- Bom dia filha, parabéns por seus 16 anos.
- Mãe, me deixa.
- Poxa, você podia ser mais amistosa comigo, eu sempre te dou tudo que você quer.
- Ah, dá um tempo né! Pô, logo de manhã? Pensei que não ia ver sua cara tão cedo! Saí do meu quarto, vou tomar banho.
- Tudo bem, nos falamos lá embaixo na mesa, no café.
Assim que ela passou pela porta, Amora bateu a porta do quarto fortemente. Colocou no rádio seu CD de rock preferido, deixando tocar alto para poder ouvir de dentro do banheiro.
***
Amora é adotada, veio parar nessa casa aos 5 anos, sabia muito bem como deveria se portar. Segundo o que aprendeu no Orfanato tinha que tratar seus novos pais bem, ser obediente, tentar fazer dar certo. Ela tentou nos dois primeiros anos, tirava notas na escola entre nove e dez, raramente tirava oito, seus pais eram muito felizes com ela.
Com ela, entre eles notou que havia algo estranho, eles não mais se abraçavam e beijavam como quando a adotaram. Diversas vezes viu o pai beber e a mãe algumas vezes aparecia machucada, hematomas que dizia ser acidentes doméstico.
Um dia Amora chegou mais cedo de um dos vários cursos que cursava, tinha dez anos na época, viu seu pai e a empregada transando no balcão da cozinha. Se trancou no quarto, tomou um litro de wísky e acordou no hospital.
Seu pai tentou comprar seu silêncio com uma viagem à Disney, ela sorriu diabolicamente como se concordasse. Assim que chegaram em casa Amora pôs fogo no carro do pai, assistindo da janela do seu quarto a chama do carro explodido.
- Você não vai fazer esse tipo de coisa na minha casa. - Deu um tapa no rosto da menina. - Arrume suas coisas, você vai para um colégio interno.
- Você é um idiota!
- Me respeite menina...- Levantou a mão para bater nela novamente, alguém segurou seu braço.
- Por favor Robert, chega. É só uma criança, não a machuque.
- Você não soube criar essa projeto de marginal. Eu tentando dar um futuro à ela e ela me paga explodindo meu carro. Arrume logo suas coisas, quero você longe da minha casa o quanto antes.
Robert saiu do quarto.
Ana chorava enquanto arrumava a mala da filha.
- Não chore, aquele animal não merece uma gota das suas lágrimas. Olha seu braço, esse roxo... Por quê não o denuncia? Duvido que você ainda o ame.
- Amora você é muito nova pra entender.
- Eu vi ele comendo a empregada, o otario tentou comprar meu silêncio com uma viagem pra Disney.
- Calma, vai fica tudo bem. Eu sou uma mulher velha, sabe é difícil começar uma vida agora, me sujeitar à algumas coisas é normal.
- Vocês se merecem! Adeus, Ana.
***
Em seis anos de internamento em um dos melhores colégios internos do Brasil, só voltou àquela casa duas vezes quando Robert não estava, tinha ido para algum "trabalho".
Nesse aniversário de 16 anos não pode fungir, Robert quer fechar negócios com um homem muito importante que tem um filho solteiro. Amora não sabia que seu plano era vendê-la ao moço mimado como moeda de troca para o negócio ser efetuado, inclusive estranhou terem arrumado a fazenda com preparativos de festa. O máximo que Robert permitiu naquela casa foi Ana dar um presente, bolo e refrigerante, comemoração super simples.
Ana estava feliz de ter a filha em casa, mesmo suspeitando que as coisas iriam ficar ruins quando Amora descobrisse as reais intenções de Robert. Foi acordar a adolescente levando flores e com um belo abraço, mas foi recebida com toda aquela frieza. Não entendia bem, ultimamente ela a trata mal, principalmente quando os dois pais estao sobre o mesmo teto, aparentando para quem vê de fora achar que são uma família feliz.
- Droga, tenho que ir, faz mais de hora que tô aqui trancada nesse banheiro. Robert, não invente nenhuma gracinha ou vai me conhecer de verdade. Queimar seu carro foi brincadeira de criança, rsrs. Eu quero é te dividir em mil partes com um machado!
Vestiu sua roupa estilo rouckeira, os óculos escuros foram colocados especificamente para irritar Robert, pois seu pai adora analisar o efeito de seus atos estampados nos olhos de quem oprime.
- Seu dia será um inferno, querido papai.