Quando cheguei em minha casa, estava com a cabeça totalmente fodida. Tentava imaginar onde a minha vida iria chegar da forma como as coisas estavam indo. Uma noite eu era sarrado por um amigo e gostava tanto a ponto de ter uma ereção, um dia eu era beijado ternamente por um amigo e estava para explodir de tanto contentamento. Que coisa, não?
Não sabia exatamente como lidar com aquela situação. Eu ainda estava tentando evitar Pedro, mas Tiago eu teria que ver todos os dias, afinal, estudávamos juntos. Como seriam as coisas a partir do dia seguinte? Como eu deveria encarar ele de agora em diante? Sinceramente, eu não tinha a menor ideia.
Acontece que, na superfície, as coisas não mudaram nada aparentemente. Tiago continuou me tratando da mesma forma, como um amigo isolado, afastado da turma dele. Embora eu não pertencesse ao grupo dele, volta e meia ele ia até mim e me dizia alguma coisa engraçada, me fazia me sentir bem por um breve momento, me dava um belo sorriso amistoso e ia embora de novo. Ninguém iria perceber nada, pois só eu via o olhar cúmplice que ele me lançava.
Era comum nós irmos embora juntos da escola, caminharmos até metade do caminho, pararmos numa daquelas ruas pouco movimentadas, nos esgueirarmos para debaixo de uma daquelas árvores, e nos beijarmos por longos minutos, provando o gosto um do outro, de olhos fechados, nossos braços envoltos um no outro, concedendo afeto um ao outro. Esta era a nossa rotina, e ela quase nunca era quebrada.
E assim se passou mais de um mês. Já fazia quase dois meses que eu não ia na casa do Pedro. Minha tia achou estranho, perguntou se tinha acontecido alguma coisa. Eu logo disse que não. Ela também devia ter perguntado ao Pedro, e eu tentava imaginar o que ele tinha dito.
Até que um dia ele me ligou. Eu não tinha como fugir mais.
- Fala Pedro! - falei quando atendi a chamada.
- E aí Renan, de boa?
- Tudo tranquilo, que que tá pegando?
- Uai, eu é que pergunto, nunca mais apareceu aqui em casa.
- Foi mal cara, é que to na correria da escola, bicho tá pegando, então ando sem muito tempo pra nada - menti de forma lavada.
- Sai fora Renan, deixa de mentira, você mal faz dever de casa, quanto mais ficar estudando aí à toa.. já sei qual é a sua...
- To te falando moço... - fiquei apreensivo.
- Se for por causa do que rolou da última vez aqui, esquenta não, não é porque você é boiola que não pode vir aqui em casa, afinal, você ainda é meu amigo - disse ele em tom de zoação, mas eu não sabia o quanto daquilo era verdade e o quanto era zueira.
Fiquei calado.
- Renan, tá aí ainda? To de brincadeira véi, só pegando no seu pé, relaxa, aquilo acontece, deixa de piração.
- Tô de boa cara - foi o que consegui falar.
- Então, vai vir aqui em casa hoje?
- Pode ser - respondi, pouco confiante.
- Chega em quanto tempo?
- Eu poderia estar aí em dez minutos ou menos.
- Beleza então, to te esperando, falows.
Desliguei o telefone, respirei fundo, e resolvi que eu tinha que ir. Afinal, o cara era meu melhor amigo, enteado da minha tia, considerava o pai dele como se fosse da família, e ele não podia ficar pensando que eu era um boiola. Eu não era boiola. Mas também gostava de beijar meu colega debaixo da árvore. Foda-se! Ninguém precisava saber disso.
Vesti uma roupa normal, daquelas de ir comprar pão, e fui à casa do Pedro. No caminho recebo uma mensagem no celular do Tiago que dizia: "Liguei no seu fixo, mas você não está em casa. Espero que receba esta mensagem. Com você eu nunca poderia estar sozinho".
Ele nunca tinha me mandado uma mensagem, não daquela forma. Fui o caminho todo lendo e relendo aquilo, tentando decifrar uma frase tão curta. Eu ainda estava sonhando acordado, que nem um bobo, quando toquei a campainha do apartamento do Pedro, e ele me recebeu só de cueca.