Capítulo 38
Ela foi embora. Brava, mordida e calada.
Nos sentamos no sofá um ao lado do outro. Ele segurou minha mão.
- Obrigado cara!
- Valeu...
- Tu fica aqui comigo hoje Bruno?
- Dani... Hoje não sei...
- Porra, pensa velho. A gente merece.
Nós merecíamos sim. Mas ficar com ele ali, menos de 24h de ele ter estado naquela mesma cama com a fulana... Sei lá se ia aguentar. Além do mais, apesar de tranquilo em relação à minha decisão, estava puto e chateado sim. Meses atrás, caso passasse por uma situação dessas, tinha certeza que eu teria terminado tudo, sem pestanejar. Eu queria entender essa mudança, e queria também, de certa forma, que ele pensasse no que tinha feito...
Mais uma vez, ele leu meus pensamentos. Ou meu olhar.
- Bruno... escuta só. Sei que prá ti é difícil. Também está sendo prá mim, acredite. Só que ou a gente passa por cima disso, ou isso vai passar por cima da gente uma hora ou outra. Não fica remoendo coisas.
- Ah, Daniel... Fácil falar.
- Não cara, sei que não é fácil. Mas a gente precisa superar. E falando ou vivenciando isso, tudo se esgota mais rapidamente. Ficar guardando não rola... Não ajuda. Já me dei conta da besteira, da burrada, já pensei que fosse te perder, sofri também. Fica aqui, de boa comigo.
Ele estava certo. Um dia eu teria que estar ali com ele, na mesma cama. E fato é que provavelmente ele já tinha frequentado aquela camas com outras, outros, sei lá. Eu já tinha dividido a minha cama, que hoje era dele, com outros também.
Apesar de tudo isso, éramos nós que estávamos ali hoje, dispostos a mais uma noite juntos. Não era uma vitória ?
Mas decidi me fazer de difícil.
- Fico contigo um pouco, mas volto prá casa hoje. Amanhã a gente se vê e conversa, ok? Preciso disso.
- Ah, meu gato. Que medo eu tive...
- Dani. Tenho duas perguntas prá você.
- Fala...
- Alguma chance dessa garota aparecer aqui grávida?
Ele não titubeou...
- Não Bruno. Nenhuma. Isso foi uma das coisas que eu estranhei. Ela tentou me impedir de usar camisinha. Mas eu não deixei.
Senti um alívio e tanto...
- Qual a outra pergunta Bruno ?
- Vem cá... Essa é ainda mais importante.
Ele sabia que não era momento de brincar.
Não falou nada, só esperou me olhando fundo...
- Dani. Quando você me conheceu, estava namorando com a Ana. A gente se envolveu, tenho plena consciência de que a "enganei" primeiro, mas aqui cabe aquilo que já falamos... Estávamos ambos curtindo, nos conhecendo... Era química e tesão.
- Hãhã. Mas tu mexeu comigo desde o início.
- Você também mexeu comigo, mas concorda que era só sexo de início?
- Sim, concordo...
- Pois então. Daí partimos prá suas taras loucas... Me expor prá mulherada prá apimentar nosso lance, uma exposição meio novidade prá mim...
- Bom...
- Você terminou com a Ana. Nosso lance se fortaleceu. Ficamos cada vez mais próximos. Nos afinamos... Viajamos juntos e transamos a três, aOps. Mas você topou na boa...
- Sim. Era uma situação diferente cara. Tara mesmo. Meu prazer ali era estar contigo de qualquer forma. E acho que o teu prazer era estar comigo também. Sentia assim.
- Tu não cairia em tentação com aquele peito do Ígor dando mole prá ti?
- Dani... Eu seria tentado sim, não sei se cairia na tentação sem você. Ter aqueles peitinhos na minha boca foi um tesão. Tesão maior foi ver você me olhando fazer aquilo..
- Eu entendo muito gato...
Eu rodeava prá chegar no ponto...
- Vai Bruno... a´pergunta.
- Chego lá...
Ele riu devagarzinho.
- Bom, agora você insiste prá receber a Ana aqui, na sua casa, mesmo sabendo que havia o risco de acontecer o que aconteceu...
- Bruno, eu não acreditava nesse risco...
- Dani, muita ingenuidade sua. No fundo, acho que você sabia sim. Se tem algo que você não é, é um moleque bobo.
- Continua...
- Vou ser direto cara... Você é bi, certo ?
- Hum... certo... Você quer saber se eu tenho prazer com mulheres? Tenho. Não é ruim.
- E qual a garantia que você me dá que isso não vai ser uma constante na nossa vida?
Eu tava louco prá ouvir a resposta.
Como sempre, ele foi direto e ácido. Aquilo me confortava e afligia de certa forma...
- Garantia ? De que isso não vai acontecer mais ?
- É...
- Não posso te dar essa garantia Bruno. A garantia que posso te dar é a que te dei. Sendo honesto contigo, não escondendo nada, mesmo correndo o risco de te perder também. Se eu fosse homo, só saísse com homens, também não poderia te dar garantias eternas. Não tem nada a ver com o fato de eu ser bi ou não.
Eu me levantei e o puxei pela mão.
- Vem cá comigo.
Fomos pro quarto. Me deitei na cama recostado na almofada, e o coloquei deitado no meu peito. Ele me olhava de lado, calado e lindo...
- Você e essa sua sinceridade doida. Isso é foda, sabia?
- Quer que eu minta?
- Não...
- Seria fácil Bruno. Mas não ia durar muito. Tu me conhece prá caralho, e eu também já te saco facinho...
Eu passei a mão pelo seu tórax. Ele fechou os olhos...
- Dani... Do que você gosta mais?
- Hã?
- De homens ou mulheres ?
- Bruno... prá que?
- Poxa cara... me fala, só quero saber...
- Falo, mas antes me diz... Você também já ficou com mulheres ?
- Sim, mas há muito tempo...
- Teria prazer com elas hoje?
- Provavelmente eu gozaria cara, é diferente. Não tenho vontade hoje em dia. Não me faz falta... Não me atrai. E não é o lance do corpo. É a pegada... A dependência... A insegurança...
- Tem homem dependente e inseguro também Bruno...
- Sim, mas é diferente... Você não me respondeu.
Ele ergueu seus braços e puxou meu rosto. Me deu um beijo na boca suave e calmo. Passeou com a ponta de seus dedos pelo meu rosto... Eu fechei os olhos.
- Bruno... Sua pergunta é do que eu gosto mais, de homens ou mulheres ?
- Isso.
- Hoje ?
- É...
- Meu gatão... Hoje eu gosto de homens e mulheres talvez da mesma forma.
Eu suspirei.
- A diferença, e que faz toda a diferença, é que apesar disso, hoje eu sei que SÓ AMO VOCÊ !
Eu quase parei de respirar.
E ficamos assim, aninhados, quietos, calados sentindo um a respiração do outro.
Estávamos a partir de então, juntos de novo.
Prá valer.