Capítulo 32
Eu repassei muita coisa de tudo que tínhamos vivido nesse tempo no dia seguinte. Encontrei muitos fatos que me faziam acreditar nele, mas ao mesmo tempo não encontrei "provas" contra as acusações dela. Não iria encontrar mesmo. Percebi que não seria esse o caminho para encontrar as respostas que queria.
Me concentrei na minha estratégia. Antecipei possíveis reações de ambos e pensava nos movimentos a seguir. Aquilo tava me cansando. Minha cabeça fervia. Resolvi desencanar e deixar acontecer... Afeee.
Umas 10h da manhã. Tocou o telefone.
- Bruno?
- Não... Zé Colméia...
- Ah.... Ele sorriu. Você tá bem!
- Tô sim Dani, e você?
- Beleza gato. Fiquei preocupado contigo, mas agora tô legal.
- E a Ana?
- Hã... Saiu prá entregar uns curriculums. Ela está bem empenhada cara...
- Opa! E como!
- Hã?
- Nada, ontem ela me falou um pouco dos planos... Muito empenho.
- É, que bom né? O quanto antes ela conseguir se ajeitar, melhor prá nós...
- Podes crerDani?
- Geme...
- Hehehe... Vocês vem hoje a noite?
- Vamos sim.
- Pego vocês que hora?
- Não precisa Bruno, a gente chega de boa. Por volta de umas 8h.
- Então tá, vou estar esperando...
- Beijo na boca.
- Tchau.
Era simplesmente IMPOSSÌVEL acreditar que ele estivesse encenando... E se estivesse... Caralho! merecia um Oscar. Era delicioso...
Por incrível que pareça trabalhei de boa. Baixei "No Frontiers" e ouvi o dia todo, me abastecendo para a noite que viria. Seria uma noite de decepção ou revelações, tinha certeza. E eu estava surpreendentemente preparado!
Eles chegaram 10 minutos antes, eu estava acabando o jantar.
Ele lindo, cabelo que estava crescendo ainda molhado, camiseta justa, bermuda leve.
A vaca estava HORROROSA !!!
Mentira, tava linda também... Tinha que reconhecer.
Ele me deu um beijo e abraçou sem pudor...
- Tá melhor então?
- Tô sim, valeu...
Ela me olhava friamente atrás dele.
- Oi Bruno. Que bom que está melhor...
Sorri "à la Johnny Depp".
- Valeu Ana. Venham, estão com fome já?
- Não, quer um help aí?
- Esquenta não gato, tô acabando... Senta ai e podem ficar me admirando.
Ele se sentou e segurou o rosto com as mãos, inclinando-se como que paquerando... Era um moleque...
Ela nos investigava. Notava pelo seu olhar que estava confusa. Não sabia o que eu estava aprontando. Tinha certeza que ela aguardava uma recepção muito menos calorosa da minha parte.
- E aí Ana? Como foi o dia? Alguma notícia boa?
- Ah... entreguei alguns CVs e agora é aguardar né?
- Claro... Tomara que dê tudo certo rápido prá você...
- Ah, é... Vai dar sim. Sei que demora um pouco, nada é de um dia pro outro, mas graças ao suporte do Dani, tô tranquila.
Os dois me olharam. Olhares completamente diferentes.
O dele dizia "Vai ser rápido, não se preocupe"
O dela dizia "Você tá ferrado se depender de mim"
- Ah sim. Mas vai ser rápido...
Resolvi começar a atacar também. Sair da defensiva.
Contornei a mesa e me aproximei dele por trás. Massageando seus ombros eu segurei seu rosto e dei um beijo em sua nuca. Ele sorriu.
- Já contou prá ela Dani?
- O quê?
Eu olhei fundo em seus olhos. Ele entendeu...
- Ah... ainda não.
- Tudo bem ...?
- Claro... Fala você.
Era tudo que eu queria.
- Já decidimos Ana... Assim que você se ajeitar, e se Deus quiser vai ser rápido porque você é capaz disso, o Dani vem morar comigo.
A cor sumiu de seu rosto. Ela se segurou. Deu uma risada pálida.
E eu vi o inferno em seus olhos...
