Depois do beijo ficamos um tempo sentados, largados ali no chão. Ninguém dizia nada, parecia que eu estava pra ter um infarto, meu coração estava muito acelerado. Depois olhei para ele, de cabeça baixa, totalmente perdido em pensamentos.
_Murilo...
Eu não sabia o que dizer, pois eu nem sabia o que pensar. Nos beijamos de novo, mais uma vez isso não deveria ter acontecido. Por que eu correspondi? Ele é homem, e ainda por cima é meu melhor amigo, quase um irmão. Me levantei, peguei as chaves do carro e saí pela cidade sem um destino concreto. Acabei voltando para aquela praça de alimentação onde tinha visto o casal gay mais cedo. Já estava quase vazia, poucas pessoas ainda estavam por lá. De longe, avistei alguns colegas da facul sentados em uma mesa no canto, e do nada resolvi ir até eles. Não somos muito próximos, mas naquele momento eu não queria ficar sozinho para pensar naquilo.
_Oi galera, tudo certo?
Pedro: Ow, eae brow, tudo bem!
Mary: Oi, senta com a gente!
Kayo: Tá tudo bem? Hahahaha você aqui, sem o fiel escudeiro?
Ana: Senta aqui- disse liberando uma cadeira ao seu lado- Nós vamos fazer o pedido, quer comer também?
_Valeu galera, pois é Kayo, o Murilo tá em casa. Eu aceito, vamos comer o que?
Apesar de estar longe, de estar com outras pessoas, de estar me divertindo e tals, eu ainda pensava nele de vez em quando. O que será que ele estava fazendo e onde? Fiquei mais algum tempo por lá, depois resolvi me despedir e ir embora.
Quando cheguei levei um susto. O Murilo ainda estava sentado no mesmo lugar, com os olhos vermelhos e olhando para baixo. Eu sabia que ele havia chorado muito e para piorar aquela expressão vazia era de dar dó em qualquer pessoa.
_Cara! O que tá acontecendo com você? Murilo, acorda mano! Você não pode ficar aí, desse jeito.
_Por que você está aqui perdendo seu tempo comigo? Vai dormir, me deixa aqui.
_Eu não ouvi isso..... porra eu sou seu melhor amigo, é claro que eu tô preocupado com você! Aquilo que aconteceu....
Nisso ele me interrompeu gritando:
_O QUE? VOCÊ VAI DIZER QUE ESTÁ TUDO BEM? QUE NÃO FOI NADA DE MAIS? VAI ME DIZER QUE TUDO VAI SER COMO ERA ANTES? QUE NÃO ESTÁ BOLADO? QUE NÃO TÁ BRAVO? PORRA, PARE DE SER ASSIM, NÃO TENTE ME FAZER SENTIR MELHOR! EU TÔ COM NOJO DE MIM MESMO POR FAZER ISSO COM VOCÊ! LOGO VOCÊ!
_Para! O que você fez comigo? Você fala como se tivesse me feito algo ruim, fala sério! ACORDA!
_Você realmente não muda, né? Sempre tentando fazer os outros se sentirem melhor, quando na verdade você também está na merda! Para de ser o herói, você sabe que eu estou te confundindo, que eu estou de corrompendo. Eu não quero que você siga esse caminho, você não entende? Para, você vai se machucar mais.
_Olha só pra você, falando essas coisas absurdas. Agora é você que está tentando mentir pra você mesmo! Vai me dizer mais o que? Sinto muito, foi um erro meu?! Eu sei que eu fui idiota de ter de largado aqui sozinho, se não fosse por isso talvez você não estivesse com essas ideias idiotas. Não quer me fazer seguir por qual caminho? O seu?
_Você não entende mesmo. Eu não preciso da sua compaixão, não preciso que você me perdoe.
Eu não estava entendendo os motivos de ele estar assim. Mas depois de tudo isso, tudo estava ficando mais claro, eu estava me sentindo atraído por ele. Eu nunca comentei, mas o Murilo é alto, definido, olhos azuis, cabelo castanho bem claro e uma boca muito linda. Não era uma boca carnuda, mas também não era “mirrada”. Naquele instante eu só pensava em como isso iria acabar, pois eu não poderia perder o meu melhor amigo.
_Murilo, eu sou como você. Eu quero experimentar, e se não for com você eu procuro outro.
Ele me olhou em choque, pois eu tinha acabado de assumir o que ele já sabia. Porém, a parte de ir procurar outro era mentira, mas ele não precisava saber disso. Eu não sabia no que me concentrar, porque a mistura de pensamentos era de ficar louco. Eu ainda sentia atração pelas garotas, mas o Murilo estava entre tudo. Era difícil aceitar, mas melhor que fosse ele mesmo, ao invés de um qualquer ou de um cara que realmente fosse hetero.
