Então com essa promessa Luis Otávio saiu de minha casa ás onze horas, eu tinha bastante coisa a fazer, como não tenho tempo durante a semana tiro o fim dela pra limpar a casa, lavar e passar, e foi assim que ocupei toda a minha tarde, depois tomei banho e vesti uma calça skinny preta e uma camiseta branca, tênis e esperei Otávio. Ás sete e meia ele estava lá usava uma calça preta, e uma camiseta verde que realçava o verde dos seus olhos e também seus músculos. Tranquei o portão e entrei no carro, fomos em direção a sua casa e eu estava bastante apreensivo.
Novamente vi o portão de sua casa subindo e entramos na garagem, eu estava bastante trêmulo quando o Luis Otávio segurou em minha mão e disse em meu ouvido que tudo ficaria bem e me puxou pra dentro, eu andava pois era puxado, caso o contrário estaria parado e gélido na porta enorme de entrada da casa. No Sofá da sala estavam Gustavo e a mãe de Luis Otávio que se chamava Natália, quando nos viu entrando Gustavo levantou seu rosto e olhou para meus olhos, o encarei e vi olheiras assomando seu rosto, Natália estava calma e sentada despreocupada, estava muito bem vestida com um vestido Versace que deveria ser caríssimo.
Luis Otávio me levou até um dos sofás e nos sentamos lado-a-lado.
— Bom, fiz o que tinha que fazer! — Disse ele olhando pra mãe e pro pai.
Pensei que seu pai abriria a boca e diria algo, mas quem conduziu a conversa foi Natália, que foi muito cordial e educada.
— Bom, Rafael, ou Guilherme, pois não sei como devo te chamar.
— Eu me chamo Rafael! — Eu disse ríspido.
Notei que quando recusei ser chamado de Guilherme uma respiração mais forte e uma espécie de soluço por parte de Gustavo, ele aprece que sofria com toda essa história.
— Tudo bem Rafael? — Ela disse.
— Como eu poderia estar? Todo esse passado me assombrando. — Eu disse chateado.
— Deve ser bastante desagradável, mas ás vezes só enfrentando o passado é que podemos chegar efetivamente ao futuro. Eu conversei com o Otávio, ele me falou da relação dos dois e saiba que apoiamos totalmente, e ele também me disse que apesar de toda essa parte triste do passado você não s relembra muito bem do que aconteceu com você.
— Na verdade nem eu lembro disso direito. — Disse Gustavo pela primeira vez. — Eu só me arrependo e sofri com o que fiz durante mais de três anos! Você não tem noção do quanto foi doloroso conviver com a realidade.
— A sua realidade pode ter sido difícil por um tempo, mas a minha continua sendo! Eu passei fome, eu não tenho um amigo se quer e vou pra faculdade na condição de ser humilhado por todos que estão lá. Eu enfrento isso dia-a-dia.
— E eu me sinto muito mal, porque fui o culpado por tudo isso! — Ele começa a chorar mais intensamente.
— Sabe o que é pior? — Eu disse tendo a atenção de todos novamente. — Eu teria sido capaz de perdoar qualquer coisa se você não tivesse me jogado na rua e mudado todos meus documentos pra eu não ter mais rastros de você. — Eu comecei a chorar. — E ainda deixar um cartão com a senha e quinze mil reais depositados pra eu poder começar outra vida.
— Do que você está falando? — Gustavo me olhou, ainda chorava mas estava com olhar incrédulo. — Você que saiu de casa, fugiu deixando apenas um bilhete depois que havia se recuperado dos hematomas e saído do coma.
— Eu? NÃO SEJA CÍNICO!
— Não estou sendo! Natália, pegue a carta!
E então Natália subiu as escadas e minutos depois volta com uma carta, a caligrafia realmente parecia a minha, mas eu tinha certeza que não era. Eu não a havia escrito e agora percebia que isso tudo fora uma armação, alguém estava por trás daquilo tudo.
— Eu juro meu filho, eu nunca faria isso! Você é a única lembrança que eu tenho de sua mãe, eu estava fora de mim quando vi você beijando aquele garoto, e imaginei várias coisas, eu não devia ter te batido e te machucado daquela fora, mas juro meu anjo que não te joguei na rua! — Ele chorava tanto que me fazia chorar mais ainda, fomos vítimas de uma armação, no entanto não sei quem poderia fazer isso.
— Eu não sei o que dizer
— Eu espero que aceite minhas desculpas meu filho, e saiba que teríamos o maior prazer em termos você nessa casa.
— Eu nunca tive raiva do que você fez, eu havia o perdoado no entanto você sumiu, eu estava com documentos que mostravam outro nome, sobrenome e endereço e em frente a um prédio porém estava com parte da memória apagada, nunca mais consegui voltar ao mesmo lugar. Mas não quero vir pra essa casa, não por enquanto.
— Então eu irei te dar um apartamento, e te ajudar, não quero você trabalhando naquela pizzaria.
— Eu não quero, e não vou sair do meu emprego. Não agora, não desse jeito! Eu estou muito confuso. E eu preciso ir agora.
