Quase 2 meses se passaram. Lídia voltaria na próxima semana, e estava eufórica por isso. Ela estava diferente, meu pai disse que ela levou um namoradinho da escola pra casa dele, coisa que nunca fez em casa, e que os viu se beijando. Devo confessar que fiquei um pouco abalado, mas acho que não é fácil pra nenhum pai ver que sua filha está crescendo, mas no fundo eu fiquei muito feliz, acho que essa era a prova que eu procurava, pra ter a certeza que não era paixão ou amor que ela sentia por mim, só hormônios, coisa da idade.
Eu estava estressado por causa do trabalho, algumas coisas ruims aconteceram, descobriram que um dos sócios estavam desviando dinheiro, com ajuda de alguns funcionários, e isso deixou as coisas um caos por um bom tempo. Mas sempre que chegava em casa, Marie e Gisele não me deixavam ficar de mal humor, sempre conversando e rindo, e me fazendo rir. Sempre saiamos, os três juntos, iamos ao cinema, bares, shows. E não foi somente aquela vez que dormimos os três juntos, na mesma cama, embora em nenhuma delas houve qualquer tipo de maldade. As duas se davam muito bem, em pouco tempo eram melhores amigas, sempre estavam juntas, rindo. Mas naquele dia foi diferente.
Eu cheguei em casa cançado, como tinha virado rotina no último mês, mas logo que entrei senti um clima diferente, não ouvi suas risadas, na verdade não ouvi nada, o ar estava até mais pesado lá. Fui andando pela casa, chamando por elas, mas não recebi resposta. Fui até a sala, a sala de jantar, a cozinha, e sai pra piscina, lá achei Marie, escostada na parede, chorando abraçada as pernas.
-Marie? O que aconteceu??- eu perguntei me aproximando e tocando seu braço. Mas ela só olhou pra mim e voltou a chorar.
-Marie... olha pra mim. Me diz o que aconteceu. Por que você tá assim?- ela continuava chorando, eu me levantei, fui até a cozinha, peguei um copo de água e ofereci a ela, ela o pegou.
-Já se acalmou?- ela deu um gole na água e fez com a cabeça que sim.- Então você já pode me contar o que aconteceu?-ela respirou e respondeu que sim com a cabeça novamente.- Então, o que aconteceu?
-Eu a Gisele, a gente tava conversando, e aí eu contei uma coisa que eu fiz, e ela não gostou muito e...-ela começou a chorar novamente, e me abraçou longamente.
-Eu já volto...- eu disse me levantando.
-O quê? Aonde você vai?- ela perguntou um pouco assustada.
-Vou falar com a Gisele.
-Não!- ela gritou e abraçou forte minha perna.
-E por que não?- eu disse segurando delicadamente sua mão, mas ela não se justificou.
Eu me levantei e fui em direção a porta, Marie começou a chorar ainda mais compulsivamente. Eu a olhei, mas entrei, precisava saber o que estava acontecendo. Subi as escadas e bati no quarto de Gisele.
-Vai embora!!-ela gritou com raiva.
-Calma, Gisele, sou eu.- eu disse calmamente. Ela veio até a porta e a abriu.
-Oi...-ela disse com a voz rouca.
-O que aconteceu?- ela se virou, foi até a cama e sentou. Eu fiz o mesmo, e ela cai chorando em meus braços. Eu a abracei e a consolei por alguns minutos, até que ela se acalmou.
-O que aconteceu, Gisele?- eu perguntei, limpando seu rosto das lágrimas.
-Eu e Marie, nós... brigamos...- ela respondeu me abraçando.
-Mas por que? Vocês sempre se deram tão bem...
-Pois é, talvez seja por isso...
-Como assim?
-Nós sempre nos demos muito bem... contamos nossos segredos uma pra outra...
-E por que brigaram desse jeito?
-Por causa desses segredos...
-Como assim?
-Ela me contou umas coisas ruins que fez... e não parecia arrependida...
-O quê?
-E ai eu fiquei brava e briguei com ela... a xinguei... de todas as formas que pude...
-Mas o quê? O que ela fez?
-E nós discutimos, muito... e eu dei um tapa na cara dela...
-Gisele! Me diz... o que ela fez?
-Ela... ela... ela...
-Por favor, Gisele. Diz...
-Não, é melhor não.
-O quê? Por que??
-Se eu te contar, só vai piorar as coisas, é melhor ela dizer... se ela tiver coragem...
-Gisele eu... eu vou lá falar com ela...-Eu me levantei mas ela segurou minha mão e se levantou também.
-Maninho... aconteça o que acontecer... eu vou sempre estar do seu lado...
-E eu do seu, mana... eu te amo...
-Eu também... muito mesmo...
Ela me abraçou, nos abraçamos, por um longo tempo. Depois ficamos nos olhando, muito próximos, respiração ofegante, corações acelerados, ela se aproximou mais, e beijou meu rosto. Lentamente, descolou os lábios de minha bocheca, com os olhos brilhando, afastou-se um pouco, mas logo após voltou a apertar o abraço.
Ela se aproximou denovo, fechou os olhos, entreabriu os lábios, respiração cada vez mais forte, coração cada vez mais rápido, nossos lábios cada vez mais perto, e finalmente nos beijamos. Pela primeira vez, depois de mais de 15 anos, eu voltei a tocar os lábios de minha meia irmã com os meus. Nos beijamos com muito amor, muito desejo, sua mão na minha nuca, a minha no seu rosto. Em pouco tempo estavamos na cama, envolto em beijos e carícias, e ela tirou minha camisa, e então eu voltei a mim. "O que eu tô fazendo??", perguntava a mim mesmo.
