou vermelho e usou uma entonação de voz mais grossa que o normal, talvez pra demonstrar sua masculinidade.
- Não, anota a conta que estamos indo.
Ele se levantou sem me dizer nada e eu me senti na obrigação de acompanha-lo. Segui andando atrás, chateado, até o carro.
- Ela quase nos viu.
- Só não precisava ter me empurrado.
- Desculpa, Nuno. Eu tenho que tomar cuidado.
- É, eu percebi.
Antes de ligar o carro, ele foi mais rápido do que eu e me beijou. Fui um beijo calmo, diferente dos beijos que trocamos quando nos conhecemos. Ficamos alguns minutos assim, até que terminamos os beijos com selinhos.
- Sua boca é maravilhosa.
Sei que fiquei vermelho e isso o incentivou a me beijar de novo. Depois de mais alguns beijos eu disse que eu tinha que ir pra casa, afinal minha mãe já estaria preocupada.
- Me dá seu telefone.
Não resisti e dei. Antes de eu descer do carro, mais um beijo. Eu estava me envolvendo com o Gustavo, mesmo sabendo de todos os seus problemas familiares. Enfim, cheguei em casa e minha mãe havia chegado. Daniel não tinha contado nada sobre a visita do Gustavo, o que facilitou mina chegada. Fui por quarto estudar, após perceber que tava tudo bem com ela e assim fiquei o restante da tarde.
Depois dos estudos, fui fazer um lanche e fui olhar meu celular. Achei a mensagem:
SMS: Pode ser cedo pra dizer isso, mas tô com saudade já. Foi muito bom te conhecer. Ass: Guto!
Fiquei em êxtase. Será que ele sentia o mesmo que eu?
CONTINUA...