Capitulo 33
Antes que Heitor pudesse chegar eu voltei correndo novamente para a minha sala para pegar a minha mochila que eu tinha deixado cair. Quando cheguei lá quase não tinha alunos, os poucos que estavam ali não prestaram atenção em mim. Coloquei uma alça da mochila no meu ombro e sai correndo novamente. Mas antes que eu pudesse colocar um pé no estacionamento eu vi Chin sendo levado por dois outros rapazes em direção ao carro de Li, fiquei olhando até quando vi o meu ex amigo, ex namorado, ex tudo sair de dentro do carro e Chin e atirar nele, mesmo de longe eu conseguia ouvir o choro e as reclamações que o japonesinho estava fazendo. Li passava uma mão na costa dele enquanto com a outra mandava os dois rapazes irem embora. Acho que fiquei os trinta minutos inteiros que Heitor disse que demoraria para chegar até a faculdade espiando o casal de olhos puxados. Só cai na real quando vi a 4x4 de Heitor estacionando a dois carros de distancia do de Li. Pensei que ele ia me esperar dentro do carro, mas ele não fez isso.
A porta do carro bateu com um estrondo quando Heitor saiu de dentro da maquina de metal reluzente, seus olhos varreram o estacionamento a minha procura, mas não me encontrando. Afinal eu não estava no estacionamento, tecnicamente eu ainda estava dentro do prédio da faculdade. Como ele não me achou seus olhos caíram nas duas pessoas que eu fiquei espionando por meia hora. Não corri muito rápido quando eu vi Heitor fechar as mãos em punhos e ir na direção de Li e Chin a passos duros e decididos. Foi tudo muito rápido, eu ainda estava descendo as escadas correndo quando Heitor desvencilhou dos dois namorados, jogou Li no carro de meteu um soco super potente no meio da cara de Li. Chin gritou apavorado quando Li caiu todo mole no chão e eu cheguei bem a tempo de impedir que Heitor desse um chute na barriga dele.
Estava arfante e cansado, aquela pequena corrida foi muito desgastante para mim. Quando peguei no braço dele, que estava todo tensionado, Heitor virou o rosto torcido de raiva na minha direção e grunhiu. Puxei ele mais uma vez e vi quando seu belo rosto foi suavizando até um belo sorriso aliviado surgiu em seu rosto. Ele fez mais outra coisa que eu não esperava, pegou em meus braços finos, me puxou na sua direção e me deu um beijo de proporções arrebatadoras. Era possível sentir seu alivio, sua devoção e até a sua raiva de agora pouco. Uma de suas mãos estava na minha cintura pressionando-me a ficar mais perto dele, a outra estava emaranhada em meu cabelo. Um beijo que começou com muita surpresa acabou se transformando eu um dos beijos mais eróticos protagonizado por nós dois.
Ele me pressionou contra o carro que segundos antes foi o ponto de abate de Li, esfregava o seu membro duro na minha barriga e gemidos roucos que vinham do fundo da sua garganta vibravam em minha boca. Aquilo era ou mesmo tempo excitante e assustador, já viu se passa um senhor de família super conservador? Iria certamente chamar a policia e disser que tinha dois viados se beijando no meio de um local publico e que queria dar um queixa de atentado ao pudor. Mas eu não estava nem ai, poderia vir dez velhos preconceituosos que eu estava me lixando. Não paramos o beijo por causa da minha paranoia ou por causa da falta de ar que estava comprimindo meu peito e anuviando meus sentidos. Paramos o beijos por que Li estava acordando e Chin gritava o nome dele em uma mistura terror e alegria.
Mesmo o beijo já tendo acabado Heitor fez questão de me abraçar, mas eu acho que ele queria mesmo era a sua ereção. Chin encostou Li, que ainda estava um pouco tonto, no carro. Não podia negar que eu estava um pouco espantado com aquela demonstração de fúria de Heitor, não consegui impedi que meu subconsciente criasse uma imagem de Heitor me batendo.
- Heitor não era preciso bater nele - Falei baixinho ao mesmo tempo que ele me abraçou mais apertado - Eu já tinha cuidado de tudo.
- Eu cheguei aqui e não te vi em lugar nenhum - Seus lábios faziam pequenas caricias na minha orelha - Fiquei super preocupado quando você me ligou.
- Mas está tudo bem - Garanti - Tudo bem mesmo.
