PARTE 8: "Esse cara é um babaca!"
Acordei com a minha cabeça doendo e um enjoo enorme. Eu estava na casa do Neko. Lembro vagamente do que aconteceu depois que eu o abracei.
Olhei ao redor do quarto e o Neko não estava lá. Me levantei e a minha cabeça parecia doer mais. Caminhei até a sala e eu vejo o Neko conversando com o Gabriel. Eu não via o Gabriel desde a vez em que transamos. O meu coração acelerou. Gabriel estava de costas pra mim e o Neko ainda não tinha me visto de pé. Sabe aquelas borboletas no estomago? Elas pareciam querer saltar pela minha boca. Corri pro banheiro e vomitei. Levantei e me olhei no espelho. Eu estava uma merda. Aproveitei que estava no banheiro e tomei um banho demorado. Eu não pensei em nada durante o banho. Pensar fazia a minha cabeça doer ainda mais. Deixei a água cair sobre mim enquanto tentava relaxar. Até que ouço alguém bater na porta. Era o Neko.
Neko: Nando?
Ele deu uma pausa como se tentasse me ouvir.
Neko: Você tá bem?
Respondi que sim e pedi pra ele deixar a minha mochila na porta.
Terminei com o banho e peguei a mochila. Me vesti e fui até a sala, mas o Gabriel já não estava lá. O Neko estava na cozinha preparando alguma coisa pra comer.
Neko: Nando, fiz sanduiche pra você, é melhor você comer. Ainda tô terminando de preparar o almoço.
Eu: Valeu, Neko. Aceito o sanduiche.
Sentei na cadeira envolta da mesa da cozinha enquanto o Neko me trazia o sanduiche acompanhado de refrigerante. Não conversamos, eu não estava bem pra conversa. Terminando de comer eu perguntei a ele se eu podia deitar mais um pouco.
Neko: Sem problemas, Nando! Eu te chamo quando o almoço estiver pronto.
Voltei pro quarto dele e me deitei.
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Acordei com alguém me fazendo cafuné. Quando abri os olhos eu vi que era o Gabriel.
Eu: Ga-Gabriel?
Levantei no pulo me sentando e olhando pro Gabriel sem acreditar que ele estava ali. Em seguida botei a mão na minha cabeça por causa da dor.
Gabriel: Dor de cabeça? Imaginei que estaria assim, por isso fui em casa buscar um remédio pra ti.
Ele me deu um remédio.
Gabriel: Vou buscar a água.
Fiquei com o remédio na mão olhando o Gabriel sair do quarto. Eu estava confuso. “Porque ele tá aqui e ainda por cima me trouxe remédio? Ele voltou pro ex dele. Ele talvez estava fazendo isso apenas por piedade ou ele realmente gosta de iludir as pessoas!” – pensei.
Gabriel: Pronto! Aqui sua água.
Tomei o remédio.
Gabriel: Vim aqui mais cedo pra ver o Neko e ele me disse que ontem você se divertiu bastante.
Ele deu uma risada safada. Eu respondi com um sorriso tímido.
Eu: Cadê o Neko?
Gabriel: Ele foi na rua correndo pra comprar uma coisa que faltou pra preparar o almoço. Deixa eu levar seu copo pra cozinha.
Entreguei o copo a ele. Continuei sentado enquanto ele foi pra cozinha. Fiquei ansioso por estar sozinho com ele. Eu precisava aproveitar aquela chance e tentar conquistar ele de qualquer jeito.
Gabriel: E a memória? Tá meio falhada, né?
Ele perguntou enquanto se sentava do meu lado.
Eu: Bastante! Tem coisa que não tenho certeza se aconteceu ou se foi um sonho. É muito estranho.
Ele riu.
Gabriel: É assim mesmo. No decorrer do dia você vai se lembrar um pouco mais das coisas, mas nunca vai recuperar completamente a memória. As coisas vão aparecer na sua mente como se fossem fotos. É bem engraçado.
Eu já tinha me esquecido como era bom ouvir ele falar. Ficamos ali conversando por algum tempo. Ele me contou como foi o primeiro porre dele. Rimos bastante. Depois o Neko chegou e terminou de preparar o almoço. Gabriel disse que não poderia ficar pro almoço e se despediu.
Durante o almoço o Neko não me questionou sobre nada do que fiz naquele luau. Eu estava na dúvida se contava pra ele ou ficava na minha.
Eu: Você já viu esse namorado do Gabriel?
Perguntei enquanto dava mais uma garfada no almoço.
Neko: Vi só uma vez. Ele parece o incrível Hulk.
Ele riu.
Neko: Mas, vem cá! Você se lembra do que aconteceu no luau?
Eu: Não muito. A minha última lembrança é de nós dois abraçados numa bad trip da porra.
Rimos.
Eu acabei preferindo não contar sobre meus sentimentos.
Eu: Seu nome não é Neko, claro! Mas porque todo mundo só te chama de Neko?
Neko: Ah, eu sempre me apresentei como Neko. Gosto que me chamem assim.
