*Meu Pecado Mora ao lado*
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- Eu queria entender melhor quem e sou de verdade. Olhando da janela, vejo as gotas de chuva cair; e uma tarde de domingo serena e calma indo embora. A cada gota, me vêm à cabeça mil perguntas. Coisas que eu sinto, mas que eu não quero que saiam de dentro de mim. Ahhh!... Como é difícil viver Davi! – ele dizia em pensamentos.
- Davi, meu filho!
- Tô no quarto, mãe.
- Eu preciso que você vá até a padaria comprar leite e ovos. Quero fazer um bolo e preciso desses ingredientes. Vamos, pegue o guarda-chuva e vá logo.
Dona Carmem era uma mulher doce e alegre. Casada com o lojista Gabriel, ambos eram pais tradicionais e rigorosos com o único filho, o Davi, que tinha 17 anos e cursava o último ano do Ensino Médio. Os pais dele eram evangélicos e frequentava a igreja todos os dias, inclusive o filho, que fazia parte do coral. O conceito sociedade e coisas mundanas, eram vistos com olhos rudes e julgadores, afinal, iam de encontro com o que eles pregavam e acreditavam. Mas havia um porém! Davi não podia enganar a si mesmo, com o que ele sentia. Exorcizar sua orientação sexual era como ouvir a mesma voz que o perturbava todas as noites: a voz do coração!
- Leite e ovos? – ele se certificou com a mãe.
- Sim. E não demore. Toma cuidado com esta chuva.
- Ai mãe, às vezes você me trata como se eu fosse um bebê.
- Não reclama. É cuidado meu filho. Agora vá.
Ele abriu seu guarda-chuva e seguiu para o corredor até a porta de saída. A rua estava deserta e poucos carros eram vistos. A chuva estava mais forte, e várias poças d’água se formavam na calçada. Davi ia cantando hino de louvores, até que se depara com o misterioso vizinho. Mais conhecido por todos, como: O homem das tatuagens. Na verdade, o nome daquele rapaz alto, moreno claro e cabelo raspado, era Fábio. Ele vive num estilo um tanto enigmático. Não fala com ninguém e sempre observa as pessoas de forma estranha. Estava encostado num poste, e se deliciava com a chuva que caía sobre o seu corpo nu. Cada músculo definido podia ser visto naquele corpo perfeito; e aquela visão era o ingrediente perfeito para fazer o Davi perder o controle de si próprio. Ele tremeu por dentro ao pensar na ideia de ter que passar por perto do Fábio, mas não tinha jeito; se queria chegar até a padaria, teria de passar por ele. Fez uma prece a Deus, como forma de defesa, e seguiu com sua missão.
- Ufa! Ele respirou fundo, depois de ter sido encarado olho no olho, e quase ter perdido a respiração. O Fábio causava certo medo, devido as suas tatuagens e o seu jeito. Davi entrou rapidamente na padaria, orando para que na volta não se deparasse com o outro novamente. Comprou o que lhe foi pedido e voltou pra casa. Ficou aliviado em não vê-lo mais no mesmo lugar. Sua distração foi tanta, que deixou ovos cair no chão.
- Droga! Minha mãe vai me matar! – ele se abaixou para tentar salvar alguma coisa, quando uma sombra o cobriu por trás. Aquele corpo se abaixou e ao ajudá-lo, lançou um sorriso de canto e saiu dali, o encarando ainda mais. Davi teve um treco! Foi para casa rapidamente e inventou uma desculpa para sua mãe. O que ele queria era ir para seu quarto e se jogar na cama. Uma euforia queimava sua pele por dentro.
- Mãe, foi desse jeito que eu te contei.
- Pra sua sorte, deu pra salvar meia dúzia. Não era perdão da próxima vez hein?
- Ok! – ele saiu correndo para o quarto.
Davi era um jovem que sofria muito na escola, por ser muito tímido e nunca nem sequer ter beijado na boca. Sua criação era tão rígida, que possuía poucos amigos. O único ao qual ele confiava seus segredos era o Rafael, que foi criado ao seu lado desde pequeno. O Davi tinha poucos sonhos, poucas expectativas, e ele vivia para agradar aos pais, que não poupavam no estudo do filho.
Jamais lhe foi questionado o que ele gostava de fazer, o que queria ser. Sua rotina era a igreja e a escola. Seu pai Gabriel, sempre dizia que o mundo não prestava e não tinha nada de bom a oferecer, por isso não valia a pena sair por aí. Como eu disse, na escola, ele sofria gozações, por ser o CDF, o esquisito, o garoto que não pegava ninguém.
Ele acabou adormecendo e sendo acordado por sua mãe, que lhe chamava para fazer um lanche junto ao seu pai. Em poucos minutos todos se reuniram à mesa, e como de praxe, fizeram uma oração antes de comerem.
- Como foi ontem na igreja meu filho?
- Foi legal pai. O Pastor disse que a apresentação do coral será na semana que vem, e que muitos irmãos de igrejas vizinhas irão vir para nossa festa.
- Glória a Deus! – disse a mãe dele.
- Estão ouvindo? Todos os dias é esse inferno! Precisamos dar queixa na policia, deste desvirtuado.
- Calma Gabriel. Não quero você se metendo nisso.
- Como calma Carmem? – Esse rapaz drogado e vagabundo, vive de escândalo com a família. Incomoda a nós vizinhos.
Davi apenas assistia ao diálogo dos pais. Eles se referiam ao Fábio, que brigava na casa ao lado, com a mãe.
- O mundo está mesmo perdido. O filho desonrando a mãe. Tá repreendido. – bradou dona Carmem.
- Esse garoto, precisa mesmo é ir para a igreja. Por isso que eu tenho orgulho do meu filho. – ele passou a mão nos cabelos do Davi, que por sua vez, deu um sorriso meio sem graça. Ele não compreendia o motivo de tanta gritaria na casa ao lado, mas dentro dele, algo o fazia estar a favor do rapaz.
- Mãe, pai. – ele fez uma pausa. Vai ter uma excursão do colégio para região dos Lagos, e eu queria muito ir.
- Não! – seu pai foi direto e seco.
- Mas...
- Nem insista Davi. Desses programas não sai nada que preste.
- Quê isso meu bem? Nosso filho nunca participa de nada na escola. Não vejo problema algum numa excursão.
- Deixa pra lá mãe. – ele não conseguiu esconder o desapontamento.
- Tudo bem. Mas quero saber mais detalhes sobre este passeio.
- Obrigado pai. Eu posso ir por quarto?
- Pode. Não se esquece de orar antes de dormir.
- Boa noite mãe. Boa noite pai. – ele se retirou.
Quando ele chegou ao quarto, seu rosto se encheu de lágrimas. Um vazio tomou conta do seu ser. Era como se ele fosse preso a sua própria liberdade. Se aproximou da janela, e levou um susto, ao ver que , o rapaz das tatuagens olhava para sua janela.
CONTINUA...
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Olá meus queridos! Voltando para vocês. Rsrsrsrsr. Curtam muito este conto, pois o escreverei com muito carinho. Senti saudades de todos. Mil beijos em cada um e boa leitura. Até o próximo.