- O que foi que aconteceu com o nariz daquele ali? - Apontou com o queixo para Chin que estava dando varias tapas fracos no rosto de Li, seu nariz ainda escoria sangue.
- Ah...tipo, hum... foi eu - Me contorci envergonhado. Nunca pensei que algum dia eu diria para alguém que eu provavelmente tinha quebrado o nariz de outra pessoa. Mas ao contrario do que eu pensei que Heitor reagiria, com repreenda e uma baita mijada, ele fez o contrario, ele riu - Por que está rindo, Heitor?
- Estou rindo de você.
- Eu? - Indignação e curiosidade marcava a minha voz - Por que?
- Você ficou todo envergonhado quando me contou sobre o seu primeiro soco - Ele desdenhou de mim.
Não respondi por que naquele momento Li ficou completamente desperto e começou a disparar uma serie de palavrões para Heitor, que também não ficava para trás. Tive que segurar ele para que ele não pudesse avançar sobre Li novamente. Chin também tentava acalmar o namorado. Se aqueles dois resolvessem brigar nem eu, nem Chin conseguiríamos apartar eles. Heitor estava cada vez avançando na direção de Li e esse ultimo não ficava atrás.
- Heitor para! - Eu estava na frente dele, com as mãos espalmadas no seu peito super forte, colocando força para ele parar - Faz isso por mim! Heitor, por favor!
Mas era o mesmo que falar com uma porta e tentar para um caminhão. Enquanto eu e Chin tentávamos parar eles dois os mesmos não paravam com as ofensas. Heitor adotou Li como sendo um Pokémon e Li começou a chamar Heitor de rato de academia. Eles já estavam próximos um do outro demais, minha costa fazia contato com a de Chin, meus braços estavam doendo por causa do esforço de parar Heitor e eu tinha certeza que Chin se encontrava na mesma situação que eu. Afinal nós éramos idênticos tanto de tamanho quanto de peso, a única diferença era que eu era loiro e ele moreno. Tudo só piorou quando Li tentou dar um soco em Heitor só que ele errou o alvo e acertou em mim. Gritei quando a dor se alastrou por todo o meu ombro esquerdo, Heitor olhou para mim e me viu mordendo os lábios para que eu não gritasse novamente, mas meus olhos estavam molhados e ele viu isso.
Heitor grunhiu, um som rouco e ameaçador, e eu sabia que dessa vez nem eu conseguiria parar ele. Fiz a única coisa que eu sabia que poderia parar ele. Fiquei na ponta do pé, puxei sua cabeça mais para baixo e puxei ele para um beijo. Ele ainda tentou me parar e ir atrás de Li, mas eu sabia que seu desejo por mim falaria mais alto, e falou. Alguns segundos mais tarde Heitor me abraçou forte e começamos mais um beijo que era ao mesmo tempo erótico e romântico. Heitor sabia equilibrar as duas coisas muito bem. Parei o beijo e vi Chin empurrando Li para dentro do carro prateado dele, Heitor fez a mesma coisa comigo. Me pegou pela mão e me levou para dentro da sua 4x4 brilhante.
No caminho de volta para casa ele foi resmungando a todo tempo. Meus braços estavam doloridos, meu rosto estava inchado, vermelho e com as impressões digitais de Chin gravadas na minha pele e meu ombro atingido pelo soco de Li estava latejando, lançando pontadas de dor quando o carro fazia algum movimento brusco.
Quando chegamos na academia Heitor nem tirou a chave da ignição, saiu resmungando muitas coisas ininteligíveis e coube a mim desligar o carro, coisa que eu não sabia fazer, depois de uns cinco minutos tentando travar o carro eu entrei na academia e fechei as portas de metal. Encontrei Heitor esparramado na cama, com os braços sobre os olhos e no maior silencio. Tão diferente do Heitor resmungão que veio comigo de carro até aqui. O loft estava muito escuro, tateei a parede ao meu lado e as luzes halogênicas foram acendendo aos poucos. Os pés de Heitor estavam no chão e as pernas dobradas, me sentei ao seu lado e gentilmente tirei as mãos dele de cima de seus olhos.
- Ei! Olha pra mim, Heitor - Depois que eu tirei seus braços que encobriam seus maravilhosos olhos verdes eu me inclinei e começei a dar selinhos demorados por todo o seu rosto - Não fica assim, Heitor. Não tem nada com o que ficar bravo.
