Não sei muito bem o que ela falou pois fiquei no meu quarto empolgado em arrumar minha mala, tudo que eu mais queria era sair daquele lugar, que já me sufocava, e não, eu não guardo magoa alguma do meu pai, na verdade ele deve ter magoa de si mesmo, pois ele transformou minha questão sexual em algo publico se não fosse tão cabeça dura eu provavelmente nem iria me assumir, ficaria só com a família mesmo, seria até mais fácil, e eu acho que minha barreira sexual, barreira que eu mesmo construí era por medo do vírus HIV eu seria hipócrita se dissesse outra coisa, infelizmente nossa condição sexual esta totalmente ligada a esse vírus e eu menino do interior nem sabia o que era direito, mas tinha muito medo, por mais instrução que minha mãe tivesse ela se limitava a certos tipos de informação com a gente, logico ela tinha a preocupação mas ficava na dela, e só dizia algo quando eu perguntava.
Esse medo é por coisas que meu pai dizia, ele já me disse que agora que eu era viado, era uma questão de tempo até pegar AIDS e envergonhar a família de vez, que ele me mataria se eu obrigasse eles a ter que se mudar por conta de uma doença minha, parece meio tenso quando eu falo né? E de fato era, um dos fatores que mais pesaram na minha decisão de vazar daquela casa era as diferenças entre meu pai e minha mãe, eles começaram a brigar muito, o meu pai e meus irmãos contra mim, e minha mãe na minha defesa e isso estava desgastando muito a minha coroa, era melhor eu sair pela tangente e deixar as coisas acalmarem na minha casa, eu sentiria falta claro, mas era o melhor a se fazer e meu pai naquele momento estava começando a me apagar da família, a ponto de não comprar passagem aérea pra eu viajar com eles, me deixar pra trás, eu nem sei o que se passa na cabeça dele, mas tudo bem.
Terminei de arrumar minhas malas, fui ao banheiro e tomei banho, aquele que seria meu ultimo naquela casa, vesti uma roupa e fui pra varanda ler um livro, meus irmãos assim como meu pai nem me olhavam quando eu passei eles abaixaram os olhos, antes me olhavam com desdenho, não sei o que minha mãe tinha dito, mas havia funcionado, minha irmã mais nova mesmo me implicando era o mais próximo que eu tinha de uma amiga dentro de casa, quando eu estava foleando as paginas sem me concentrar em nada ela foi falar comigo e no seu discurso me disse que nem imaginava que minha situação era sufocante daquela forma, se desculpou comigo me dizendo que mudaria, e tinha certeza que o resto da família também, que sair de casa era uma atitude muito extrema, que se eu fizesse isso, eu estaria dando a vitoria a meu pai, e com isso eu jamais poderia voltar caso alguma coisa desse errado.
Achei sincero tudo que ela me disse, mas por mais honesta que ela tivesse sido, eu não poderia nem argumentar com ela, pois era uma decisão acertada eu iria embora e ponto, fiquei em uma parte isolada da casa até ser pego pelo sono, e fui para meu quarto dormir, acordei no outro dia era mais ou menos nove da manhã meu irmão mais velho e irmã mais nova estavam na cozinha, minha outra irmã estava na sala de estudo, dos meus três irmãos a única universitária era ela, cursava Psicologia na estadual do MT, os outros dois viviam mamando na carteira do meu pai, preparei uma vitamina pra eu tomar a Cida já estava em casa, cuidando de tudo, por volta de 10:00 minha mãe chegou e junto com ela entrou o Joseph na minha casa, todo arrumado, uma calça jeans Branca justa mas sem ser feminino, uma camisa que começava preta e ia ficando branca, e um sapato sem meia muito chic.
Quando entrou todo mundo olhou pra ele, logico eu também, fiquei meio envergonhado mas me mantive firme, quando todos viraram sua atenção minha mãe o apresentou como meu amigo e disse que iriamos morar juntos, meu irmão não perdeu tempo em fazer piada...
– Amigo? Não sabia que o Mitchel tinha amigos, a bicha do mato então tem um semelhante para fazerem coisas que estão habituados.
– Nossa, isso com certeza deve ter sido a sua piada mais inteligente né, o que me surpreenderia é você ter algum amigo, na caverna onde mora tem mais gente?
A resposta do Joseph veio encima, o meu irmão ficou mudo até minha mãe começou a rir finalmente alguém tinha rebatido ele, e a resposta do meu irmão não veio ele ficou calado, e disse algo entredentes que nem ele deve ter entendido, mas tudo bem, minha mãe aprovou a atitude de Joh, e fomos pegar minhas malas, eu não ia me despedir de ninguém, minha irmã mais nova se despediu de mim me dando um embrulho que nem abri na hora, apenas agradeci e fomos saindo com minha mãe acompanhando, se despediu de mim na calçada e fomos finalmente para casa do Joh, que agora também seria minha, entramos e fomos ao quarto, ele abriu as malas por iniciativa própria e foi guardando minhas coisas nos cabides, e disse que ao menos as cuecas eu guardaria, pois ai já seria intimidade demais se ele fosse fazer isso por mim.