Eu pulei da cama um pouco assustado, peguei minha camisa, a vesti e fui em direção a porta.
-Espera!- Gisele disse tentando me segurar.
-Eu vou falar com a Marie...
-Me desculpa...
-Não precisa se desculpar, eu também quis...
-Então por que pulou da cama desse jeito?
-Eu... eu vou falar com a Marie...
-Só me responde se... se você gostou...
-Depois a gente conversa...-eu fui até a porta, mas parei encostado no batente.- E sim, eu gostei... muito...
Eu sai de lá, não acreditava no que tinha acontecido. Mas precisava saber os motivos dessa briga. Por que Gisele ficoi daquela forma, enfurecida, mas não quis me contar o que a fez ficar assim, o que Marie havia confessado a ela, e o que eu queria que ela confessa-se a mim.
Procurei por ela, mas não fui muito longe, ela mesma me puxou, estava no nosso quarto. Ela foi logo me beijando, me empurrando pra cama, mas eu tinha que saber o que aconteceu.
-Para Marie...- eu disse entre um beijo e outra dela, que parecia um pouco desesperada. -Para... Eu tenho que falar com você...
-Não precisa falar, eu vi... você e a Gisele, a conversa... o que aconteceu depois...
-Marie... eu... me desculpa, eu...
-Não precisa, eu acho que isso era questão de tempo...
-Não. Eu não vou fazer mais isso. Eu te amo.
-Marcos... se você e ela fizeram assim algo antes, tudo bem...
-Não fizemos.
-Então, se vierem a fazer...
-Eu não vou fazer nada com ela, Marie. Eu te amo.
-Mas se...
-Não tem se! É esse segredo não é? Que te fez ficar assim.
-Não... não sei... talvez...
-Me conta, o que você fez? O que contou pra Gisele e não pra mim?
-Eu... eu... eu...
-Fala, Marie...
-Eu... eu não tenho coragem...
-Não tem coragem? Como assim??
-Eu tenho medo... do que vai acontecer depois...
-Então não vai me contar...
-Não é isso...
-Ok, tudo bem... não conta...- eu me levantei, saindo.
-Aonde você vai??
-Vou dormir em outro quarto, até você devidir voltar a confiar em mim...
-Não faz isso comigo! Por favor, eu te amo!!
-Não sou que tou fazendo isso, Marie... É você mesma...
Eu me virei e sai do quarto, fechei a porta, de olhos fechados. Só conseguia ouvir Marie se desmanchando lá dentro, quando abri os olhos, Gisele estava encostada na porta de seu quarto, me olhando com cara de choro. Eu passei por ela e dei um beijo em sua testa, fui em direção ao quarto em frente, outro quarto de hóspedes.
Me tranquei e fiquei por lá o resto da noite, não senti fome, não senti sede, não sentia nada além de tristeza. Marie bateu na porta algumas vezes, implorando pra eu abri-la, mas eu não me levantei da cama, escutei ela se encostando na porta, choramdo compulsivamente. E eu não fazia nem idéia do porque. No longo tempo que passei acordado, que mais pareceram milênios, formulei as mais diversas e bizarras teorias. De uma cor de unha estranha, a canibalismo de crianças. Eu simplesmente não sabia o que pensar, e aquela foi a noite mais mal dormido que me lembro.
No outro dia me levantei sem vontade alguma. Quando eu abri a porta, Marie já não estava mais lá, a vi dormindo no sofá depois que desci, mal me arrumei e fui ao trabalho, tentando não fazer barulho, o que não deu muito certo. Quando liguei o carro e comecei a sair da garagem, ouço Marie gritando meu nome, e depois vejo ela abrindo a porta e começar a correr em minha direção. Nessa hora eu arranquei com o carro, nem soube o porque, mas arranquei. Sai de lá o mais rápido possível, cheguei o mais rápido que pude a empresa, só pedi a minha secretária que, se de alguma forma, Marie tentasse falar comigo, eu não estaria. Me tranquei no meu escritório e fiquei, literalmente, vendo as horas passarem.
Já era quase hora do almoço, quando o telefone toca. Minha secretária avisa que Aninha queria falar comigo. Desde que tive aquela conversa com HP ele nunca mais foi o mesmo, na verdade, já estava um pouco estranho desde antes disso. Ele não contou a Aninha sobre o caso com Samantha, soube disso só pela forma como ele olhava pra ela, como se tentasse criar coragem. Ele não queria mais se encontrar muito comigo, só o necessário, e eu não entendia o porque. Atendi Aninha.
-Oi, Aninha...
-Oi, Marcos. Liguei em má hora?
-Todas as horas tem sido más ultimamente... Pode falar.
-Não, eu queria marcar com você, o que eu quero dizer só pode ser dito pessoalmente.
-Então tudo bem... Pode ser agora no almoço?
-Não, é melhor você vir aqui em casa, pode demorar e... eu tenho medo da sua reação se estivermos em público...
-Ok, eu vou a sua casa assim que sair do trabalho...
-Ótimo, até lá.
-Até.
Desliguei o telefone, e tive a estranha sensação que naquela tarde, na casa de Aninha e HP, tudo se esclareceria, mas não sabia porque.