- Te vi conversando com o filho do diretor hoje. Diz o meu irmão Thiago.
- Eu? E aquela coisa tem filho?
- É. O Guilherme.
- Ele é filho do diretor?
- Você não sabia?
- Não... Agora eu to ferrado.
- Ferrado por?
- Esquece! E por que ele não estudava lá?
- Acho que ele morava com a mãe.
Eu terminei de almoçar, subi e tomei um banho e deitei na cama só de cueca.
- Quer saber? Preciso sair.
Peguei meu celular e liguei para a Lua.
- Quer sair?
- Por que você só me convida pra sair de dia?
- Luara, não me irrita. Você vai ou não?
- Você querendo sair de casa é novidade pra mim. Claro que eu quero. Passa aqui em casa.
- Ok!
Eu desci as escadas e o Tadeu (Meu irmão) estava com a namorada.
- Vai sair?
- Vou na casa da Lua.
- Ta bom!
Fui pra casa da Lua e fiquei horas esperando ela se arrumar.
- Quer sorvete?
- Obvio!
Nós fomos a sorveteria e depois fomos pra uma pracinha.
- Por que vocês saíram e não me chamaram? Diz o Felipe se aproximando.
- É porque... Por que Thalles?
- Sei lá. Eu só tava entediado e resolvi chamar a Lua pra sair. Acho que esquecemos de você.
- É eu devo ser muito importante pra vocês.
- Você é Lipe, só que eu to com problemas e precisava sair.
- Para aí! Você não me falou desses problemas.
- E nem vou falar. Não é nada que você possa me ajudar.
- To falando, tem homem nessa história. Desde hoje de manhã que você ta com esses sorrisinhos, fica viajando. Com toda certeza tem homem nessa historia.
- Para ta!
- Eu não vou falar mais, mas que tem homem, tem.
- Mudando de assunto: Seu aniversario ta chegando, né?!
- Ta, mas eu não vou fazer festa.
- Ele não, mas eu vou.
- Luara, eu não quero festa.
- Thalles, você não tem que querer, só tem que estar lá.
- Espera sentada.
- Já vão começar!
A gente ficou sentado naquela praça conversando até umas 16hs.
- Vou pra casa. Ainda tenho exercício pra fazer.
- Também vou!
- Vamos então!
Fui pra casa, subi pro meu quarto e fiquei lá fazendo exercícios e ouvindo musica.
Mais tarde meus pais chegaram, jantamos e eu fui dormi.
No outro dia cheguei bem cedo na escola e tive o desprazer de encontrar na sala o lindo, porém grosso do Guilherme com uns amigos.
Eu me sentei no meu lugar no fundo e logo ele veio em minha direção.
- E aí?
- O que foi garoto? To sem paciência pra você hoje!
- Meu Deus, hein! Eu só vim te cumprimentar!
- Dispenso sua gentileza!
As palavras saiam da minha boca sem eu nem perceber que estava sendo estúpido.
- Desculpa então! To voltando pro meu lugar.
- Tchau!
- Te conheço à dois dias e não te suporto. Sinto pena dos seus amigos.
Eu sentia uma coisa estranha quando ele falava comigo. Era uma mistura de raiva e tesão. Eu não sei explicar.
Os dias se passaram normalmente, eu acordando cedo, indo pra escola, evitando o máximo de contato com o Guilherme, mas quando a gente batia de frente discutíamos que nem duas crianças de seis anos.
Acordei seis horas, como todo dia (minha vida é uma rotina), tomei banho, me arrumei e tomei café com meu pai (Minha mãe já tinha saído e meus irmãos ainda dormiam).
Saí sete horas de casa encontrei a Lua e o Lipe perto do portão da escola.
- Preparado para mais uma manhã de tortura? Pergunta a Lua.
- Psicologicamente não. Responde o Lipe.
- Parem de drama. Eu digo.
A gente entrou direto pra sala porque estávamos um pouco atrasados.
- Com licença! Podemos entrar? Eu digo a minha professora favorita, Maria Cristina.
- Claro, Thalles. Estava te esperando.
- Obrigado!
Nós entramos e fomos para nossos lugares.
- Como ia dizendo...
Ela passou um trabalho para a Amostra Literária (Umas das palhaçadas que tem na minha escola) e eu fiquei no grupo da Lua e do Lipe (Coincidência? Não. A professora me ama).
As primeiras aulas passaram rápido.
No intervalo eu fiquei na sala terminando de copiar um texto imenso sobre localização e orientação (chatices de geografia).
- Thalles! Diz o Guilherme.
- O que foi garoto?
- Eu não quero brigar com você! Eu quero te convidar pra lanchar.
- Não! Obrigado!
- Eu quero começar de novo. Eu acho que, sei lá, só acho que a gente deveria ser amigo. Não tem por que ficarmos sem nos falar por uma bobagem.
- Acho que dá pra te desculpar.
- Me desculpar? Eu não te pedi desculpa.
- Então o que você veio fazer aqui?
- Eu vim pra promover a paz entre nós. Quem deveria pedir desculpa é você.
- E por que eu pediria? Porque você além de acabar com meu lanche foi um grosso comigo?! Digo saindo da minha cadeira e sentando na mesa.
- Onde eu fui grosso com você, garoto? Eu quis pagar o lanche.
- Me deixa, Guilherme!
- Calma, espera, Thalles! Você viu?
- Vi o que?
- A gente não consegue conversar civilizadamente nem por vinte segundos.
- Você não é civilizado como quer conversar civilizadamente com alguém?
- Para, Thalles! Me escuta!
- Fala!
- Olha, eu não sei porque, nem como, mas eu gosto de você, eu gosto desse seu jeito. Eu quero ser seu amigo. Vamos parar de brigar. Não importa quem errou. Vamos começar de novo... Prazer, sou o Guilherme. Ele disse e estendeu a mão.
Eu fiquei em duvida. Eu não sabia se ia prestar eu me aproximar do Guilherme, mas acabei aceitando ficar amigo dele. Afinal eu sentia coisas quando estava com ele.
- Prazer! Digo apertando a mão dele.