No outro dia assim que me mexi percebi que ele também estava acordando, senti seu membro duro que estava encostado em minha bunda, claro que não de forma proposital, mas estava. Comecei a pensar que ele iria se levantar e perceber a burrada que estava fazendo, quem iria me amar? Mas logo sua voz rouca e máscula em meu ouvido tirou esse pensamento da minha cabeça.
— Bom dia meu amor!
— É… Bom dia! — Eu disse sentindo seus beijos em meu pescoço.
— Dormiu bem? - Disse ele me virando e enchendo minha boca d beijos, não dando pra eu responder.
— Eu preciso ir, tenho muita coisa pra fazer em casa. Mas foi muito bom passar a noite com você! — Eu disse já me levantando e pegando minhas coisas,
— Vamos ao menos tomar café? Depois eu te levo até sua casa. Quero te aproveitar ao máximo hoje! — Ele disse sorrindo, e então conseguiu me hipnotizar novamente e eu sem nem mesmo perceber concordei.
Mas o café da manhã não aconteceu, enquanto esperávamos a governanta servir o café e nos chamarmos eu me sentei no piano na sala e Luís Otávio foi ao banheiro, não sei se já tive um piano mas tenho vária lembranças de um, e de alguém cantando comigo essa mesma música, a pessoa se parecia com as fotos que eu tinha da minha mãe mas sei que não era ela. Então levantei a proteção das teclas e comecei a tocar e cantar essa mesma música, sem nem mesmo perceber o que fazia. A música se chama ‘Defying Gravity’, em algum tepor parei de cantá-la e me virei, não estava mais sozinho na sala Otávio estava ali e um homem de uns trinta e oito ou quarenta anos estava atrás dele, com os olhos cheios de lágrima, Otávio no entanto apenas sorria me olhando, mas antes que pudesse falar algo o outro homem disse alguma coisa que me abalou imediatamente.
— Guilherme? É você? — Ele disse.
Quando ouvi essa voz me lembrei de uma outra muito parecida e gritos e ódio misturados aos meus gritos de dor. “Guilherme, como pode fazer isso? Você não é meu filho, como pode faze russo seu viado?”, eu estava aos prantos e imagens dominavam minha mente, imagens de uma ambulância, uma sala branca em um hospital, da volta pra um grande apartamento e depois daquela terrível cena de eu chorando na chuva caído no asfalto de frente a um grande prédio.. Eu só consegui criar forças quando a mão do homem tocava meu ombro.
— Eu não devia, me perdoe…
E então me levantei, pequei minha mochila na mesa próxima e corri em direção a saída, nunca corri tanto! A única forma de fugir foi entrando numa igreja quando cheguei numa praça, ali nem aquele homem, nem Otávio e nem ninguém iria me encontrar, eu queria ficar sozinho e então me sentei num banco e chorei a manhã toda, chorei a tarde toda enquanto descia a pé até um ponto de ônibus e quando cheguei em casa o carro preto estava estacionado na porta e havia alguém sentado no chão, chorando também. Ele levantou a cabeça quando notou minha presença, se levantou e chegou até mim!
— Pensei que tivesse acontecido alguma coisa! — Ele me abraçou e colou sua boca na minha, iniciamos um beijo que foi rápido por estarmos na rua. Abri o protão e passamos pra dentro, Thor notou minha tristeza e me acompanhou depressa, me sentei no sofá e acariciei meu Labrador fiel, que foi o único a me acompanhar por vários anos.
— Me conta o que aconteceu, porque você fugiu depois de ver meu pai? — Ele disse se sentando ao meu lado.
— Aquele é, ele é, seu pai? — Disse eu gaguejando.
— Sim! Na verdade não, ele em considera, mas minha mãe se casou com ele quando eu já tinha quinze anos, nunca conheci meu verdadeiro pai e ele fala que perdeu um filho também e então me considera como um. Mas o assunto aqui é você, me conta.
— Sabe, o que te disse ontem? — Ele concordou com a cabeça. — Então, não estou pronto pra detalhar tudo, mas um dia eu vou falar. E quero tomar banho, me espera aqui?
Ele concordou novamente pensativo e eu fui em direção ao banheiro, tomei meu banho todo pensando no acontecido e tentando encaixar as peças que faltavam, quando saí só um uma bermuda ele me puxou com tudo na porta do banheiro, me encostou na parede;
— Você pode não poder me contar tudo, mas vai ter que me dar respostas! Você leva uma vida muito simples, mas fala inglês muito bem pelo que vi na faculdade, toca piano, canta muito bem e quando viu o Gustavo (‘pai’ do Otávio) lá em casa teve aquele drama todo, sua sua parte e da parte dele! Porque ele te chamou de Guilherme? Como isso tudo pode acontecer? Eu te amo muito e estou preocupado com isso tudo, não consigo assimilar nada disso e estou ficando louco! — Ele disse tudo isso e estava arfando sem fôlego no final.
Eu já havia voltado a chorar.
— Não sei, eu juro. Só me lembro de tocar aquela música com uma mulher. E quando aquele homem me chamou de guilherme, alguns flashes daquela mesma voz gritando irada enquanto eu era agredido passou pela minha cabeça, e depois uma das cenas que me aterrorizam há três anos passou pela minha cabeça. Eu me lembrei da noite que me fez ter essa vida, me lembrei de ter sido jogado no esfalfo enquanto chovia, de gastar até minha última moeda nessa casa e de ter até mesmo passado fome por algum tempo. — Eu nunca havia chorado tanto quanto estava chorando. — Não me pressione, é tudo muito difícil!
— Eu não devia.. — Ele me beijou novamente, me levou até o quarto e se deitou comigo. — Vai ficar tudo bem. Já avisei pro meu tio que você não está em condições de trabalhar hoje.
Caímos no sono, na minha cama mesmo, abraçados eu e ele choramos juntos po algum tempo, nunca que eu havia pensado que teria alguém pra me apoiar, depois de sofrer tanto pude dividir isso com alguém e pela primeira vez acreditei que tudo realmente poderia ficar bem.
Acordei ás seis da manhã, morrendo de fome, fiz algo pra comer e esperei Luis Otávio acordar. Eu estava apreensivo pelo que iria acontecer dali para frente, ele acordou uma hora mais tarde e me vendo no sofá sentado com Thor deitado no chão sobre meus pés ele disse.
— A gente precisa resolver tudo isso. Se Gustavo te reconheceu ele deve estar metido nessa e eu quero uma explicação dele, se ele te machucou vai se ver comigo!
— Eu já acho que não devemos mexer no que já é passado, é só eu não ir na sua casa que não o vejo e pronto.
— Ele disse que precisa explicar o que realmente aconteceu, acho que precisamos ouvir. — Otávio disse com calma me abraçando no sofá.
— Eu realmente não gosto de mexer no passado, mas se você acha que é preciso podemos conversar com ele.
Não ví outra forma, eu estava desgastado com esta história, já iriam fazer quatro anos que tudo aconteceu e não me lembro de nada, aquele cara, provavelmente meu pai, havia me espancado até eu ficar inconsciente e talvez por isso eu me lembro de um hospital? Será que por causa disso lembro tão pouco dessa parte da minha vida? Aceitei que deveria conversar com aquele cara, e naquele mesmo dia, a noite marcamos um jantar na casa de Luis Otávio e este também prometera me anunciar como seu namorado.