Outono! Época das folhas caírem e dos namorados se encontrarem de baixo de alguma árvore antiga sob a luz do luar, mas para alguns não está sendo tão fácil assim, especialmente, Albert. Ele sabe que logo não terá mais espaço no salão de sua tia. Depois que sair de lá para onde ir? Será que mais alguém vai aceitar um adolescente de dezessete anos com pais obsessivos indo a seu trabalho todos os dias?
Ele sabe que não terá chances de ficar em nenhum emprego.
É tanta coisa para pensar. Tem a formatura do colégio, os pais querendo leva-lo ao psiquiatra, o emprego em risco. Tudo veio de uma só vez. Tudo veio quando ele se assumiu para a família.
Em sua mente é como se fosse ontem, mas na verdade foi a mais de dois meses. Porém os rostos de surpresa, os palavrões a agressão física e verbal, tudo ainda dói como se fosse ontem à tarde. E o olhar de desprezo que ele encontra nos pais todos os dias, não deixa duvidas, que para eles também parece ter sido ontem à tarde.
As palavras mais difíceis em sua vida não saem dos seus pensamentos “eu sou gay”, a cada segundo isso volta para lembra-lo que ser gay (assumido) não é uma coisa fácil e que a época que esteve dentro do armário, foi um sonho. Que agora é tão distante e triste que sonhar com ele é impossível.
Tudo mudou desde que se assumiu, o que não mudou foi seu sonho de encontrar o cara perfeito, adotar duas ou três crianças e morar em uma casa no campo. Longe do mundo que o acusa de ser um pecador por apenas seguir seu coração.
Albert caminha pela rua segurando uma sacola com produtos de beleza. Que sua tia o mandou buscar, ele não liga para a linda imagem a sua volta. O tom perfeito do céu, as crianças felizes correndo para todos os lados.
Sua mente está tão longe que ele não percebe o que esta a sua frente.
Quando ele cai em si, está parado entre um homem segurando uma câmera, e ao seu lado um rapaz com um refletor e do outro uma jovem, vestida com um casaco de couro, que ela segura sobre o rosto.
A jovem lança um rápido olhar para Albert, e em seguida para o fotografo que segura à câmera. Este está imóvel, como se tivesse desmaiado.
Fábio, o fotografo, segura a câmera enquanto a foto é registrada. No momento em que Albert se virou, ele bateu a foto, assim não foi a jovem quem foi fotografada, mas sim Albert.
Quando Fábio tira a câmera do rosto seu olhar vai para Albert. Ambos se limitam a trocar olhares, o momento não é para conversar.
— Perdão. Eu não percebi que estavam tirando fotos... — diz Albert ignorando totalmente qualquer um ao seu redor, não faz isso propositalmente, mas naturalmente seus olhos só conseguiam enxergar o rosto de Fábio.
— Tudo bem — Fábio da um sorriso nervoso. Ele não acredita no que seus olhos estão vendo. Os olhos de Albert são tão claros que parecem duas esferas de cristal, a cor é perfeita, o contorno da um tamanho maior e a luz faz com que eles brilhem. São os olhos mais lindo que já vi, pensa Fábio em êxtase.
Albert acena com a cabeça para o homem em sua frente e olha para os outros dois elementos da cena, a jovem que segura o casaco e o garoto que coloca o refletor no meio das pernas e cruza os braços.
Albert sente que as maças de seu rosto estão quentes. Como sou idiota, além de perder o meu emprego, agora vou ficar atrapalhando o dos outros, pensa ele se virando com mais agilidade do que andava antes de ser fotografado por engano.
— Perdão novamente — agora Albert se dirige a todos.
Fábio abre a boca duas ou três vezes, por fim não diz nada, apenas acena com a cabeça. Mantendo seu sorriso de nervosismo, por estar tão abalado com apenas dois olhos. Ele sente como se Albert tivesse o olhado como ninguém nunca vez, olhado no fundo de sua alma. Onde olhos normais não conseguem chegar.
— Vamos continuar? — investiga Sue, a jovem que volta a colocar o casado sobre a boca e joga um olhar felino para a lente da câmera.
— V-vamos... — diz Fábio perdido nos seus pensamentos e na imagem de Albert sumindo na esquina. Ele só volta sua atenção para a jovem depois que o menino distraído não está mais no seu campo de visão.
***
Depois de muito trabalho a equipe consegue as fotos que precisam. Não é muito, mas já ajudara a pagar o aluguel dessa semana. Fábio, Lucas e Sue estão lutando contra o tempo para conseguir ter estabilidade no caixa.
Tudo isso era o sonho do avô de Fábio e ele não deixara que tudo acabe assim sem mais e sem menos. Como queria que eles pensassem assim, diz ele a si mesmo se lembrando dos pais, exatamente, da conversa que teve com eles e soube que eles não iriam ajudar em nada.
— Ele tem os olhos mais lindos que já fotografei como queria que tivesse sido de outra forma — sussurra Fábio a Lucas que entra no quarto escuro. Sue não sabe que Fábio é homossexual, ou finge não saber, então ele sussurra.
Com o mesmo sorriso de antes ele admira a foto que acaba de sair da água. É tudo tão perfeito naquele garoto.
— Bom, eu sou homem, mas tenho que admitir os olhos dele são bonitos e quase ninguém tem, é como um vidro com uma cor no fundo. Se os meus fossem assim teria uma namorada mais bonita — Lucas encara Fábio com um sorriso brincalhão.
— Se Sue ouve isso você vai ficar é sem nenhuma namorada — Fábio coloca a mão no meio dos cabelos do amigo e desfaz o penteado que demorou mais de meia hora para ser feito.
— A cara, faz isso não! — diz Lucas corendo para tentar preservar alguns fios no lugar.
Lucas vai para um pequeno espelho que está no canto direito do quarto três por quatro. Ele não enxerga muito, mas consegue ver que não restou nada além de um monte de cabelos, onde antes era uma franja gloriosa. Merda! Ele xinga mentalmente se lembrando do trabalho que teve para fazê-la.
— Salão Charmville — diz Fábio.
Sem entender, Lucas olha para ele com uma das sobrancelhas de pé.
— Agora que desmancha você me manda ir a um salão.
— Não, bobo. Aquele rapaz de hoje mais cedo, ele segurava uma sacola e estava escrito Salão Charmville — quando termina Fábio mostra um sorriso safado para Lucas.
— Você não está pensando mesmo em ir lá... só para... Fábio! — Lucas não consegue dizer o que pretendia. Fábio pega sua touca e caminha para a porta.
— Eu estou mesmo precisando cortar o cabelo, já não aguento mais usar essa touca, e não vou lá estuprar ninguém — Fábio mal consegue respirar. Ele fala tudo o mais rápido possível para conseguir chegar ao seu “modelo” o mais rápido possível.