Foi ele quem organizou minhas coisas pra mim, eu só organizei minhas cuecas e minhas coisas de uso pessoal no banheiro do quarto, quando terminamos ele me deu um outro selinho e disse – Bem Vindo Marido, agora sim sua vida vai começar. E Rindo me deixou no quarto perguntando o que eu queria almoçar, eu falei para ele que o máximo que eu sabia fazer era miojo, não sabia muita coisa de cozinha, que minha mãe e a Cida sempre faziam as coisas por mim, e era verdade mesmo, ele riu e disse que cozinhava muito bem, e que eu literalmente comeria muito bem naquela casa, ele adora um duplo sentido nas coisas que fala, e eu estava começando a perceber isso, ele voltou e me chamou pra ir com ele ao mercado era mais ou menos meio dia, eu topei já que não tinha mais nada pra fazer, e aproveitei pra acrescentar...
– Vou aproveitar pra comprar uma TV pro meu quarto.
– Acha mesmo necessário, se quiser vamos sim.
– Sim, eu trouxe meu videogame e preciso de um monitor pra instalar ele né, vou aproveitar pra comprar o notebook.
– Entendi vamos então, mas se quiser pode colocar o videogame na sala e colocamos um ponto adicional da TV por assinatura no quarto na TV que for comprar, fica mais comodo, e a TV da sala é maior né.
– Mas a TV é sua, eu me sinto meio desconfortável com isso.
– Para com isso, daqui uns dias já seremos íntimos, vai me ver arrotando, cortando unha do pé, quer mais intimidade com isso? Não precisa ficar desconfortável com nada.
– É muita intimidade mesmo, vamos lá comprar o que precisa.
Compramos o notebook e uma TV de 32 polegadas pro meu quarto, levamos no carro mesmo e em seguida fomos a casa aurora comprar coisas para a casa e almoço, eu empurrava o carrinho e ele ia ao meu lado colocando as coisas dentro, já estávamos próximos ao caixa quando vejo meu pai e irmão na sessão de frutas eu iria simplesmente ignorar mas eles nos viram, e meu irmão deveria estar com ódio pelo que o Joseph tinha falado, mas eles não falaram nada quando passaram pela gente, nem uma piada ou risada nada mesmo, apenas passaram, como meu pai é ridículo, assim que pagamos as coisas fomos guardando no carro e saímos o mercado fica bem perto da casa dele, mas enfim, organizamos tudo e ele foi preparar o almoço.
Enquanto ele estava na cozinha eu montei o videogame, e em seguida fui ficar com ele pra fazer companhia mesmo, estávamos em uma conversa amistosa, e ele resolveu perguntar da minha vida sexual, eu fiquei mais branco que já sou, o que é quase impossível, eu nem tinha nada para falar pra ele sobre esse tema, como não sou de mentir eu decidi falar a verdade, sou a favor de sempre falar ela...
– Pra ser sincero Joh, eu não tenho vida sexual, eu nunca transei com um cara, eu já tinha te falado isso.
– Tudo bem mas eu não acredito que seja mesmo virgem, não tem como, ou sera, que não existem mais gays em Sinop?
– Sim e muitos por sinal, mas sou meio conservador em relação ao sexo, e outra nem sou tão bonito assim, mas de vez em quando chove na minha horta.
– Até os feios transam meu querido e você ai no zero a zero, mas me diz e beijar, quantos caras já beijou?
– Nenhum, eu te dei uns selinhos e por enquanto foi o máximo que eu fiz.
Ele me olhou serio parecendo não acreditar no que estava falando, mas quando viu como eu estava vermelho ele finalmente acreditou em mim e ficou com uma expressão indefinida no rosto se virou para as panelas dizendo apenas que iriamos resolver isso, eu fiquei com o coração na mão ele disparou, sera que ele iria me ensinar tudo que eu precisava saber? Ou foi apenas forma de se expressar? Fiquei sem saber mais também não perguntei, quando fomos almoçar naquele dia já era mais ou menos duas da tarde, e por sinal uma comida ótima, muito gostosa mesmo, quando terminamos eu lavei a louça e ele me disse que iria se deitar um pouco pra dormir, pois estava cansado, tinha dormido pouco no outro dia estava limpando a casa pra eu pegar tudo limpo quando chegasse, achei bonito o jeito que ele falou, depois que terminei fui ao meu quarto.
O Embrulho de presente que minha irmã me deu ainda estava na cama, eu finalmente fui abrir era um porta-retratos com uma foto nossa, deveríamos ter mais ou menos nove, dez anos quando tiramos aquela foto, e um bilhete, nele ela falava de darmos valor nas coisas apenas quando perdemos, achei fofo mesmo assim. Coloquei em uma comoda a foto perto da TV e tomei um banho eu tinha a intenção de ir dormir vesti apenas uma cueca e a porta do quarto estava aberta pois pensei que o Joseph estava dormindo, estava passando hidratante ele entrou no quarto...
– Vim aqui te ensinar umas coisas que eu sei, quer aprender?
– Quero sim, mas o que seria...
– Espera um pouco e já vai ver. Falou isso fechando a porta do quarto e vindo em minha direção.
Continua!!!
