- Eu quero comer você! – Fábio mandou na lata e o Davi ficou pálido.
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- O que você está me dizendo? Eu não acredito que me chamou até aqui para eu ter de ouvir isso? Eu não sou quem você está pensando. – Davi gritou.
- Calma. Eu só estava brincando. – o Fábio tentou amenizar a situação, pois ele sabia que tinha sido direto demais e se arrependeu de ter dito aquilo tão rapidamente.
- Você não estava brincando! Devia me respeitar, pois eu sou um servo do senhor! Como eu pude ser tão burro em ter dado confiança a um cara como você? Bem que todos falam...
- Ei! Pera lá! Tudo bem que eu devo ter te assustado com o que eu disse, e até te peço desculpa, mas daí me julgar por isso? Quem tu pensa que é seu pastorzinho de merda?
O Fábio engrossou a voz e encostou perto dele, imprensando-o na parede.
- Eu pensei que tu era um cara mais esperto e safadinho, mas pelo visto me enganei. Nem se atreva a me julgar da próxima vez, ouviu bem? Você não sabe quem eu sou e do que eu sou capaz.
Davi apenas o encarava com o olhar de medo. Ele ficou pálido e sem força, mas Fábio não tirava a mão da camisa dele e continuava a imprensá-lo na parede.
- Você está me machucando.
- Sabe o que eu devia fazer com você? Hein? – Fábio se aproximou mais um pouco e... O beijo aconteceu. Mas foi um beijo forçado, bruto e quente. Era o primeiro beijo do Davi, que não se rendeu e empurrou o Fábio.
- Não faça mais isso! Ouviu bem? – ele gritou e chorou ao mesmo tempo. Estava magoado por dentro, e saiu dali correndo, indo direto pra casa. Chegou ao quarto e se atirou na cama, aonde o choro veio com intensidade.
O peito dele queimava. Era o seu primeiro beijo e um beijo estranho, mas que no fundo, conseguiu despertar algo dentro dele. Davi vive uma vida tão regrada e correta, que o outro lado da vida, que todo ser humano deve viver e conhecer... Ele não sabia nem como começar. Estava com raiva do Fábio, pois ele não tinha o direito de fazer aquilo com ele, ou será que ele estava com raiva dele mesmo, por ser tão diferente os outros?
O sol amanheceu apontando uma terça-feira de muito calor. Ele foi para o colégio e mal conversou com o Rafa, que não parava de questionar o estado dele.
- Não vai me contar mesmo o porquê desta cara?
- Rafa, eu já disse que estou bem!
- Davi, eu te conheço desde criança e sei que você está mentindo pra mim.
- Eu preciso pensar numas coisas, depois conversamos. Agora eu tenho de passar na igreja.
Ele saiu feito um furacão, deixando o amigo no vácuo.
A caminho da igreja, ia refletindo sobre sua vida. Como era difícil pra ele querer ser o seu outro eu. O eu verdadeiro que implorava pra sair. Sempre ouviu das pessoas que o homossexual estava condenado ao inferno e que ele era uma praga no mundo, e esta frase pesou tanto em sua vida, ao ponto de fazê-lo ser infeliz.
Quando chegou a igreja, se ajoelhou no banco e fez sua oração. Nem viu quando o pastor se aproximou e tocou em seu ombro.
- O irmão Davi está com algum problema? – ele se virou assustado.
- Como vai pastor Claudio? Não, eu estou bem. Só passei aqui antes do culto, porque eu queria fazer um pedido a Jesus.
- Vejo que o irmão tá meio apreensivo. Quer conversar?
- Eu estou bem.
- E o ensaio para o coral? Está indo tudo tranquilo?
- Sim. Será uma apresentação linda! Se o pastor não se importa, eu preciso voltar pra casa.
- Vá com Deus meu filho. E se fez algo errado, lembre-se do juízo final. Se arrependa enquanto há tempo.
Davi apenas o encarou, congelando por dentro. Aquilo que ele disse só piorou a sua situação.
