Capítulo Quatro
A COISA CERTA A SE FAZER
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Havia se passado uma semana e era segunda novamente. Eu tive muitos dias para pensar em como eu seria visto na empresa. As piadas não iriam acabar, talvez eu não ouviria ou veria nada, mas continuariam e desde que eu não ouvisse sobre eu não me importaria, afinal o que os olhos não veem o coração sente.
Eu me levantei 06:00 fui até o banheiro tomei um banho, escovei os dentes e fui até a cozinha para comer algo e meu pai já estava acordado.
- bom dia pai. – falei.
- pai? Não me chama mais de paizão?
- é seu castigo por ter ido ao meu trabalho.
Eu me sentei de frente para ele do outro lado do balcão e coloquei um copo de leite com achocolatado.
- não precisava ter acordado tão cedo.
- eu me esqueci de te avisar que eu vou te levar hoje. Uma carona sempre é bem vinda.
- obrigado – falei.
Depois que nós comemos eu subi ás escadas escovei meus dentes e peguei meu terno e minha gravata que tinha chegado da lavanderia dois dias atrás e fui até o carro do meu pai. A caminho do trabalho iniciei uma conversa.
- o senhor vai trabalhar hoje?
- vou sim.
- em casa?
- sim. Porque?
- eu estava pensando em marcar uma noite de filmes com Charley.
- pode marcar.
- gostaria que o senhor estivesse também.
- tudo bem meu filho pode marcar.
- tem certeza? Não quero que o senhor esteja presente se o senhor não se sente confortável comigo e Charley.
- porque você é assim Mike?
- assim como?
- você tem essa mania de tentar decifrar o que as pessoas pensam sobre você e depois joga em cima delas.
- eu não faço isso pai.
- faz sim. Fez comigo. Você coloca na cabeça que eu não te aceito e depois faz a suposição e fala como se eu tivesse feito algo. Eu sempre deixei tudo tão confortável com você. Sempre te aceitei e vai por mim, não foi fácil conversar com você sobre sexo. Eu tive que passar um dia inteiro assistindo a filmes pornográficos entre dois homens só para poder te explicar como tudo funcionava.
Meu pai estava falando a verdade. Eu sempre esperava o pior das pessoas. Talvez sejam os noticiários, mas talvez o mundo esteja mesmo diferente.
- desculpa pai. O senhor não contou nenhuma mentira.
- eu não estou jogando nada na sua cara filho, só estou dizendo que talvez seja melhor dar uma chance as pessoas a se expressarem. Você pode se surpreender com o que elas pensam sobre você.
- vou tentar – falei sorrindo.
Logo chegamos á empresa e meu pai estacionou o carro do lado e nós dois saímos do carro.
- o senhor vai me levar lá em cima? – perguntei.
- não preciso – falou meu pai tapando o sol em seu rosto com uma mão e com a outra apontou para Adam que saia de seu carro e vinha em nossa direção.
- bom dia – falou Adam apertando a mão do meu pai. – tudo joia Mike?
- sim.
- fico feliz que esteja de volta.
- obrigado.
- o senhor quer subir para tomar um café? – perguntou Adam
- vamos pular as formalidades afinal nós temos praticamente a mesma idade, pode me chamar apenas de Larry.
- aceita Larry?
- não, obrigado, preciso chegar em casa e trabalhar em novos cartoons.
- bom, nesse caso, foi bom ver você Larry.
- digo o mesmo – falou meu pai.
- até a noite filho.
- até a noite paizão – falei baixo e dei um abraço nele e um beijo no rosto.
Ele entrou no carro e partiu e Adam e eu fomos em direção à entrada. Eu desci no 5º andar para vestir meu terno e Adam subiu até o 20º andar.
Eu entrei no elevador que já tinha alguns estagiários. Eu entrei e eles ficaram em silêncio até que desceram no 20º andar. Eu achei estranho, mas eu já esperava por isso.
Eu desci no 20º andar e fui até minha mesa, liguei o computador. Minhas coisas estavam fora de lugar, Sabrina tinha mesmo passado todo aquele tempo. Eu arrumei minhas coisas e logo o elevador se abriu e todos apareceram e vieram até mim.