- Não tem, Christy-Ann? - Ele me puxou até eu ficar sentado sobre o seu peito e com a minha cabeça a centímetros de distancia da sua. Ele pegou meu rosto e virou até encarar o lado espancado - Não acha isso nada?
- Você viu o nariz dele, Heitor? - Desenhei pequenos círculos na sua testa franzida e depois dei um leve selinho nele - Não ia deixar barato, ele me deu um tapa e eu revidei com um soco.
- E por isso eu estou muito orgulhoso de você - Fez um pouco mais de pressão com os seus lábios nos meus - Meu garoto esta crescendo.
- Você falando assim parece que eu tenho 12 anos e não 21 - Beijei ele com mais vontade dessa vez. Heitor tirou o casaco que ele me emprestou e jogou longe. Com esse gesto me lembrei de algo - Heitor eu tenho roupas aqui, não tenho?
- Humm, roupas? - Beijos demorados no meu pescoço - Não sei... - De repente reconhecimento varreu seu rosto - Não, espera. Você comprou roupas quando você ficou aqui por um mês e elas ainda estão dentro dele.
- Como eu não olhei hoje? - Também tirei a camisa dele deixando a mostra aquele poderoso peito, deixei um rastro de beijos pelo seu peito que terminaram na sua boca - Mas esquece, as suas roupas cabem perfeitamente em mim.
- Posso de confessar uma coisa? - Sussurrou bem perto do meu ouvido e depois mordeu sensualmente o meu lóbulo - Eu prefiro você sem roupa.
Ri quando senti suas mãos entraram dentro da minha calça e dentro da minha cueca.
Heitor era perfeito para mim.
*****
A semana que se seguiu eu mais dormi na casa de Heitor do que na minha própria. Heitor quase toda a tarde me levava para andar de bicicleta em um parque próximo a academia. Em outras horas ele tentava me convencer a pegar o carro dele e ter aulas de direção. Ele sempre afirmava que para um cara de 21 anos que estava no curso de direito ter carteira de habilitação era indispensável. Não sabia se aquilo era verdade ou se ele estava apenas tentando me convencer a dirigir.
Nessa semana que passou Li e Chin não foram uma vez sequer até a faculdade e eu vi como Li era o principal motivador e apoiador das humilhações que eu estava sofrendo. Acho que eles começaram a me ver como uma pessoa ativa de verdade e não apenas como um cara que não tinha animo nem para sorrir.
Uma vez enquanto Heitor estava limpando a bagunça que era a cozinha eu vi seu celular sobre a cama, do meu lado, e peguei. Destravei a tela e o papel de parede da tela principal era uma foto dele beijando a minha bochecha e eu sorrindo como um bobo. Lembrei no dia que ele tirou essa foto, se a imagem fosse um pouco mais larga alguém poderia facilmente ver que nós dois estávamos pelados e se reparassem bem meu cabelo estava uma bagunça dourada, sinal que eu tinha acabado de fazer sexo.
Heitor me pegou no flagra enquanto eu olhava o álbum de fotos no celular dele, estava maravilhado com a quantidade de fotos minhas e deles, junto ou separados. Vi também varias fotos minhas dormindo e quando eu tomava banho, quando eu perguntei para ele quando ele tinha tirado essas fotos ele ficou todo embaraçado e começou a gaguejar de forma que seu sotaque ficou ainda mais forte e as palavras ficarem irreconhecíveis. Ri disso tudo e depois dei um beijo nele.
Na minha tentativa falha de tentar tirara uma foto dele no banho ele me beijo, na minha outra tentativa de tirar quando ele estivesse dormindo também não deu certo e nós acabamos por transar uma boa parte da noite. Mas ele tirava fotos comigo com uma disposição fantástica, fazia até posse quando eu falava que ele podia tirar uma foto comigo.
E como ele me prometeu ele estava deixando o cabelo crescer, agora estava apenas uma leve penugem cor de ferrugem que era tão macia ao toque que quando estávamos na cama conversando ou apenas deitados eu me via passando a mão pela sua cabeça. Heitor disse dois dias depois que a melhor forma de fazer ele dormir era eu fazer carinho na cabeça dele.
Eu estava gostando demais de Heitor e eu tinha certeza que ele também.
Como ele tinha me prometido, eu tinha me prometido e Li tinha me desejado.
Eu estava sendo feliz.