Capitulo doze: E finalmente estamos juntos – Final (1)
NICOLAS
Abri os olhos aquela manhã e a primeira coisa que eu vi foi ele. Tão bonito com seu cabelo cacheado. Seu rosto exibia uma expressão tranquila me fazendo sorrir. Levei a mão ao seu cabelo acariciando-o. Ele gemeu uma vez e sorriu. Ele tinha dez anos na época, mas dormindo parecia um menino de sete anos. Senti meu peito se inflar e meu coração acelerar quando desci minhas mãos de seu cabelo e acariciei seu rosto.
– Bom dia – ele sussurrou sem abrir os olhos.
– Bom dia – respondi sorrindo ao ouvir sua voz.
Ele levou sua mão para segurar a minha que permanecia repousada em seu rosto. ao tocá-la, ele abriu seus olhos e sorriu para mim. Um sorriso angelical e que insinuavam algo mais forte que amizade. Era amor. Não amor de irmãos, mas sim amor entre dois amantes. Dois amantes nascidos um para o outro.
Foi nesse momento em que percebi que o amava da mesma forma. A sensação de ama-lo era excelente, porém doloroso, pois sentia que era errado.
Soltei minhas mãos das dele e me sentei na cama fitando a cama improvisada que Dona Marta fazia para mim todas as vezes que eu ia dormir em sua casa, mas que eu nunca usava, pois dormia com Yuri.
Ele se sentou ao meu lado e me abraçou repousando sua cabeça em meu ombro esquerdo.
– O que foi Nicolas, outro pesadelo? – perguntou ainda com a voz rouca por conta do sono.
– Não. É só que senti algo estranho hoje quando olhei para você – admiti.
Ele suspendeu os olhos no momento em que meus olhos se viraram para ele.
– Eu também senti – ele disse – Para mim foi bom, e para você?
– Foi – respondi percebendo qual era o problema.
– Então o que foi? – seu olhar era preocupado.
– Tenho medo de te perderRecebi alta naquela manhã. Não disse nada enquanto minha mãe me ajudava a arrumar minhas coisas e nem no caminho para casa. Ela sabia que tinha algo errado, mas não me perguntou o que eu tinha em nenhum momento.
Fui diretamente para o meu quarto e tranquei a porta. Fui até meu armário e tirei um porta retratos no fundo da minha gaveta de meias e admirei a foto. Era Yuri e eu aos dez anos de idade. Me lembrava perfeitamente daquele dia. Era o meu aniversário de dez anos. Minha mãe fez uma festa para mim e chamou todos da minha classe – mesmo que eu mal os conhecesse – e todos foram. A festa foi ótima, mas não era por isso que eu me lembrava daquele dia. Naquele dia ele disse que me amava pela primeira vez
Mesmo que na época eu tivesse entendido como amor de irmão, não pude deixar de me sentir especial.
As lágrimas vieram em um rompante enquanto em caía no chão sentindo os pontos em meu braço doerem com o impacto. Chorava em silêncio enquanto minhas lágrimas caiam na fotografia. Eu acariciava a imagem de Yuri como se pudesse sento-lo. Mas era apenas uma imagem e isso era a pior parte.
Horas se passaram até que minha mãe bateu na porta do meu quarto. Me levantei rapidamente e guardei nossa foto na minha gaveta. Enxuguei minhas lágrimas e abri a porta. Olhei para seus olhos vermelhos e percebi que ela também havia chorado.
– Nicolas, precisamos conversar sobre Yuri.
– Eu o vi ontem a noite – respondi com a voz embargada pelo choro – Sei que mentiu para mim e sei que foi para me proteger e sei que ele vai morrer.
– Não pense assim filho – ela me repreendeu – Yuri pode melhorar!
Sacudi minha cabeça negativamente. Um sorriso de tristeza se formou em meus lábios.
– Não precisa mentir para mim, mãe. Eu sei que meu pai o matou e sei que foi por minha culpa.
Ela correu e me abraçou apertado chorando juntos. Por mais que eu quisesse não conseguia sentir raiva da minha mãe. por mais que el tivesse errado, ela tinha feito aquilo para me proteger.
Uma semana se passou até que eu fosse autorizado a visitar Yuri. Dona Marta me levou até ele. ele estava ainda pior do que da ultima vez que eu o havia visto. Estava mais magro e sua pele estava mais pálida. Ele estava em coma induzido o que era horrível. Estava com ele e não podia ouvir sua voz.