_Você está errado. É só uma fase, isso passa, você não é bi. Esqueça isso, por favor para de mentir pra me fazer sentir melhor.
_Você sabe que eu tô falando sério. Algumas horas atrás você disse que eu não posso mentir pra mim mesmo, pois então, eu estou assumindo que eu te curto, que eu quero descobrir isso com você. Agora, se você não me quiser, tudo bem, um fora não mata ninguém, mas sabe..... ficar guardando alguma coisa dentro de si mesmo vai acabar pesando algum dia.
_Eu preciso ficar sozinho. É muita coisa para pensar.
_Não, você precisa olhar na minha cara e dizer o que você realmente está pensando. O que você quer?
Fui até ele e dei um abraço sincero. Ele me abraçou também e ficamos um tempo assim, até que ele começou a soluçar, quase chorando. Deu pra perceber que ele também estava confuso. Quando o abraço terminou ele se levantou e foi para o quarto, sem me dizer nada. Quando voltou, trazia consigo uma caixinha de madeira. Me entregou a caixa e se sentou no sofá, observando a minha reação.
_Abre, eu guardei todas aí dentro porque eram muito importantes para mim.
Quando eu abri, fiquei pasmo. Eram muitas fotos, algumas de toda a galera (Patrícia, Victor, Manoel, Thaís, Murilo e eu), mas a maioria eram fotos de nós dois. Fotos de festas, na sala de aula, em casa, em algum parque, no busão e também tinha uma de mim dormindo com a boca aberta e babando. Eu nunca tinha parado pra pensar no destino de todas as fotos que tiramos juntos. Algumas foram para o face, mas outras eu nem imaginava que ainda existiam salvas em algum cartão de memória ou muito menos que estavam reveladas. Mas tinha, no final de todas, uma que era aparentemente mais especial para ele, pois estava em um tamanho maior e atrás estava escrito: mais que amigo, um irmão verdadeiro. Na foto estávamos abraçados, alguém deve ter tirado e ele guardou a foto. Era o dia do meu aniversário, e ele estava me desejando parabéns. Me lembro muito daquele dia, no quanto ele me fez feliz.
_Por que você nunca me mostrou tudo isso?
_Não vi motivos para isso, até agora.
_E qual o motivo agora?
_Você me surpreendeu. Eu sempre tive um...tesão por você. Mas eu não poderia fazer nada a respeito. E quando eu já não pensava mais nisso você começou a agir diferente, prestando mais atenção no meu lado gay. Eu não podia acreditar que você também podia ser. Mas agora, vejo que você tem razão, eu não posso fugir de você.
_Quem diria. Eu nem sei o que falar.
_Bom, e agora como vai ser?
_Você ainda sente tesão por mim? Hahahahahahah
_Sim, muito kkkkk palhaço, isso não é engraçado.
_Bom, então agora eu quero te beijar sem problemas hahahahahah dá pra ser ou tá difícil?
_Pensei que você nunca iria dar a sugestão...
E assim, ficamos um bom tempo nos braços um do outro, descobrindo um novo sentimento que nascia entre nós.
No outro dia, acordei primeiro. Ainda estávamos abraçados no sofá, e a visão do Murilo dormindo era algo realmente lindo. Porém, quando olhei o relógio na parede, quase tive um troço.
_Murilo, acorda, já são 9:00h, estamos muito, mas muito atrasados para aula!
_Meu Deus...., vou tomar um banho rapidão!
_Vai logo então, tbm preciso!
Em tempo recorde, nos arrumamos e fomos pra facul. Ainda bem que o carro do meu pai ainda estava comigo. Chegando lá, o professor da aula em andamento nos fuzilou com os olhos ao entrarmos extremamente atrasados. Todo mundo deu uma risadinha. Fomo para o canto onde nossos amigos estavam. O Victor, cochichando já saiu com suas brincadeiras:
_O casal demorou hoje, ein! O que houve? A chapinha demorou pra esquentar?
Murilo: Se você não calar a boca, eu te quebro os dentes.
Ficamos todos rindo a aula toda, até que fomos, nada educadamente convidados pelo professor para nos retirarmos da sala. Que mico, hahahahaha mas saímos dando risada ainda. Resolvemos ir para a cantina, tomar alguma coisa e botar o papo em dia. Durante a conversa eu só ficava pensando em como tinha sido bom ficar com o Murilo. Quando nós nos olhávamos, um dava aquela risadinha sem graça para o outro. E assim, se passaram mais alguns dias, onde estávamos descobrindo mais coisas um do outro.
Pessoal, fico muito agradecido pelos comentários e pela aceitação de vocês.