Amigos leitores, muito obrigado pelos comentários =) espero que gostem dessa nova parte do conto! Obg e Abraços!
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As vezes descobrimos algumas coisas muito por acaso. Como por exemplo: eu descobri que manter minha cabeça ocupada mantinha meus pensamentos longe de Fer. Não acabava com a tristeza, mas amenizava. Também descobri que a melhor forma de manter minha cabeça ocupada, felizmente, era estudando.
Então, eu estudava até meu corpo não aguentar mais ficar acordado e então eu dormia um sono pesado. Os sonos pesados eram bons pois não há sonhos em sonos pesados. E todas as vezes que eu sonhava, era com Fer.
Eu estudava tanto, que só as matéria da escola era pouca. Eu precisava de mais. Aprofundava em temas que alunos de ensino médio nem sequer tinham conhecimento que existia. Não estou dizendo que eu era um gênio super dotado, muita coisa eu tinha duvida e era forçado a perguntar meus professores sobre.
Minha mãe achava que eu estudava tanto para passar no vestibular. Já não bastava o desprezo de Fer por eu ser gay, se meus pais descobrissem isso, ai sim eu não teria mais motivos para viver.
Gabi foi a melhor amiga que alguém poderia ter nesse momento crucial na minha vida. Mas infelizmente coisas aconteceram e ela não se mostrou tão boa assim.
Sempre que a minha tristeza ultrapassava limites, ou eu falava com Gabi e ela me alegrava ou eu ficava vendo as fotos que eu tinha de Fer, comendo barras e mais barras de chocolate. Creio que engordei bastante nessa época, mas isso era irrelevante para mim.
Aconteceu um dia, que eu estava um pouquinho melhor e resolvi fazer uma visita surpresa para Gabi. Quando virei a esquina de sua casa, vi ela na porta ficando com um garoto. Pensei em chegar zuando, mas na hora que eu me aproximei dela, vi quem de fato ela estava pegando.
Sim, era o Fer. Na hora que eu vi me senti três coisas: Meu coração derreter por simplesmente ver o Fer. Raiva por Gabi, sabendo de toda a minha história ainda sim ficar com ele e por fim, inveja dela.
Na hora que ela me viu, levou um susto. Eu comecei a chorar e o Fer, lindo como sempre, fez uma cara de “De novo não”. Eu simplesmente olhei para Gabi e disse:
- Nunca mais fala comigo... – E sai correndo de volta para minha casa, chorando. Em um ano eu havia perdido meus dois únicos amigos de verdade que eu tive. Eu havia voltado a um estado de existência semelhante a 5ª Série, quando eu sofria Bullying na escola.
Nunca corri tanto na minha vida. Antes de eu correr, ainda ouvi a Gabi gritar meu nome e o Fer dizer “Deixa ele, amanhã ele vai estar na escola...”, mas ela simplesmente o ignorou e continuou correndo atrás de mim.
Cheguei em minha casa e sem falar nada com ninguém, me tranquei no meu quarto, por um instante olhei para o vazio e então, cai em lagrimas. Deitado em minha cama, chorei, mas chorei coisa que presta.
Até hoje eu tinha alguém para contar meus segredos, minhas angustias, minhas mágoas. Tinha alguém que me alegrava quando eu estava mais triste que o normal. Agora eu não tinha nada. As pessoas que eu custei para tornar minhas amigas e hoje eram desconhecidas.
Chorei por vários motivos distintos. Chorei por Fer não querer mais olhar na minha casa, muito menos falar comigo. Chorei por ele me odiar. Chorei também pelas ações da Gabi. Por fim chorei pela minha vida de merda. Por que tudo de ruim que tinha que acontecer, acontecia comigo?
Essa pergunta eu nunca soube responder. Por que eu? Existem milhões de pessoas felizes vivendo amores por ai, e por que eu deveria ser o triste depressivo da história? Não sei.
O que eu sei é que nessa noite, nem estudo, nem chocolate foi suficiente para reprimir minha tristeza.
No outro dia eu não fui à aula. Gabi me ligou milhares de vezes, mandou inúmeras mensagens, toda contendo o mesmo discurso: “Desculpa, foi um erro... Não vai repetir... Eu errei e blá blá blá”. Li as primeiras, depois somente ignorei.
Mas uma hora eu deveria ir na aula e querendo ou não, encararia Gabi. Será que eu teria pulso firme para me manter impassível diante das explicações tolas de Gabi? Isso eu descobriria na hora.