Notei que Daniel não estava esperando aquilo, mas como sempre, ele reagiu naturalmente. Me beijou e tratou em tranquilizá-la...
- Mas fique calma Ana. Conversamos antes e a gente vai te dar todo o apoio necessário. Só depois a gente se ajeita. Né Bruno?
- Claro gato... Não temos pressa nenhuma, até porque temos toda uma vida, certo?
- Hum, que lindo...
Estava uma delícia fazer aquilo com ela! Caralho, melhor que sexo! E eu já podia quase ter certeza, pela reação dos dois, que tinha acertado na estratégia. Ela estava engolindo do próprio veneno.
- Bom queridos... Vamos lá. Tá pronto.
Nós nos sentamos na mesa e íamos conversando sobre tudo. Eu e Dani tagarelávamos. Ela acrescentava alguns hã-hãs e risadinhas enquanto ciscava no prato.
- Não gostou Ana? Tá comendo nada...
- Não é isso Bruno. Estou esquisita...
- Poxa... Será que pegou minha virose?
- Espero que não...
- Ah, se foi isso... porra, vou me sentir culpado.
- Que isso Bruno... Não é nada disso. Ela tava bem até agora há pouco...
- Eu estou legal gente...
Mudei de assunto. Que passasse bem mal mesmo.
Em um determinado momento, Dani pediu liçensa e foi ao banheiro. Eu sabia que a resposta viria ali... Me preparei. Foi só a porta se fechar.
- Você não acreditou no que te disse Bruno? Está se enganando ou o quê?
- Ana... Pensei muito sabe...Não me importo.Não acredito, mas se for verdade, acho que ele mudou. A gente se ama. Não vou cair na sua, sorry.
- Você vai falar prá ele?
- Prá que? É o que você quer, né? Não vou não...
Ela limpou a boca e me fuzilou com os olhos...
- Bruno, escuta aqui. Vou ser bem direta contigo. Ele não te ama, está apaixonado talvez. Você nunca vai poder dar a ele o que eu vou poder...
- Ana,sinto te dizer... Ele já te conhecia. Me parece que ele já fez a sua opção.Não acha?
Ela deu uma risadinha perigosa.
- Você que pensa gatão. Perdi a primeira batalha. A guerra,só está começando.
- Que vença o mais forte...
- Não necessariamente Bruno... Não necessariamente...
É. Seria uma guerra!
Voltamos à nossa encenação assim que Daniel voltou à mesa. Eu estava surpreso com a desenvoltura dela, mas também com a minha! Estava orgulhoso de mim mesmo.Quase feliz de novo.
Terminamos o jantar, enrolamos no papo e ela, justificando o mal estar que a tinha impedido de comer direito, pediu para ir embora.
- Se incomoda Daniel ? Não queria atrapalhar vocês, mas tô mal...
- Que isso Ana. Vamos embora então.
- Eu deixo vocês...
- Não precisa Bruno. A gente vai de busão, ou pego um táxi. É rápido...
- De jeito nenhum. Deixo vocês lá.
No caminho, ele sentado ao meu lado, ela no banco de trás fingindo mal estar.
- Melhorou não Ana?
- Um pouco. Só preciso chegar em casa e dormir. Descansar...
- Não quer passar num hospital Ana?
- De jeito nenhum Bruno. Nada que uma bela noite de sono não dê jeito...
Não ia deixar de provocar...
- Poxa Dani... Já que ela precisa dormir, que tal voltar comigo ? Tô com saudade...
Ele me fez um cafuné e sorriu gostoso. Seus olhinhos brilharam...
- Hummmm Eu também gato. Muita... Mas, não sei... Se importaria Ana?
Ela me fritava pelo retrovisor...
- Não Dani... Tenho um pouco de medo de ficar naquela casa sozinha, mas se quiser voltar, tudo bem...
Ele me olhou, cara de moleque carente que perdeu o pirulito...
- Ai Bru, vontade não me falta... Mas tenho pena de deixá-la sozinha... Tu entende?
- Claro lindo. Não podia esperar outra coisa de você... Por isso que te amo.
- Repete...
- Por isso que te amo.
- Huhuhu...
Ele me beijou no rosto, e virou-se meio que para compartilhar com ela sua alegria. Pelo retrovisor percebi seu sorriso torto.