A tia dele nos chamava para jantar e eu ainda o olhava com um jeito besta, tentando decifrar o que ele sentia por mim. Mas evitando que eu obtivesse respostas naquela hora, ele me pegou pelo braço e disse para descermos.
- Eu deixei lasanha para vocês em cima da mesa. Sirvam-se. – disse a tia dele com a maior gentileza.
Eu tentei me servir mas ele tirou o prato da minha mão e me serviu. A gente ficou em total silêncio na mesa, trocávamos olhares e risos o tempo todo, isso até a tia dele retornar à cozinha para arrumar tudo. Eu ainda estava meio confuso, vendo meu melhor amigo de uma certa forma demonstrando um tipo de sentimento que nunca pensei surgir da parte dele, nem sabia que ele era gay. Acabei de jantar e agradeci à tia dele, falei que estava ficando tarde e teria que ir, Bruno me levou até à porta.
- Então você está fugindo? – perguntou.
- De forma alguma. Realmente eu tenho que ir.
- Entendi...
- Mas nem pensa em sumir, temos que conversar. Ou melhor, quer conversar sobre isso?
- Claro.
- Afinal, quando você volta pra Ituporanga?
- Mês que vem só. Passarei as férias aqui.
- Legal, melhor assim. Então eu te vejo amanhã.
- Sim.
- Até amanhã, então. – disse eu me virando pra ir embora.
- Espera. - ele me pegou pelo braço e selou seus lábios nos meus. – Agora sim. Boa noite.
Dito isso, ele entrou correndo para casa e me deixou ali plantado com cara de besta.
No outro dia acordei com uma baita disposição, queria poder sair correndo atrás do Bruno e acertar o que estava acontecendo entre a gente, mas eu não podia pois havia acertado de ajudar a Nilza na cozinha. À tarde fui pra faculdade um pouco menos ansioso em encontrar o Bruno, passar a manhã distraído foi até bom. Na faculdade eu não me entrosava com muita gente, o curso de direito não tem só fama de ter pessoas mesquinhas, a maioria é mesmo, pelo menos no meu tempo era. E por sorte, poucos eram os trabalhos em grupo. Ainda naquele ano eu almejava conseguir um estágio, eu sabia que minha tia gostava de mim e fazia o que podia pra me ajudar e minha mãe ainda mandava uma ajuda de custo escondido do meu pai, mas eu queria poder amenizar isso, àquela sensação de dependência estava me corroendo por dentro.
Logo que saí da faculdade eu fui ao encontro do Bruno, ele estava me esperando próximo à casa da tia dele. O cumprimentei e sentei ao seu lado, e permanecemos em silêncio por um tempo.
- O que você tem? – tentei quebrar o gelo.
- Pensando.
- Quer dividir sobre o quê?
- Sobre ontem... você pretende falar para mais alguém?
- Olha, se você não quiser falar por mim tudo bem. Nem todo mundo sabe sobre mim. Na verdade, lá em casa, ninguém.
- Entendi. É que, eu curti o que aconteceu ontem.
- Eu também. – disse colocando minha sobre a dele, mas ele a retirou rapidamente.
- Aqui não.
Aquele comportamento dele me deixou um pouco desconfiado mas poderia ser normal, visto que depois ele me falou que fui o primeiro garoto que ele beijou.
Nas semanas que ele ainda ficou em Floripa, a gente se encontrava no quarto que ele estava na casa da tia. Era terminar as aulas na faculdade para eu correr pra casa dele. Uns três dias antes da partida dele, nossos beijos estavam ficando mais quentes.
- Bate uma pra mim, Pedro. – disse ele já desabotoando a calça.
Até achei que ele esperou muito tempo para pedir. Ele baixou a calça e eu tirei a cueca, revelando o pau dele já duro. Ao simples toque da minha mão em seu pau ele se contorceu na cama e puxava o lençol com as mãos, depois ele me confessou que fazia tempo que ele estava na seca. Eu o punhetava devagar, no ritmo da respiração dele e quando o vi fechar os olhos, abocanhei seu membro o que causou uma leve surpresa nele.
