Como Chamas 4x20: TAL PAI, TAL FILHO!
"Só mais uma volta" Eu disse a mim mesmo enquanto corria pelo meu bairro, o que era enorme. Faltava apenas dois dias para a formatura, tudo tinha que estar perfeito. Inclusive eu.
Uma senhora com um carrinho de bebe parou na minha frente, quase cai sobre eles. Desviei e continuei minha corrida pela vizinhaça.
- Bom dia. Disse uma voz grossa e familiar atras de mim. Parei e olhei para um homem de jaqueta de motoqueiro e fumando um cigarro preto.
- Te conheço? Perguntei parando alguns metros de distância.
- Trabalhei de papai Noel em uma festa da sua casa.
- Ah, eu me lembro de você. Como esta?
- Bem e você?
Apenas sorri, deixando o interpretar como quisesse. Então ele me olhou fixamente.
- Eu já vi você antes daquilo... Você esteve na TV?
- Já.
- Sabia. Ganho algum prêmio?
- Não, fui em uma entrevista. Falar sobre o meu problema.
- Problema? Um garoto como você tem problemas?
- Você não tem ideia.
- Quer conversar? Ele perguntou rapidamente.
Estranhei na hora, afinal, ele era um estranho pra mim e aposto que a sensação era a mesma para ele, tinha que ser. Talvez ele estivesse tentando ser educado. Ainda assim era estranho.
- Não precisa. To no meio de uma corrida.
- Eu te avisei - Ele disse jogando o cigarro no chão e pisando. - Você pode esquecer o passado, mas ele nunca se esquece de você.
- Hum, Oook, adeus. Falei me virando e correndo novamente, desta vez eu sabia que correria direto pra casa. Muita coisa bizarra pra uma simples corrida.
Minutos mais tarde, entrei na sala da minha casa e me deparei com uma cena que era infelizmente comum. O detetive Jones sentado no sofá, meu pai na poltrona e minha mãe de pé a seu lado.
Algo havia acontecido. Eu podia sentir. Nick tinha fugido? Estava atras de mim de novo?
- Oh, você chegou. Venha aqui Dan, temos que conversar. Disse minha mãe, mas não parecia tão séria.
- O que aconteceu?
- Acho que descobrimos quem causou seu pequeno acidente no estúdio de tv. Disse o detetive.
- Mas você disse que tinha sido um acidente... Não disse?
- Bem, a dois dias, os funcionários encontraram os fios cortados e quase causam outro desastre. Alguém armou para você.
- Sim, Nick, qual a novidade?
- Não foi ele. Conseguimos imagens da câmera de segurança, ele estava no supermercado.
- Mas se não foi ele... Quem foi?
Ele me passou o retrato desenhado de um homem de rosto retangular, traços fortes, olhos ameaçadores e um sorriso debochado. Parecia familiar, mas eu não conseguia saber de onde.
- Quem é? Perguntei.
- Pensamos que você pudesse saber, mas parece que não. Não se preocupe, vamos descobrir quem ele e logo tudo ficará bem de novo. Disse Jones dando um tampinha nas minhas costas e indo para a porta, minha mãe o acompanhou.
Subi para o quarto em silencio, o iPhone em meu bolso vibrou, olhei para a tela e vi que era um número confidencial. Decidi não atender, não deveria ser nada demais.
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- Ta ficando lindo! Exclamou Marcie ao entrar no ginásio que estava sendo decorado para o Grande Evento: A Nossa Formatura!
- Também achei. - Falei em virando para um garoto que estava ajudando na arrumação. - Aonde estão mais desses panos? Eu falei apitando para uma pilha de panos pretos no chão.
- No almoxerifado, talvez?
- Ok, vou buscar.
Me virei e segui direto pra lá. O almoxerifado era uma salinha abafada e insuportavelmente fedorenta que ficava no fim do corredor. Corri ate lá, tapei o nariz com a manga de minha blusa e entrei. Comecei a procurar por panos, mas não parecia haver mais nada ali, procurei, entrando fundo e mais fundo ate que encontrei. Eu estava sufocando naquele lugar, precisava sair e respirar ar puro. Josie, uma secretaria simpática, me disse uma vez que um antigo funcionário derramou uma espécie sonífero no chão, e a escola não conseguiu remover. Mas não era só isso, assim que penetrava seus pulmões, o cheiro te fazia apagar, e logo depois sua garganta começa a de fechar ate que você não pudesse mais respirar. Um veneno invisível e silencioso.