Eu: Tá, mas e o seu nome? Qual é seu nome de verdade?
Neko: Felipe.
Eu: Felipe.. você não tem cara de Felipe.
Rimos.
Eu: Neko, obrigado por me trazer pra sua casa vivo e por ter cuidado de mim.
Neko: Que nada, Nando! Saiba que você já me tem como seu amigo! Pode contar comigo pro que der e vir!
Neko definitivamente era um cara legal, mas ainda não era a hora de me abrir pra ele.
Ajudei ele a arrumar a casa depois do almoço e depois me despedi. A dor de cabeça e o enjoo haviam diminuído. Ver o Gabriel e ter conversado com ele me fez bem. Quando cheguei em casa mandei uma mensagem pelo Whatsapp pro Gabriel: “Obrigado pelo remédio! Estou bem melhor agora! E não estou falando do remédio que você me fez tomar, estou falando da sua presença, ela me fez super bem. “ Ele não respondeu. Não me importei na hora.
No dia seguinte por volta das 11:30h mandei um “bom dia” pro Gabriel e perguntei como ele estava. Ele não respondeu.
“visto por último hoje às 11h21”
A todo momento eu abria o Whatsapp pra ver se ele estava online.
“visto por último hoje às 12h15” – sem respostas dele.
“visto por último hoje às 14h40” – sem respostas dele.
“visto por último hoje às 18h03” – sem respostas dele.
Eu estava deitado na cama quando ouço o barulho de notificação do meu celular que estava carregando na mesa do computador. Eu dei um pulo e num instante alcancei ele. Era uma mensagem no Whatsapp. Quando abri...
Neko: “Nando, acabei de chegar do trabalho e tô afim de lanchar na confeitaria que tem aí na sua rua. Topa lanchar comigo lá?”
Tinha uma confeitaria a 2min da minha casa que vendia doces e os mais variados tipos de pães e salgados.
Respondi que sim e fui me encontrar com ele lá. Escolhemos o que queríamos comer e nos sentamos por lá mesmo pra lanchar. Eu não tirava o Gabriel e o ex dele da minha cabeça.
Eu: Neko, o que você acha desse lance do Gabriel ter voltado pro ex? Você acha que vai dar certo?
Neko: Nando, nem sei.
Eu: Esse cara não é de São Paulo? Ele só veio pra cá porque a empresa transferiu ele pra cá. Não é?
Neko: Aham, isso mesmo. Já tem um ano que ele tá aqui no Rio.
Eu: 1 ano? Mas o namoro dele com o Gabriel tem o mesmo tempo. Como assim?
Neko: Vou te contar uma coisa. Eu sempre achei que esse cara só está com o Gabriel porque ele não quer ficar sozinho aqui. Ele veio pro Rio e largou um namoro em São Paulo que durou 8 anos! Você tem ideia do que são 8 anos? Eu acho que esse namoro só terminou porque ele estava vindo pro Rio. Agora imagine: você numa lugar diferente sem conhecer ninguém! É claro que ia te bater uma carência e você arrumaria um jeito de se distrair. Foi aí que ele conheceu o Gabriel! E quer saber mais? É claro que esse cara ainda ama o ex dele! Foi um namoro de 8 anos que ainda está mal acabado. Eu queria fazer o Gabriel enxergar isso, mas o Gabriel está cego por ele.
Eu: Mas ele vai voltar pra São Paulo daqui a 2 meses, não é? Então o que fez o Gabriel mudar de ideia e voltar pra ele? Por acaso esse filho da puta prometeu comprar uma casa pra eles aqui no Rio?
Eu estava começando a ficar meio alterado. Eu estava ficando com bastante raiva do namorado do Gabriel.
Eu: Duvido que ele tenha prometido isso ao Gabriel! Duvido!
Neko: Isso ainda não é certo.
Eu: Como assim? O que ainda não é certo?
Neko: Esse lance dos 2 meses. Ainda não é certo.
Eu estava bastante nervoso, mas tentei não demonstrar isso. Meu rosto queimava e eu sentia que minha mão estava tremula.
Eu: Esse cara é um babaca! Ele tá brincando com os sentimentos do Gabriel!
Neko: Eu sei, amigo, mas o Gabriel não vai querer enxergar isso.
Eu peguei meu celular e fui ver se eu tive alguma resposta do Gabriel.
Eu: Neko, perdi a fome. Desculpa! Depois a gente se fala.
Me levantei e fui pra casa.
Fiquei pensando no quão babaca era o namorado do Gabriel. Eu saí da confeitaria sem comer nada. Deixei tudo na mesa. Fui pra cozinha tentar preparar algo pra eu comer, mas a minha mão tremia. Desisti e fui pro meu quarto. Me sentei na beira da cama. Peguei o meu celular pra confirmar mais uma vez que o Gabriel viu a minha mensagem mas não respondeu. Eu não podia deixar aquela situação como estava. Eu precisava fazer com que o Gabriel visse de alguma forma que o seu namorado estava apenas usando ele. E eu ia mostrar isso a ele.