Otávio me levou embora, não quis me deixar sozinho e então dormiu junto comigo, no outro dia saiu logo de manhã e eu resolvi não ir a faculdade, desliguei meu telefone, tranquei o portão de casa e fiquei o dia todo pensando o quão doida era aquela história. Não fui trabalhar, nem naquele dia, nem nos outro três seguintes. Não queria perder meu emprego, mas eu fora demitido e perdi a semana toda na faculdade, não tendi Otávio e não respondi nenhuma mensagem. Não sei o porque fazia aquilo, mas tudo estava muito estranho na minha vida. Na sexta feira alguém bate no portão, não fui atender e então um número estranho me liga, atendo.
— Rafael, me atende no portão, é a Natália e eu sei que você está ai, preciso apenas conversar com você.
Abri o portão, ali estava ela, o motorista entrando novamente no luxuoso carro e aquela mulher loira de fronte uma casinha pequena e modesta num pobre e distante bairro da cidade, quando abri o portão ela entrou e se sentou no sofá, olhou em volta da casa.
— Gostei da organização, bens imoles mas muito organizado, assim como Otávio diz — Ela disse sorrindo.
— Eu até queria te convidar pra beber alguma coisa, mas hoje só temos água. — Eu disse sorrindo de volta.
— Ah sim, gelada por favor.
Então peguei uma jarra e um copo e levei até ela que fez questão de se servir.
— A situação está muito tensa Rafael, então eu mesmo quero conversar com você. Seu pai está investigando o que realmente aconteceu, e continua arrasado pois perdeu o único filho e acha que você ainda o culpa. Luis Otávio vai na faculdade todos os dias com a esperança de que você tenha ido e chega cada vez pior pela decepção de não te ver, não sai do quarto, praticamente não come e nem bebe. E eu vendo a situação desses dois estou praticamente doida. Eu entendo que você esteja confuso, quando era jovem passei por problemas, mas no meu caso meu próprio pai me tirou de casa.
— Eu não sei o que posso fazer dona Natália. — Eu disse tentando entender o fim da história.
— Por favor, apenas Natália. Eu queria que aceitasse a proposta de seu pai, se não quiser morar conosco aceite um apartamento e que ele te registre como filho novamente, é o que ele quer, ele sempre sonhou em te encontrar, gastou muito dinheiro com investigadores na época que você supostamente fugiu de casa, pouco depois disso o conheci. Ele mudou bastante.
— Dona, ah desculpa, Natália, eu não posso simplesmente passar por cima disso tudo como se nada houvesse acontecido, eu o perdoei por ter me machucado naquela época, mas não sei nem o que aconteceu depois.
— Nós podemos descobrir isso todos juntos, vamos nos unir, eu peço que venha!
— Te dou a resposta até amanhã! — Eu disse tentando contornar a situação e depois arrumar uma forma de enrolar essa resposta por o tempo que eu conseguir.
— Eu virei buscá-lo pessoalmente caso aceite.
E assim ela saiu, peguei meu telefone e comeceis ler as 89 mensagens deixadas pelo Otávio. Iam de ‘Eu te amo’, “me liga logo pois estou preocupado” a um recente “se não me ligar eu juro que vou me jogar com o carro em alta velocidade de uma ponte”. Notando o nível de desespero apenas respondi via mensagem “Também te amo” e coloquei o telefone no bolso. Era uma da tarde da sexta-feira, tomei um banho e me olhei no espelho, meu cabelo estava enorme e mal cuidado, eu tinha olheiras em volta do meu olho. Tentei me imaginar com quatorze anos, antes de tudo acontecer, eu era bastante bonito, meu cabelo loiro escuro tinha uma brilho que não tem mais hoje, os olhos do castanho ao verde brilhavam como os da minha mãe nas fotos que eu tinha, minha pele continuava a mesma, eu estava um pouco mais magro, no entanto o que mais me deixava estranho era as roupas que eu usava. Eu merecia algo melhor, mas não tinha condições de fazer a faculdade e trabalhar se não fosse pra ter apenas o básico do básico, me pregunto como consegui deixar de lado todo o luxo e viver com o básico tão naturalmente, peguei minha carteira, eu havia recebido há poucos dias e não havia pago nem água e nem luz ainda. E então resolvi fazer uma loucura, liguei pra um taxi, antes andava só de ônibus, e pra quem regula até mesmo as moedas, isso é uma loucura, e fui para o shopping. Fui a um bom cabeleireiro que deu um jeito mágico de trazer o brilho de volta aos meus cabelos e fez um corte estilo Justin Timberlake, comprei várias roupas e no fim estava eu indo embora arrependido. Peguei o celular e enviei “fiz uma loucura” pro Otávio. Ele em segundos respondeu “me conta! Fala logo, tá tudo bem?” eu então respondi “andei de taxi e cortei meu cabelo”. Alguns minutos depois ele reponde “lol andar de taxi só é loucura pra você, mas quero ver logo esse cabelo” e também enviou “quer ir jantar fora hoje”, eu respondi “tenho um compromisso hoje” e depois não olhei mais pro telefone embora ele tenha enviado diversas carrinhas tristes.
Cheguei em casa e procurei o cartão que Natália havia deixado, eu havia tomado uma decisão, não sei se era a certa, mas preferi ligar e avisar o mais breve possível.