- Pedro...
- Shiii. Relaxa.
Voltei a chupar ele e logo se calou e aproveitou o que eu fazia. Não demorou muito tempo para ele anunciar que ia gozar. Ele se levantou e foi ao banheiro, voltou logo depois.
- Cara, você é louco.
- Um pouco. – disse um pouco sem graça.
Ele me deu um selinho e sentou ao meu lado.
- Bruno, como vai ser daqui pra frente? Você vai embora daqui alguns dias.
- Eu sei.
Ele olhava pro nada me dar uma resposta clara.
- Você pelo jeito não curtiu esse tempo que passamos juntos tanto quanto eu.
- Que isso? Eu gostei e muito. Você sabe que sempre foi meu amigo, parceiro e agora eu te curto mais ainda, se é que é possível.
Ele mal terminou de falar e o abracei e caí aos prantos em seus braços. Além de eu estar me relacionando com o Bruno, ele meio que me conectava com a minha família que eu não via há quase dois anos. Meu pai não deixava minha mãe e meus irmãos viajarem até Floripa pois sabiam que inevitavelmente me visitariam, e ali todos eram dependentes dele. Após botar todo aquele choro preso pra fora, pedi ao Bruno que entregasse umas cartas pra minha família, pois ele poderia se encontrar com algum dos meus irmãos e entrega-los sem que meu pai os vissem, o que não aconteceria se os mandassem por Correios.
- Claro que entrego.
- Ok, eu te dou amanhã.
- Pedro... fica comigo?
Ele percebeu minha cara de interrogação e continuou:
- É...fica só comigo.
O Bruno foi embora na sexta-feira seguinte e nem pude acompanhá-lo até o terminal pois ele viajou à tarde. Ele não havia conseguido emprego em Floripa no tempo que ficou ali, mas disse que voltaria a tentar assim que pudesse. E assim o fiz... eu o esperei.
Com duas semanas desde que o Bruno se foi, eu consegui uma vaga numa empresa de advocacia até bem conceituada. Eu estava super contente com a notícia, minha tia e meus primos também fizeram a maior festa, menos o marido dela, na verdade ele nunca foi a favor que eu vivesse com eles.
É engraçado como as coisas parecem que são comandadas por alguém ou algo superior a nós: eu guardava um bom dinheiro, para fins futuros e acabei por comprar um celular com ele, já que a partir do próximo mês eu já receberia meu salário, que era muito bom por sinal, pois ainda pagava hora extra e eu às vezes tinha aula bem mais tarde e ficava mais tempo no serviço. Com o celular em mãos, só me restava ter o número do Bruno e eu consegui enviar uma carta pra ele com o meu número. As cartas levavam uns três dias pra chegar na casa dele. Era uma segunda e eu estava chegando da faculdade, a casa estava silêncio, era sinal de que meus primos não estavam em casa. Fui entrando e percebi que minha tia também não estava e quando entrei no quarto, o marido da minha tia estava mexendo no meu computador e dava para ver que ele acessava meu histórico.
- Que negócio é esse? Eu te ponho na minha casa pra tu ver essa porcaria.
Ele havia aberto algumas páginas gays e ele ficou muito nervoso e a cara dele demonstrava o nojo que ele sentia. Ele veio pra cima de mim querendo bater mas a Nilza ainda estava e casa e quando ele viu, recuou. Ele saiu do meu quarto bufando de raiva e entrei nele, trancando-o. Aquele havia sido o ápice, eu sabia que alguma hora a minha estadia ali traria problemas e em meio ao meu choro, eu decidi arrumar todas as minhas coisas e sair dali. Pra onde eu não sabia, mas não ficaria sob aquele teto nem mais um minuto. Eu terminava de arrumar minhas coisas quando escutei minha tia chegando, respirei fundo e decidi sair do quarto, quando cheguei na sala minha tia me olhava atônita.
- Pedro, que isso?
- Tia, eu vou embora.