Quando eu fui para a escola e dei de cara com a Gabi logo na entrada da escola, meu coração gelou. Ela me olhou, se aproximou de mim e disse:
- Lipe! Por favor, me escuta... Eu posso explicar! – Eu olhei para ela e dei um suspiro. Nesse momento eu senti o característico cheiro do Fer. O cheiro estava tão forte que era improvável que fosse de dois dias atrás. Esse cheiro era de hoje. Tomado de uma raiva crescente, eu disse:
- Você esteve com ele hoje, e tem a cara de pau de pedir desculpas? – Ela me olhou assustada com a minha afirmação, hesitou um segundo, o que só confirmou minha suspeita, e disse:
- Eu? Não estive! – Ela tentou se defender sem argumentos e eu continuei:
- Eu reconheço o cheiro dele perfeitamente. E forte do jeito que está, você deve tê-lo abraçado hoje. Você não estava com essa blusa quando... – Não terminei a minha frase virei e continuei meu caminho até sala. Nunca fiz tanta força para não chorar. Aquilo me corroía por dentro. Perdi todo o meu ar.
Ela me puxou começou a pedir desculpas e eu disse, interrompendo-a:
- Gabriela, apenas aceite. Eu não ligo de você ficar, beijar, dar para o Fer, desde que nunca mais olhe na minha cara. Decida-se – Virei e agora não parei. Deu tempo de escutar seu choro antes de continuar.
Isso mostrou que sim, eu era capaz de manter o pulso firme com Gabi, mas isso doía demais. Não sei como não chorei a aula inteira. Não consegui prestar atenção no professor, muito menos na matéria. Além de eu já tê-la estudada em casa, era fácil demais.
Gabi não me procurou mais nesse dia. Em casa durante a noite, estudei até não conseguir mais. Tomei meu remédio e dormi. Mesmo um sono pesado, eu sonhei. Sonhei novamente que uma multidão corria de mim, mas uma pessoa corria a meu favor: Gabi. Mas por mais que o tempo passava, ela nunca chegava.
Acordei suando no meio da noite. Bebi um copo d’agua e voltei para minha cama. Essa noite eu não dormi mais. Fiquei acordado vendo o luar da janela do meu quarto. Era lua cheia e minha cama era banhada pelo luar.
Uma imagem tão simples e tão bela ao mesmo tempo. Complexo eram os sentimentos que elas falavam. Nesse momento, lembrei do Fer. Da sua alegria no sitio, da sua felicidade na festa e de sua raiva após eu me revelar. Lembrei também da vez que andamos de Jet-Ski, da forma como eu o abracei e senti no seu corpo a segurança que me faltava. E então, sentindo falta disso tudo, eu chorei.
Acordei, ou melhor, levantei no outro dia, tomei um banho antes de ir para a aula, coisa que raramente eu faço, tomei meu café, mas antes de sair, peguei meu velho fone de ouvido e sai para aula.
Eu não tinha o costume de escutar muita musica. Escutava uma ou outra quando não tinha nada para fazer, mas nada além disso. Fui para a escola a pé, escutando musica e descobri que musica também relaxa. Mas era um campo perigoso. Algumas musicas retomava emoções tão fortes e eram tão nostálgicas que eu me sentia pior do que eu já estava só de ouvi-las.
Na primeira semana desde que eu descobri que Gabi ficava com Fer, foi a pior. Eu chorava todas as noites. Não conseguia me concentrar em nada, nem nos estudos nem em nada. Andava sempre voado e sem chão, como se meus pés fossem arrancados de mim.
Mas o tempo, como dizem, cura tudo. Na verdade não cura, a dor da perda continua ali, mas com o tempo você se acostuma com ela. O tempo passou, as férias chegaram, eu continuava estudando até meu corpo se extenuar, tomava meu remédio e dormia.
Todas as vezes que eu passava perto de Gabi nesse intervalo ela me olhava triste e eu dava um suspiro. A desculpa era a tristeza por perder uma valiosa amiga. Mas na verdade era para simplesmente sentir o cheiro do Fer. Infelizmente ela escolheu ele. Mas fazer o que, amor a gente não escolhe. E era até bom, pois eu sabia que ambos estavam bem acompanhados.
E assim, minha vida continuou até o fim das férias do meio ano. Uma festa viria para, talvez, mudar minha vida.