Capítulo 51
Nos sentamos em um sofá encostado no vidro do bar, que nos dava a sensação de estarmos no ar. Era lindo.
- Caraca Dani. Que lindo isso. nunca tinha vindo aqui...
- Pois é. Vim uma vez, há muito tempo atrás, e prometi a mim mesmo que voltaria com você...
Eu parecia um adolescente...
No piano bar, começou a soar uma canção linda, que eu amava. Sorri de leve.
- Que foi?
- Essa música... Eu amo. Outro dia a escutei e cheguei à conclusão que é a nossa história...
- Como é a letra? Não conheço...
- Ah, não... Escuta só...
Ele se recostou e fechou os olhos. Fiz o mesmo e senti seu pé me acariciando por baixo da mesa. Sutil. Carinhoso. O pianista tocava belamente...
- A melodia é linda... Mas e a letra? Quero saber...
- Chegando em casa eu baixo e te mando por e-mail. Ouve quando chegar lá. E me diz se não é...
- Ok.
Deixamos a noite passar sem pressa, conversando calmamente e desfrutando aquilo tudo. Em dado momento ele segurou minha mão.
- Quero te pedir uma coisa.
- Fala...
- Semana que vem, nesse mesmo horário, quero que venha aqui.
- Hã?
- Você vem ?
- Prá que?
- Vou te ligar. Quero que esteja aqui, nesse mesmo lugar. Quero falar contigo, mas aqui...
- Porra Dani... Fala agora!
- Ah moleque, não estraga! Vem ou não...
- Poxa, venho... mas que bobeira...
- Você vai ver que não. Vai ser legal.
- Você me inventa cada uma...
- Marca aí. São onze e meia da noite. Vou te ligar nesse horário, Sexta que vem... Se eu não ouvir esse piano, desligo...
- Ah... e sou eu o pirracento...
- E vamos embora! Amanhã vai ser foda!
Saímos ainda bobos com a noite deliciosa.
A semana foi foda!
Só depois de sua ida me dei conta do tanto que nossas vidas eram ocupadas por nós mesmos. Eu lembrava dele sempre, em cada canto da casa, lugares que passava, músicas que ouvia.
Por muito tempo em minha vida tinha me recusado a me entregar à essas paixões sofridas, essa dependência estranha, essa necessidade toda. Sempre tinha defendido uma individualidade que, embora eu notasse que tínhamos - e a viagem dele era prova disso - o que sentia agora me fazia questionar.
Era isso o amor de volta?
Era esse o amor definitivo?
Existiria?
Eu não tinha resposta prá nada, só sabia que estava sentindo uma falta louca dele, mesmo nos falando todos os dias e sabendo que ele estava bem, crescendo, aprendendo, feliz... Mas sua voz era triste.
Deitado na minha cama na Quinta Feira, logo após ter falado com ele rapidamente, me veio á mente tudo, desde o início...
Aquele primeiro dia na guarita. Um olhar... Um atrevimento prá um convite.
Meu atrevimento em me permitir aceitar aquele convite...
Nossos primeiros estranhamentos, suas taras, suas manias, minha vergonha...
Seu jeito sacana e incisivo em me conquistar aos poucos, me revelando sua personalidade e sedução,
Nossos encontros e desencontros,
minha insegurança em relação ao seu namoro,
seu rompimento, o convite prá vir morar comigo,
nossas viagens, aventuras nas ruas, sacadas, arpoador, Salvador,
nossas mudanças, nossas manias sendo trocadas,
seu crescimento profissional,
nosso crescimento pessoal,
tanta coisa... tanta coisa.
Eu dormi com saudade.
Tava bem difícil. Mais que eu tinha imaginado.