Todos os dias eu o visitava e todas as noites eu chorava sozinho antes de cair em um sono profundo e sem sonhos. O assistir definhar a cada dia assim como seus pais que pareciam ter envelhecido dez anos. Sabia que Dona Marta não me culpava pelo que houve, mas Seu Pedro sim. Sempre que eu ia vê-lo ele me olhava carrancudo e saia de perto de mim. Por mais que doesse ele tinha razão em ter raiva de mim, pois se eu tivesse ficado calado ele não estaria nesse estado. Eu era o culpado.
Nunca vou me esquecer daquela terça-feira. Era noite quando Dona Marta ligou para minha casa e deu a noticia de que Yuri não resistira mais que algumas horas e que eles o haviam tirado do coma para que pudéssemos nos despedir dele.
Senti como se o chão tivesse se aberto debaixo de meus pés e eu caísse em um profundo abismo.
Não sei como cheguei lá, mas quando dei por mim, estava na porta do CTI onde Dona Marta e Seu Pedro conversavam com uma médica. Ambos choravam demais. Senti a mão de minha mãe em meu braço e me dei conta de que ela estava ali comigo de dando forças.
Me aproximei mais e assim que Seu Pedro me viu a fúria encheu seus olhos.
– Isso é culpa sua! – ele disse o mais alto que o choro lhe permitiu. Seus passos eram rápidos e cheios de ódio – Você fez isso com ele!
Ele me segurou pelo colarinho e me imprensou contra a parede com força.
– Eu sei – respondi começando a chorar.
– Náo foi culpa dele! – Dona Marta interveio repousando a mão no ombro do marido – Não cometa o mesmo erro de Ivan.
Pedro olhou para a esposa com os olhos cheios de lágrimas. A dor o consumia como o fogo consome o álcool.
Ele soltou meu colarinho apenas para me abraçar.
– Me desculpe? – pediu chorando.
Não respondi, afinal de contas náo havia motivos para isso. Eu realmente era culpado.
Depois de cerca de vinte minutos Pedro me soltou e eu entrei no CTI a procura dele e rapidamente eu o encontrei. ele sorriu debilmente só me ver e eu me sentei ao seu lado.
– Oi – disse para ele.
– Oi – ele me respondeu com a voz fraca – Devo estar horrível – disse tentando dar um ar mais descontraído aquele ambiente fúnebre.
– E está mesmo – disse entrando faze-lo rir.
Deu certo, mas me arrependo logo em seguida, pois ele gemeu de dor.
– Eu estou morrendo, Nick – disse com lágrimas descendo por seus olhos.
– Eu sei – confessei derramando mais lágrimas.
– Quero que saiba que eu te amo vou continuar te amando quando eu for embora – e gemeu de dor mais uma vez por conta da longa frase.
– Como pode me ar depois de tudo o que houve? – indaguei – Depois de eu ter lhe causado isso?
– Você não causou nada Nicolas – ele estendeu a mão tentando alcançar a minha, mas estava fraco demais para faze-lo. Coube então a mim segura-la. Estava ossuda, fraca e gelada como a de um defunto – Náo quero que se Culpe por minha morte. Não quero que fique triste como estava quando nos conhecemos. Você é tão bonito Nick. Vai encontrar um cara que te faça feliz. Vai se casar com ele e vão adotar um casal de filhos. Você vai ama-lo mais do que me ama, mas ele nunca vai te amar como eu te amo, pois é impossível.
Eu me inclinei e beijei seu lábios gelados rapidamente.
– Nunca vou amar ninguém mais do que eu te amo – disse e ele sorriu.
Permanecemos em silêncio por um longo tempo apressando os últimos momentos que teríamos juntos. Até que ele quebrou o silêncio.
– Posso te perguntar uma coisa? – pediu com a voz quase inaudível. Seus olhos dava longas piscadas e eu sabia que estava perto.
– Qualquer coisa – respondi chorando, pois nosso tempo estava acabando.
– Por que você achava que o que sentia por mim era errado?
De todas as perguntas que pude pensar, aquela era a ultima que eu imaginava que ele fosse fazer.
– É que quando eu era criança eu sentia algo parecido com Enzo. Náo entendia na época, mas queria estar sempre com ele. Ouvi diversas vezes minha avó falar mal dos vizinhos da casa da frente. Eram um casal gay e minha avó sempre dizia que aquilo era imoral e que Deus iria castiga-los. E quando O pai de Enzo fez aquilo com nós dois – parei para respirar quando as imagens vieram a minha mente – pensei que era Deus me castigando por estar apaixonado por ele. Não queria sofrer de novo e por isso não podia me aceitar.
Ele me olhou melancólico.