O ser humano é algo inexplicável! Se acham no dom de julgar por acharem que sabem tudo e que estão certos naquilo que dizem... Mas mal sabe o homem, que eles não sabem de nada. E que Jesus pode surpreendê-los.
Ele havia esquecido completamente do coral. Só tinha mais uma semana para ensaiar, antes da apresentação. Seus passos iam pesados pela calçada, e quando estava prestes a chegar em casa, foi surpreendido por uma moto que parou em sua frente.
- Oi. – disse o cara tirando o capacete e revelando o a sua face.
- Eu pedi pra você não falar mais comigo. Sai da minha frente. – Davi seguiu andando.
- Eu queria te pedi desculpas por ontem. Eu fui um pouco precipitado.
- Você foi nojento. Não me respeitou em nenhum momento. Eu quero fingir que você não mora ao meu lado e quero rezar pra não tiver na rua.
- Ei cara! Foi mal. Tá eu errei com você. Mas eu pensei que...
- Que eu era igual a esses caras que ficam se prostituindo a noite em beira de rua, e que você podia fazer o que quiser comigo. Se enganou!
- Eu não pensei isso. Eu só achei que você fosse mais espontâneo. Eu sou um cara bonito e pensei que você não fosse recusar meu pedido.
- Além de tudo você é pretensioso. Escuta aqui, eu não sou quem você está pensando. Não curto homem e se eu curtisse você não entraria jamais na minha lista!
- Não é o que o seu olhar está dizendo. Eu não quero ser intruso, e sei o quanto deve ser difícil pra você ter o pais que tem, mas não adianta esconder de você mesmo o que tá estampado em sua cara.
- Não fale dos meus pais. E você não sabe nada da minha vida. Vai ver se eu estou na esquina. – ele voltou a andar pela calçada.
Fábio gostava de provocar. Fazia parte da personalidade dele, e por incrível que pareça, o Davi conseguiu mexer com ele de alguma forma especial. Ele era bissexual, e sempre teve rolos com mulheres, mas desde a primeira vez que se envolveu com um amigo do passado, sua preferência tornaram-se os homens.
- Sabia que você fica tão sexy raivoso? – ele riu descaradamente. – E que bunda você tem.
- Quer parar! Não me faça criar ódio de você.
- Eu pensei que os evangélicos não tinham ódio das pessoas. – ele ironizou.
- Você pode ser uma exceção.
- Sabe o que me deu vontade agora? De morder essa tua boquinha gostosa.
- Para com isso! Ou sou capaz de te denunciar por assédio sexual. – Davi gritou com ele.
- Sobe na minha moto. Deixa eu te levar pra um lugar perfeito.
- Cara, me esquece! Eu não sou o que você pensa. Isso já tá virando perseguição.
- Eu sou teu diabinho. E não vou desistir enquanto eu não te pegar. – ele encostou perto do ouvido do Davi e deu um sussurro.
- Babaca! – ele empurrou o Fábio e foi surpreendido por seu pai que apareceu na hora H.
- O que você está conversando com este rapaz? Hein Davi?
Ele ficou pálido e começou a gaguejar. O Fábio foi mais rápido e respondeu por ele.
- Boa tarde senhor. Eu só estava perguntando ao seu filho se ele conhecia uma rua que fica no bairro vizinho ao nosso. – Obrigado pela informação.
Davi entendeu a jogada dele, e confirmou o que ele havia dito para o seu pai.
- Eu não te falei para se afastar deste marginal? Vá direto pra casa que eu vou até a farmácia. Espero não ver esta cena novamente.
Ele obedeceu e partiu. Ao chegar em casa, mal falou com sua mãe e foi direto para o quarto. Se jogou debaixo do chuveiro, e por alguns momentos, ele começou a rir. Tinha que confessar para si próprio, que o Fábio era um homem atraente e que despertava seus desejos mais íntimos. – Ai Davi, o que você vai fazer?
CONITNUA...