Fábio seguia pela estrada totalmente escura. A ventania movimentava as árvores, e em seu pensamento, a imagem do Davi tornou-se constante. Por mais que ele tentasse não pensar no pior, os fatos eram muito nítidos e irreparáveis. A única coisa que ele queria, era sequestrar o seu amor de onde ele estivesse. E assim ele seguia com a sua moto a mil por hora.
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Davi estava em um dos quartos da casa,quando seu pai entrou e sentou-se na beira da cama.
- Eu entendo filho... – ele olhou para o Davi, que estava com o olhar distante. – Ei sei que aquele marginal influenciou você. AS pessoas ruins, descrentes, elas agem pelo poder do inimigo, para afastar o verdadeiro cordeiro do seu pastor. Mas assim que eu voltar para o Rio, irei a delegacia e darei um queixa contra ele, por tentativa de pedofilia.
- Pai... Eu... – ele mal conseguia falar. Seu corpo estava cansado e sua cabeça mais ainda.
- Tanto que eu te pedi Davi... Eu sabia que aquele rapaz não prestava. Algo de ruim existe nele.
- Pai, o Fábio não tem culpa de nada. Ninguém tem culpa.
- Você vai ficar defendendo o marginal? Não viu o que ele fez com você?
- O Fábio não fez nada comigo. Eu quis beijar ele. – Davi revelou o que o seu pai jamais queria ouvir.
- Você está me dizendo que... – Ele não pensou duas vezes e desceu a mão na cara do filho. – Como pode dizer uma coisa dessas? Você evangélico, cristão!
- Chega! Eu não posso mais, eu não consigo mais esconder! Durante toda minha adolescência, eu vivia feito um pássaro... Preso na minha própria gaiola, sem poder agir, me expressar e tão pouco me dar o direito da liberdade. Não dá mais pra esconder isto de mim. EU SOU GAY! Eu amo o cara que você chama tanto de marginal.
O tempo se fechou. Aquela revelação mudaria muita coisa na vida de ambos. O pai do Davi era do tipo que as coisas que ele considerava abominável, jamais poderia ser revertido em outros pensamentos.
- Não! Você está brincando comigo. Você só pode está brincando comigo. - ele começou a agredir o filho, totalmente inconformado. Seus gritos despertaram a atenção dos outros, que invadiram o recinto. Davi não gritou, somente chorava muito. Suas lágrimas eram seus gritos de dor. O pastor acalmou o Sr. Gabriel, que estava enfurecido e espumava de raiva. Ele ficou cego e só queria bater no filho.
- Calma irmão! – gritou o pastor.
- O que aconteceu Gabriel? Porque está fazendo isso com o nosso filho? – Dona Carmem se aproximou do Davi para abraça-lo.
- Pergunte a ele. Pergunte a este desviado do caminho do Senhor. Ele está querendo ir para o inferno, junto com aquele outro bandido.
- Ele não é bandido! Para de querer julgar os outros. Eu não suporto mais com mentiras! – Davi se descontrolou e começou a gritar também. Eu amo o Fábio, e nada do que vocês disserem ou fazer, vai mudar o que eu sinto aqui, no meu coração.
- Eu mato vocêeee! – ele conseguiu se libertar do pastor, e partiu para cima do filho. Ele jogou o Davi contra parede e o derrubou no chão. Tirou o cinto que prendia a sua calça, dobrou-o na mão e começou a bater no filho. Dona Carmem gritava desesperada e pedia a ajuda do pastor.
- Eu não quero ninguém se metendo. O filho é meu e eu vou educá-lo. Toma! Toma! – diga pra mim que você não é isso! FALAAAAA!!!
Davi chorava de dor, mas não atendia ao pedido dele.
- Para Gabriel! Conversa com o seu filho! Para com isso! Para! – dona Carmem gritava.
- Irmão Gabriel, em nome de Jesus, largue este cinto! Eu quero conversar com o Davi. Tenho certeza de que ele está confuso, mas tudo se resolverá.
- Ele não pode ser esta abominação. Não pode!
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Fábio depois de três horas, conseguiu chegar ao tal endereço. Ele bateu na porta, mas devido o barulho no quarto do fundo, ninguém ouviu. Vendo que não ia ter sucesso, ele pensou em voltar, achando que o Davi não estava ali, mas quando virou as costas, ouviu os gritos intensos do seu amor. Não pensou duas vezes e chutou a porta até arrombá-la, e saiu caça adentro.
- Davi! Cadê você? – quando ele entrou no quarto, quase teve um treco! Viu seu namorado, jogado no chão, com o corpo cheio de hematomas e inchado. As marcas da dor ficaram cravadas na alma dele.
- O que vocês fizeram com ele? – Fábio gritou!
- Você veio até aqui seu demônio? Pois você vai pagar pelo que fez com meu filho. – O Sr. Gabriel partiu para cima do Fábio, mas como este era mais forte, deu um soco na cara dele, que caiu sobre a cama.
- Vem Davi, vamos sair daqui! Vem!
Davi não resistiu e foi com ele. O que ele mais queria era sair dali e ficar num lugar mais calmo. Seu corpo doía muito.
- Eu não vou deixar que leve o meu filho.
- Se alguém me impedir, eu juro que não respondo por mim. –Fábio conseguiu colocar o Davi na moto, e acelerou. O Sr. Gabriel pensou em ir atrás, mas foi impedido pelo pastor.
- Mas pastor, eu preciso ir atrás deles.
- Amanhã resolveremos tudo. É noite e a estrada é meio escura. Não perderemos o seu filho para aquele rapaz. O demônio é persistente, mas nós vamos conseguir vencê-lo. Confia em mim.
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Ao chegar em casa, depois de uma viagem silenciosa, o Fábio pôs o Davi em sua cama, correu até a cozinha,esquentou água e levou uma bacia com ele.
- Eu vou cuidar de você meu amor. Não vou deixar que façam mais isso com você.
- Eu estou com tanto medo... Ai! Tá doendo.
- Desculpa! Você acredita que o Rafael veio até aqui, só para cantar vitória e me dizer que foi ele quem contou tudo ao seu pai.
- O quê? Foi o Rafa quem causou tudo isso?... Depois dessa, ele pra mim, morreu.
- Não vamos pensar nisso agora. Fica quietinho que eu vou preparar ma coisinha pra nós dois. Eu te amo muito viu? Não consigo viver sem o teu amor, sem o teu cheiro... Sem você eu não sou nada! Me perdoa?
- Eu não tenho nada pra te perdoar. Eu sei que você não quis aquele beijo. Eu também te amo muito e vou lutar até o fim. - Davi deu um beijo na boca dele.
Depois de comerem e o Davi ser tratado feito um bebezinho, ambos pegaram no sono, e dormiram de conchinha, com o Fábio em volto ao seu amor. Ele prometeu a si mesmo, que iria protegê-lo contra todos e tudo. Ao acordar no dia seguinte, o Fábio se deparou com o Davi o encarando.
- Acordou tão cedo meu amor. - Fábio deu um beijo na boca dele.
- Fabio...
- Fala meu amor.
- Eu quero fazer amor com você. Eu já me sinto pronto.
Fábio foi pego de surpresa.
- Tem certeza? Eu não estou te pressionando.
- Eu sei disso! Eu preciso de você, do seu corpo. Eu quero te sentir e te amar por toda vida. – Fábio sorriu para ele e acariciou o seu rosto.
- Será o momento mais especial da minha vida.
Eles iam ter a sua primeira vez, num gesto de puro e verdadeiro amor.
CONTINUA...