Capítulo 50
Estávamos na mesa ainda, acabando de saborear um peixe bom.
Ele tinha permanecido quieto, sério, mas sereno. Eu estava recolhendo a louça e preparando para lavá-la quando ele se chegou por trás.
Segurou minha cintura com força, colocou seu rosto no meu ombro e me abraçou forte, dando um suspiro profundo.
A resposta estava dada ali...
- Dani, e você tem que ir quando?
- Em 15 dias ainda... Temos um tempo prá ajeitar tudo.
- Bom... Assim não precisa correr tanto.
- É verdade. Bruno?
- Fala...
- Tu vai estar comigo certo?
- Claro Dani. Você sabe. Sempre.
- A gente vai se falar sempre né?
- Ih meu Deus... quanta carência... vou fazer o possível prá ter um tempinho prá vc...
- Malvado...
- Eu?
Estávamos deitados no sofá, recostados um no outro.
- Velho... sabe que pensei muito, muito mesmo. Mas acho que seria até sacanagem contigo, que sempre me incentivou e me fez ir além. Devo isso à você, tem noção?
- Ah... Menos cara. Você conquistou isso. Você sabe. Só faltava um empurrãozinho.
- É... com essa pegada.
- Seu safado.
Ele me apertou forte, mordeu meu pescoço.
- Vou sentir muito sua falta velho...
- Eu também cara. mas vai voar esse tempo, você vai ver...
- Tomara. Olha só...
- Hum...
- Antes de ir, preciso, preciso muito te levar em um lugar...
Medo! Ansiedade! Vontade! Quem diria...
- Ihhhh... Lá vem!
Ele riu gostoso.
- Não é o que tu tá pensando seu indecente.
- Hahahaha... Tá bom! Vai me levar na missa?
- Hei, até te levaria... mas ainda não. É um lugar que assim como você no hotel de Salvador, eu sempre quis voltar com "A" pessoa especial.
- Uau!
- Se prepare... Viajo no Sábado daqui a doze dias. Na véspera vamos lá.
- ok...
Eu tava feliz por ele. Triste. Com saudade. Com receio. Tranquilo...
Confuso prá caralho...
Aguardando...
Passamos a dita Sexta Feira juntos. Eu pedi folga na empresa e ele já estava nos preparativos para a viagem.
Fizemos as malas juntos, organizamos todo nosso esquema de comunicação e visitas...
Conta no Skype, celular da mesma operadora, bobeirinhas práticas assim.
Tínhamos definido que tentaríamos nos visitar a cada três semanas, alternando minhas idas e suas vindas. Era o que dava prá fazer.
Sete horas da noite. Tudo estava pronto. Eu acabava de me arrumar.
- Vamos logo Bruno!!! Que demora velho...
- Ei, calma... Você não me fala onde vou. Então espera.
- Mas é birrento viu...
- Sou sim. Não pode dar nenhuma dica?
- Ai... Engole essa curiosidade figura. Vambora. Vou dirigindo...
- Uia! Vai me vendar também?
- Hummm... seria legal! Mas não. Vai que me prendem no caminho achando que é sequestro...
- Hehehehe... Quase é!
A ansiedade e curiosidade de certa forma amenizaram a agonia da véspera de sua partida. Ele, esperto que era, tinha planejado antecipadamente. Era auto-defesa. Era proteção prá gente.
Entramos no carro e pegamos o corredor Norte-Sul.
- Daniel... De novo?
- Não seu safadão. Nada de aventuras hoje. Você hein ?
- Vai saber...
Rolou até um pouco de frustração com a negação, Não era o Autorama... Passamos pelo Ibirapuera e continuamos rumo ao centro.
- caraca velho... Vamos viajar?
- Ah... vamos!
Menos de 15 minutos e ele estava entregando o carro ao vallet do Terraço Itália, na Av. Ipiranga. Olhei para aquele arranha céu e tremi na base...
- Dani. Pelo amor de Deus... O que você vai aprontar, esse local é muito recatado!
- E eu? Sou o que? Vem comigo...
Subimos ao bar do terraço, e a vista era simplesmente linda. A cidade aos nossos pés, iluminada, vibrante, imensa...
E de certa forma uma sensação de que ali, nada nos atingia. Toda ameaça estava lá fora, lá embaixo. Ali tudo era beleza. O local perfeito prá uma despedida...