– Sabe que Deus não permitiu que aquilo acontecesse com você por castigo não é? Aquilo serviu para te fortalecer e para que nós pudéssemos nos conhecer. Ele queria que nós dois nos apaixonassemos um pelo outro.
– E agora ele está te tirando de mim – argumentos – Como isso não é um castigo?
– Deus age de maneira misteriosa Nick. Pode ter certeza de que você ainda vai ser muito feliz.
E fechou os olhos.
– Eu te amo – disse dando um beijo em sua testa.
– Eu também – respondeu.
foi nesse momento que sua mão perdeu as forças e ele se foi assim com toda a minha dor.
Um ano havia se passado desde a morte de Yuri. Meu pai foi julgado e condenado a vinte anos por assassinato. Dona Marta e Seu Pedro resolveram se mudar, pois aquele lugar lhes trazia muitas lembranças de Yuri. Pouco depois da morte do filho, Marta descobriu que estava gravida de três meses. não conheci o menino que ela chamou de Igor, mas por fotos, vi que ele tinha os cabelos cacheados como os do irmão morto.
A minha vida se seguia vazia sem a presença de meu amado. Não sentia nenhum tipo de felicidade ou tristeza. Era como se eu estivesse morto por dentro.
Minha mãe tentou me animar me levando para Santa Catarina onde eu Encontrei com um Enzo completamente diferente daquele que eu vi da ultima vez que fui lá. Era como se ele precisasse apenas do meu perdão para ser feliz. Saímos juntos Ele, a namorada dele Lilian e eu. Embora eu estivesse lá fisicamente, psicológicamente eu ainda estava no CTI onde Yuri morreu.
Já fazia quase dois anos quando voltei a sentir algo. Infelizmente era saudade. Saudade das noites que passava ao seu lado. Saudade de sua presença ao meu lado na sala de aula e na minha vida. Saudade de me sentir completo novamente.
Acordei aquela noite chorando. Tinha sonhado com ele. No sonho não falávamos nada, só sorriamos um para o outro. Quando tentei toca-lo, ele se desfez em fumaça me deixando sozinho no escuro.
Fui para cozinha e vasculhei as gavetas do armário da cozinha sentindo as lágrimas encharcar meus olhos.
Encontrei o que queria e fui diretamente ao quarto da minha mãe. Ela dormia tranquilamente em sua cama sem saber o que eu planejava.
– Me desculpe mãe? – pedi torcendo para ela não ter ouvido.
Voltei apressado para meu quarto e tranquei a porta. Me postei diante do espelho e diante da luz fraca da alvorada. Coloquei a faca em meu pescoço sentindo a lamina fria roçar minha pele. Comecei a corta-la lutando para não gritar diante da dor. Senti o sangue escorrer a dor avassaladora me dominar, até que ela desapareceu por completo.
Passei a mão por meu pescoço e o corte havia sumido. Aos meus pés, meu corpo estava caído sem vida e com um enorme corte no pescoço por onde o sangue escorria sujando o chão.
Senti um toque quente e conhecido em meu ombro. Me virei e lá estava ele. Tão bonito o saudável como sempre, mesmo que fosse apenas uma criança de nove anos como quando o conheci. Estranhei o fato de mesmo sendo uma criança! ele fosse dois centímetros maior que eu. Olhei para o espelho e vi que eu também era uma criança de oito anos. Voltei meu olhar para ele e sorri.
– Senti muito a sua falta – eu disse o abraçando.
– Eu sempre estive ao seu lado mesmo que não pudesse me ver – ele respondeu chorando de felicidade.
Nós nos beijamos como nunca havíamos nos beijado antes. Com tanto amor e desejo que nossos espíritos ardiam.
Uma luz tão clara que ofuscava nossa visão se estendeu diante de nós nos acalentando e trazendo uma felicidade inimaginável.
– Vamos finalmente ser felizes – ele me disse sorrindo.
Assento e segurei sua mão. O caminho para o paraíso é árduo e difícil. Por mais que a gente tente, a vida não é fácil. É cheia de decepções, perdas e tristeza, mas no final vale a pena. Tudo faz parte do caminho para o paraíso. Juntos Yuri e eu demos os últimos passos para a felicidade eterna.
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E esse foi o primeiro final de Caminho para o paraíso. Espero que tenham gostado e saibam que foi muito difícil chegar até aqui. Foram quase quatro meses! Comentem o que acharam e esperem para o próximo final que terá dois capítulos, pois ficou maior do que esse. Então é isso galera, espero que tenham gostado e meu próximo conto já está em produção e se chamará: "As férias da minha vida". Até o próximo!