- bom dia – falei para Gray que apertou minha mão. – senti sua falta cara.
- também senti, é tão chato ficar em casa sem fazer nada.
Steve veio e apertou minha mão.
- beleza? – falou ele.
- sim e você?
- estou ótimo.
Eles entraram na sala junto com Vanessa que também me cumprimentou. Passado alguns poucos minutos Xavier chegou.
- bom dia Mike.
- bom dia senhor. – ele veio até mim e apertou minha mão forte.
Ele também entrou na sala e como eu esperava alguns minutos depois meu telefone tocou e Adam pediu para que eu fosse até a sala.
- com licença falei entrando.
- sente-se aqui – falou Adam mandando me sentar na cadeira de frente para ele de modo que todos estavam em pé.
- Mike, eu gostaria de dizer que você não precisa mais se preocupar, os responsáveis já foram demitidos.
- como o senhor descobriu?
- eu disse que ia usar as armas que eu tinha. Foi fácil.
- mas não vai fazer falta?
- eu demiti 6 pessoas, incluindo Hunter que tratou de dedar os amigos.
- nós já recebemos mais de 40 currículos – falou Xavier.
- bom, eu tenho que agradecer – falei – mas eu tenho que pedir desculpas pelo meu pai ter vindo até aqui.
- não precisa se desculpar, eu também sou pai e sei como seu pai se sentiu. Imagina descobrir que o filho é falado como uma puta no trabalho, como um viado que dá o rabo para manter o emprego.
Adam usou exatamente essas palavras. Era como se a admiração que eu tinha por aquele homem tivesse se despedaçado dentro de mim como caco de vidros.
- você é um rapaz bom e responsável Mike, você não merece ser comparado com esse tipo de gente indecente.
Todos riam um pouco quando ele falava aquelas coisas, eu tentei forçar uma risada, mas não consegui. A única que não riu foi Vanessa que já desconfiava.
Ouvir aquilo me doeu bastante, era pior do que levar um tiro. Sempre gostei de imaginar que as pessoas que eu trabalha eram educadas e bem evoluídas. O pior é que iria ficar remoendo dentro de mim, então decidi abrir logo o jogo, para que não precisa-se que meu pai viesse no meu trabalho outra vez.
- senhor com todo o respeito, mas essas palavras que disse agora me doeram muito.
Todos pararam de rir e prestaram atenção em mim. Eu estava nervoso, mas eu tinha que fazer o que tinha que ser feito, doesse a quem doer.
Eu vi que a expressão de Adam mudou.
- desculpe, mas eu sou gay e posso te garantir que não tem nada de indecente no meu comportamento.
Todos ficaram em silêncio e Adam mudou sua expressão transparecendo um rosto arrependido.
- Mike, eu não quis... não teria... – falou ele se concertando na cadeira.
- não adiantou muita coisa ter demitido pessoas se eu vou ser ofendido por você que é meu chefe.
Ficamos todos em silêncio e eu sentia algo dentro de mim, que não me deixava calar a boca e agora que eu tinha dito tudo aquilo, só restava apenas uma coisa para ser dita.
- sendo assim... Eu me demito. – eu disse isso pegando o meu crachá e o cartão que eu usava para entrar no prédio e me levantei e sai pela porta.
Eu fui até o balcão dei a volta e peguei minha mochila e comecei a colocar algumas coisas dentro quando Xavier saiu pela porta andando rápido e foi até mim.
- Mike, meu irmão não quis dizer isso.
- vocês são advogados e podem estar com medo que eu processe vocês, eu posso, mas não vou fazer isso. Eu realmente aprecio tudo o que fizeram por mim.
Adam e Vanessa saíram da sala e vieram até mim.
- Mike por favor – falou Adam se aproximando.
Não falei nada e apenas continuei colocando minhas coisas na mochila.
- Xavier, Vanessa por favor, me deixem conversar á sós com ele – falou Adam um pouco arrogante.
Deu a volta no balcão e me chamou para perto da parede e me chamou para junto dele e chegou perto de mim e falava em um tom baixo de modo que apenas eu escutasse.
- Mike, pelo amor do que você acredita, não vá embora.
