Eu sou o Alfredo. No momento, estou diante de uma árvore, onde, há alguns anos, foram gravadas as letras A e B, com um canivete que se perdeu no meio do tempo. De repente, toda a história daquela marca veio à cabeça, invadido a minha mente de uma maneira agressiva e eu não queria fazer nada para impedir. Era o momento de recordar. Talvez, reviver tudo não seja a melhor escolha, mas esquecer também não é.
Não lembro exatamente o dia em que vi o Beto pela primeira vez. Porém, tenho certeza de duas coisas. A primeira é que ele estava lavando o carro, sem camisa. A segunda, que foi naquele momento em que eu me apaixonei perdidamente. Sim, eu me apaixonei à primeira vista e não posso ser julgado por isso. Não em um mundo com tantas belezas. Como julgar os olhos por admirá-las?
O fato é que, de todas as belezas que cheguei a conhecer, Beto foi a que mais me chamou a atenção. Era como se eu esperasse por essa visão desde o dia em que nasci e, quando finalmente estive diante dela, permaneci estático, sem qualquer reação, como um bobo a ignorar a revolução que tudo aquilo causava por dentro.
Até a luz do sol parecia ter se rendido à beleza quase grega de Beto. Os raios incidiam de forma tão harmônica sobre seus músculos, praticamente, moldando-os em um jogo perfeito de luz e sombra. O suor deixava sua pele brilhando e o calor era apenas um atrativo a mais.
Sempre achei uma atitude bem máscula quando um homem tirava a camisa no meio da rua, sem se importar com quem estivesse por perto. Talvez, minha admiração tivesse origem no fato que eu mesmo sentia vergonha só de imaginar alguém me observando de peito desnudo. Em parte, isso se devia ao meu corpo franzino e extremamente branco.
Beto, no entanto, era o extremo oposto. Malhado, na medida certa, com a pele bronzeada e pelos aparados, uniformemente espalhados pelo peito volumoso, ela despertava em mim desejos que nem eu mesmo sabia que seria capaz de sentir.
Enfim, eu realmente não lembro o dia. A única coisa que sei é que já faz mais de dois anos desde então e, apesar de sermos vizinhos de parede, nunca trocamos mais palavras que um simples cumprimento de bom dia. Se ele soubesse o tanto de punheta que já bati pensando nele!
Punheta era uma coisa que preenchia meu dia. Quanto mais eu batia, mais eu tinha vontade de bater. Era sempre o mesmo ritual. Eu abria o notebook em um filme pornô qualquer e, sentado nu, de frente para ele, eu começava a acariciar os mamilos, até que o pau ficasse completamente duro.
Eu só gostava de tocar no meu pau, quando ele estivesse rijo e latejando. Pau mole nunca fez minha cabeça. Eu gostava mesmo era de brincar com o dedo na entrada do meu cu. O buraquinho piscava, enquanto o dedo molhado de saliva passeava por toda a borda. Enquanto isso, o pau endurecia, preparando-se para o trabalho que ainda estava por vir.
Depois da gozada, o corpo era tomado de um entorpecimento indescritível. A vontade que eu tinha era de continuar ali deitado por um bom tempo. Quando a energia finalmente era recuperada, tudo o que eu queria era bater uma nova punheta, num ciclo quase interminável.
Por vezes, o filme rodava no notebook apenas por garantia, pois meus olhos permaneciam fechados, imaginando os cabelos do peito de Beto roçando no meu peito liso e sua barba por fazer me causando arrepios. Imaginava seu pau como uma tora grossa me invadindo. Eu era virgem, mas conseguia imaginar a sensação de ser penetrado por um macho de verdade.
É claro que eu tinha consciência de que tudo isso não passava de um sonho. Afinal, Beto levava uma quantidade surreal de mulheres para casa, quando os pais viajavam, o que costumava acontecer com uma grande frequência. Observando tudo da janela, eu cheguei a contabilizar mais de duas mulheres diferentes em um mesmo dia. Como eu as invejava!
De qualquer forma, estava feliz em poder admirá-lo lavando o carro aos finais de semana. A mesma imagem, mas que jamais chegava a cansar os meus olhos.
Eu sabia pouco sobre seus pais. Parece que trabalhavam em excesso e pouco lhe davam atenção. Devo tê-los visto uma vez durante todo esse tempo e estavam sempre com uma expressão séria, sisuda, o que me afastava e me intimidava a cumprimentar.
Por sorte, os meus eram bem diferentes. Papai e mamãe estavam sempre com um sorriso no rosto. Ele, rechonchudo, sabia as melhores piadas sobre os mais variados temas. Ela, franzina, ria de todas. Eram otimistas e sempre tinham algo a dizer, um conselho para dar e um carinho a oferecer. Amei os meus pais o mais intensamente que pude. Pena que costumamos nos dar conta desses sentimentos quando já não podemos mais vivê-los.