Me virei para sair e então gritei. Nick estava parado na porta, me encarando com um sorriso sádico no rosto. Então ele fechou a porta. Soltei tudo o que eu carregava no chão e comecei a esmurrar a porta. Eu tinha que sair, mas logo eu já não conseguia mais gritar e chutar. Estava ficando fraco, eu precisava de ajuda, mas não sabia como consegui-la. Tudo o que eu pensava era que alguém tinha que ser processado, afinal, que escola mantinha de pé um cômodo que poderia tirar uma vida. Sim, eu sentia minha vontade de respirar e enxergar sendo tirada de mim. E eu não podia fazer nada para evitar. Então, aos poucos, a escuridão foi tomando conta de mim.
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Acordei mais tarde, novamente no hospital. Felipe segurava minha mão tão forte que chegava a doer, mas seus olhos estavam fechados na cadeira ao meu lado.
- Felipe? - Sussurrei. Nada. - Felipe? Tentei novamente, ele não se mexeu.
- FELIPE! Berrei e ele pulou da cadeira, soltando minha mão. "Sinto muito" disse com lábios sem emitir som para ele.
- O que diabos... Achei que você tava mal.
- O que aconteceu? Como vim parar aqui? Perguntei.
- Marcie disse que você ficou preso em uma salinha com gás venenoso no ar e desmaiou. Poderia ter morrido Baby!
Abri um sorriso, fazia muito tempo não o ouvia me chamar de Baby, e eu senti falta. Felipe segurou minha mão delicadamente desta vez e me beijou, apaixonadamente.
Mas então a imagem de Nick sorrindo como um maluco surgiu na minha mente e empurrei Felipe para longe. Ele cambaleou um pouco, mas não caiu.
- Mas que droga Dan, o que foi isso? Ele disse em voz alta.
- Nick.
- O que?
- Foi ele. Ele está aqui, ele tentou me matar de novo. Felipe ele está aqui.
- Temos que avisar a policia. Quando você o viu? Disse ele tirando o celular do bolso.
- Foi ele quem me trancou no almoxarifado.
Felipe parou de digitar no celular e olhou para mim, primeiro, parecendo preocupado, e em seguida, apenas suspirou, quase como se estivesse aliviado.
- A médica disse que você poderia ter alucinações. O gás era muito perigoso.
- Não, eu vi, ele estava lá!
- Não estava meu amor, você imaginou isso.
- Mas...
- Dan, por favor, acha que aquele garoto deixaria você escapar se tivesse mesmo feito isso?
- Eu não sei, mas...
- Não tem mais. Ele não estava lá.
Decidi que seria melhor não discutir com Felipe, ele estava acomodado demais a nossa vida normal para sequer deixar que o pensamento de Nick retorne. Mas isso não altera a verdade. Sei o que vi, e sei quem eu vi.
Horas mais tarde entrei em casa e fui direto para cama, sabia que amanha teria que lidar com meus pais, mas não conseguia ouvir mais nada hoje.
Meu celular vibrou. Número confidencial me ligando novamente. Resolvi atender, talvez, só talvez, fosse Nick querendo me assustar.
- Sim? Falei.
- Dan? Aonde você está? Perguntou a voz aflita de John.
- Ah, oi pra você também. To em casa. O que foi?
- Samuel e o pai dele sumiram. Acho que Samuel convenceu o pai dele a se vingar de você.
Meu coração saltou. Sabia que não tinha acabado.
- E agora?
- Vá a policia e explique a situação, eu devo chegar ai em algumas horas.
- Ok.
- Dan? Por favor, tome cuidado.
Desliguei e me sentei na cama. Por um lado, estava feliz, afinal, não havia imaginado nada e nem ficando louco, mas por outro eu queria gritar. Desta vez, Nick não estava aqui para mandar mensagens e revelar meus segredos, ele estava aqui para me matar... E não estava sozinho.