- Mas vai embora pra onde? Tua mãe te ligou?
- Foi, ela disse que tá num hotel aqui perto e amanhã a gente volta pra casa.
- Nossa, ela nem me falou nada. Vem que eu vou deixar lá.
- Não, obrigado. Mas eu ainda vou passar em outro lugar antes. Depois a gente se fala.
Abracei ela com toda a minha força, era a melhor forma que eu vi ali naquele momento de agradecê-la por tudo que havia feito por mim até ali. Eu não vi meu “tio” e acabei por sair daquele jeito mesmo. Eu havia acabado de mentir pra pessoa que mais me ajudou naqueles anos, mas viver num lugar onde, de certa forma, era dono daquele lugar não me fazia bem e eu não queria jogar ele contar minha tia porque ela gostava dele, de uma forma que eu nunca entenderia, mas gostava. Eu andava pela rua sem rumo, apenas queria me ver afastado dali o quanto antes, minha tia uma hora descobriria a mentira e me encheria de perguntas caso me encontrasse. Eu não tinha vergonha nenhuma de assumir pra todo mundo que eu era gay, porque eu tinha problemas maiores pela frente. Onde eu iria dormir?
Rodei por cerca de duas horas aquela cidade à pé, sentei num banco de uma praça e ali me pus a chorar, rios de lágrimas e passava tudo que eu havia largado na minha cidade para estar ali procurando um futuro melhor pra mim mas nada dava certo. Milhões de coisas passavam pela minha cabeça, eu não saberia como seria o amanhã, eu estava completamente desestruturado. Quando eu imaginei que estava tudo perdido, meu celular tocou. Revirei a mochila, nem lembrava da existência dele.
- Alô.
- Pedro? É o Bruno.
Pronto, uma luz havia surgido.
- Bruno, pelo amor de deus me ajuda. – contava pra ele o que eu conseguia da história e ele me ouvia calado. – Por favor, me ajuda.
- Pedro, eu tenho realmente que desligar agora. Depois a gente se fala.
- Mas Bruno...
- Tchau, boa noite. – desligou.
A situação não poderia ter ficado pior. Eu estava em choque com a reação dele, demorou a cair a ficha. Eu já havia chorado demais, minha cabeça doía e decidi que dali em diante eu não derramaria mais nenhuma lágrima até eu conseguir me firmar em algo. No dia seguinte eu tinha trabalho e teria que desvendar um jeito de me arrumar. Se não fosse por isso eu estava disposto a dormir na rua, mas como um estalar de inspiração, eu lembrei de algo que poderia me ajudar e muito naquele momento. Saí correndo em direção ao que seria, pra mim, meu último tiro de esperança. Cheguei em uma casa já conhecida.
- Oi.
- Oi, o Gabriel está?
- Não, meu filho. O Gabriel não mora mais aqui.
Pronto, eu estava acabado.
- Mas eu posso lhe dar o endereço de onde ele está morando, se você me falar quem és.
- Claro, ou melhor, você pode me dar o número dele.
- Posso sim, anote aí.
Pelo pouco que eu frequentei a casa do Gabriel, sabia que aquela não era sua mãe mas me respondia com uma boa vontade.
- Muito obrigado.
- De nada.
Saí da vista dela com o telefone em mãos e já discando para o Gabriel.
- Alô.
- Gabriel?
- Sim.
- É o Pedro.
- Meu deus, Pedro. Quanto tempo.
- Pois é. Me desculpa ligar a essa hora mas você pode me ajudar?
- Tá tudo bem?
- Vai ficar se você me ajudarOi, galera.
Estava um tanto atarefado com trabalhos e processos, e fim de ano eu viajei e só agora tive tempo de postar. Agradeço a todos aqueles que acompanham minha história e peço desculpas pela demora. Resolvi resumi bem essa parte pois senão ficaria muito longa depois, e é uma parte chata mas muito importante pra mim. E quero de uma certa forma inserir o Felipe o mais rápido possível rsrsrssrs
Espero que gostem. Abraços.