- eu não posso continuar sabendo que o senhor pensa daquele jeito, se um dia você disser algo parecido perto do meu pai, ele é capaz de ir pra cima do senhor. Vai por mim. Eu respeito o senhor ter essa opinião. Mesmo que seja uma opinião idiota, preconceituoso de medieval, mas até eu consigo respeitá-la.
- me perdoa, eu não quis dizer aquilo, é que achei que estávamos todos entre amigos e héteros.
- quando está com seus amigos héteros é assim que você fala o meu “tipo de gente”. Você fala como se fossemos pessoas se segunda categoria. Como se merecêssemos tudo o que sofremos todos os dias.
- você não é pessoa de segunda categoria.
- é meio difícil de acreditar depois de ver todos rindo da minha cara.
- eu não sei o que dizer para concertar o que eu disse. Me sinto profundamente arrependido.
Respirei fundo e tentei me acalmar. Estaria eu equivocado? Estaria eu sendo levado pelas emoções?
Eu finalmente tinha seguido o conselho do meu pai e deixado as pessoas se expressarem e olha só no que deu? As pessoas foram exatamente o que eu esperava delas: mesquinhas e preconceituosas
- eu sinto muitíssimo, fique, eu te dou um aumento de 50%.
- então vai me subornar? É o medo do processo?
- mas é claro que…
- não. Obrigado. Prefiro ser um desempregado com dignidade do que um homem que fica em um local de trabalho desprovido de respeito apenas pro dinheiro.
- eu não penso daquele jeito, é que costumamos fazer esse tipo de brincadeira.
- para se sentir superiores? Fazer essas brincadeiras infla seu ego o suficiente? Se achar melhor do que os gays realmente faz com que você se sinta melhor consigo mesmo? Qual sua desculpa? O fato de não podermos engravidar? A “palavra do senhor?” ou o simples argumento de “o excretor não foi feito para reproduzir?”
- Mike, você entende... essas brincadeiras surgem quando o assunto surge.
- quer saber? Eu não entendo. Nunca entendi, não sei o que tem de engraçado. E seu eu dissesse para você que vive uma vida indecente traindo sua esposa? Que você não vale o que come? E se eu chamasse sua esposa de corna?
Respirei fundo quando eu disse aquilo. Estava claramente muito nervoso, mas agora que o botão havia sido apertado já não tinha mais volta.
- me perdoa Mike. Eu peço sinceras desculpas elo o que disse ou por como eu fiz você se sentir. Realmente não tive muito contato com gays em minha vida, só no colegial e você sabe como é. Ou você zoa os gays ou você se torna um deles. Eu não fui homem o suficiente para defender os gays que sofriam bullying e acabei me tornando um bully. Eu sei que tenho muito que aprender e vou aprender, especialmente pelo tipo de pessoa que você é.
- obrigado, significa muito ouvir isso de você.
- Se todos os gays forem como você, responsáveis, trabalhadores, humildes... o mundo será melhor se estiver cheio deles.
Olhei para baixo e fiquei encarando o chão, já estava me arrependendo de tudo o que tinha dito para ele.
- me desculpa pelo o que eu disse – falei.
- depois do que eu disse, você é que precisa aceitar minhas desculpas. Você não sabe o quanto eu estou envergonhado pelo o que eu disse, quando você me falou que é gay eu quase morri por dentro, me senti impotente e no colegial outra vez. Eu tive muitos desafios na minha vida e agora sou um homem de sucesso que tem a chance de fazer a coisa certa. E é isso que eu vou fazer. Você é gay e eu tenho orgulho de ter você na minha equipe. Tenho orgulho de você ser meu braço direito.
- acredite em mim quando digo – falei tentando conter um sorriso – o senhor fez a coisa certa dessa vez.
- vivendo e aprendendo. – falou Adam – batendo a mão em meu ombro e mantendo ela. – posso contar com você?
- pode sim. – respondi.
- obrigado – falou Adam.
Ele me acompanhou até a sala dele aonde eu pude pegar meu crachá e voltei para a mesa.
Os outros estavam em frente ao balcão conversando. Eles se despediram e logo estava de volta ao trabalho, pronto para outra semana.