Lembro bem que minha vida começou a mudar em uma tarde de abril. Estávamos todos almoçando. Meu pai, como sempre, conversando de boa cheia, o que fazia com que alguns grãos de arroz escapasse pelo canto da boca. Minha mãe raspava o prato e sorria, vez ou outra quase se engasgava. Esse cenário familiar foi interrompido quando uma música extremamente alta invadiu o ambiente e pôde-se ouvir o barulho das portas e janelas tremendo.
- O que é que está acontecendo? – gritou minha mãe, dando um pulo na cadeira e levando a mão ao peito.
Seus olhos arregalaram e meu pai, instantaneamente se levantou para tentar identificar a fonte de tal barulho. No momento eu não soube, mas depois de um tempo, descobri que a música que tocava se chamava “Malpensa”, de uma banda chamada “Selton”. Eu até estava gostando do som, mas não combinava com aquele volume.
- É da casa aqui do lado. – concluiu meu pai, que voltou para a mesa, balançando a cabeça negativamente. – Será que esse menino ficou doido? Porque, com certeza, os pais dele não estão aí pra dar um jeito nisso.
- Vai lá, Alfredo! – pediu minha mãe.
- Eu?
- É. Pede pra ele baixar um pouco que eu quero tirar um cochilo antes da novela da tarde. Além do mais, a polícia pode acabar baixando aí.
- Mãe, que eu saiba, não tem nenhuma lei que proíba ouvir música, em qualquer volume, a essa hora da tarde.
- Eu acho que tem!
Minha mãe e meu pai ficaram discutindo sobre a legalidade daquele volume. Tudo que eu queria, no entanto, era desviar o foco. Eu não queria ir à casa dele. Não estava preparado para esse encontro, muito menos para recriminá-lo pelo volume da música que estava escutando.
- Vai, Alfredo! – insistia minha mãe.
Ainda tentei argumentar, mas foi inútil. De certa forma, acho que eu queria ir. Pelo menos, havia uma briga interna entre a vontade de ir e o medo de finalmente ficar frente a frente com aquele objeto do meu desejo.
Quando cheguei, respirei fundo diante da porta e contei até dez, antes de tocar a campainha. Ele demorou cerca de um minuto para atender e eu já estava quase agradecendo e me retirando, quando a porta se abriu.
Ele estava diante de mim. Tão perto que pude me ver refletido em seus olhos. Pude sentir o seu cheiro de perto e precisei me controlar para que minhas mãos não avançassem o sinal e sucumbissem ao desejo de tocar seu peito forte.
Beto me recebeu com um sorriso acolhedor, mas havia algo estranho. Olheiras profundas, cabelos assanhados e um aspecto aparentemente sujo. No começo, demorei a notar essas características, mas, assim que percebi uma bituca ainda acesa em sua mão, sem filtro e com um odor característico, entendi o que estava acontecendo.
- Oi? – ele falou, diante da minha demora em explicar o motivo da minha visita.
- Oi. É que o som está um pouco alto. Será que você se incomodaria em baixar?
- Claro que não! – ele disse abrindo mais a porta e entrando. Pouco depois, o volume da música diminuiu e Beto apareceu novamente na porta. – Foi mal, cara. Estava incomodando, né? Comecei a ouvir e fui aumentando, aumentando... Na verdade, nem percebi que estava alto.
- Sei como é.... – eu falei meio sem graça, tentando encontrar a deixa para ir embora.
- Você conhecia essa banda? Selton!
- Não, mas a música parece ser bacana.
- Eles são brasileiros, mas foi na Itália que se deram bem.
Eu nem podia acreditar que estava ali tendo uma conversa um pouco mais comprida e relevante com Beto. Apesar de seu estado levemente alterado, eu não conseguia desviar o olhar dos seus lábios se movendo, enquanto falava. Comecei a perceber os efeitos da paixão em meu corpo. As mãos suavam, o coração batia tão forte que eu conseguia sentir o impacto no peito e as pernas bambas tremiam impacientemente.
- Entra aí, me faz companhia. – falou ele, o que aumentou ainda mais o caos na minha fisiologia.
Fiquei estático, tentando assimilar o convite e garantindo que não havia sido uma alucinação. Por que, de alguma maneira, eu ainda tinha esperanças com ele? Por que meu coração não desacelerava? Talvez, se eu tivesse recusado aquele convite, tudo tivesse sido diferente. Se eu tivesse pensado um pouco melhor, eu poderia estar sorrindo hoje. Mas não. O mal do ser humano é seguir os impulsos, os desejos. Fiz a única coisa que eu achei que deveria. Sorri, agradeci e entrei.