A história que contarei à vocês aconteceu emE, como já devem imaginar pelo título, se iniciou em um Carnaval... E então, Amor de Carnaval tem futuro?
Depois de cinco anos estudando em Londres, eis que chega a hora de voltar pra casa... Como passou rápido, era a única coisa que pensava... E como foi bom, muito bom... Lá, fiz amigos, descobri do que realmente gosto, a gastronomia (e os homens), conheci vários países, várias pessoas, e conheci o amor... Sim, e esse amor tem nome e sobrenome: Pietro. Pietro fazia faculdade de arquitetura na mesma universidade que eu, e era amigo de uma garota da minha sala, a Carla. Nos conhecemos em uma festa, e, depois de outros programas juntos, um dia, com nós dois bêbados e muito loucos, ele disse, no meu ouvido, que era doido comigo, e que me desejava... Eu na hora me fiz de desentendido, mas, depois de mais algumas frases, ele acabou me ganhando... E, de lá pra cá, se passaram 3 anos e meio. Em meio a algumas discussões normais de casal, o nosso namoro sempre foi muito bom. Pietro, além de bonito, é companheiro, parceiro, divertido, enfim, o amor realmente aconteceu, e foi muito bom!
Mas, as aulas acabaram em Junho de 2011, e, apesar de estar trabalhando na área, em um grande restaurante de Milão, meus pais exigiram minha volta... O problema? Eles não sabiam que eu cursava gastronomia... Para eles, eu tinha me formado em agronomia... Minha mãe acabou descobrindo, quando eu entrei no penúltimo período... Ela acabou vendo uma postagem de uma amiga e alguns comentários (eu bloqueei as notificações em meu feed, mas, em uma das raras vezes que ela entrava, viu um comentário de uma amiga em meu facebook, foi entrar no perfil dela pra tirar a dúvida, e viu uma foto da turma formanda de Gastronomia, e eu entre eles). Ela me criticou, deu esporro, lição de moral, mas, no final, me apoiou, e achou melhor contarmos para o meu pai somente quando eu voltasse (já tínhamos acertado que eu voltaria para o Brasil depois de formado, pois meu pai esperava que eu administrasse a fazenda). Então, eis que chega a hora. Mas, nem tudo saiu como planejado. Meu pai não estava bem de saúde, ele era cardíaco, e seu coração não estava bem há algumas semanas, apresentava sinais de desgaste... Minha mãe me ligou após o diagnóstico do médico, e disse que era realmente hora de voltar, não podíamos mais postergar, pois ela temia pela saúde de meu pai. Eu não titubeei, afinal, meu pai era o meu herói, e eu amava demais aquele caipira... No outro dia avisei ao meu chefe que iria precisar tirar umas semanas de férias (e que talvez nem voltasse), e contei tudo ao Pietro. Ele ficou triste, pois não poderia me acompanhar (trabalho e dificuldade em explicar tudo, afinal, a cidade é pequena, conservadora, daí, já viudias depois, estava voando rumo à Minas Gerais.
O relógio marcava dezoito horas e catorze minutos quando o avião pousou em Confins. Após chegar ao saguão e pegar as malas, fui para o salão de desembarque. Minha mãe tinha me dito que iria tentar ir, mas, se meu pai não estivesse bem, mandaria algum funcionário da fazenda. Cheguei, olhei para aqueles rostos, e nenhum me pareceu familiar. Fui saindo, e vi um homem alto, um pouco forte, blusa xadrez, calça jeans e sapatênis olhando uma foto e depois me olhando, como se comparasse, conferisse. Então, ele veio a minha direção, e parou na minha frente. Eu estranhei aquilo...
- Mateus? – Ele perguntou.
- Sim... E você, quem é? – Perguntei, já imaginando a resposta.
- Prazer, me chamo Rodrigo, sou funcionário do seu pai. Sua mãe me pediu para lhe buscar, pois ela ficou com o Dr. Ricardo. Deixe eu te ajudar com essas malas – Ele disse, já pegando as duas das três malas que eu trazia.
- Certo, mas tem algum problema com o meu pai?
- Nada demais, apenas cansaço mesmo. Ele anda meio fraco há alguns dias...
Ele disse isso, e já foi saindo em direção ao estacionamento. Eu fiquei calado, e ele também, não dizia nada... Meu coração estava apertado, algo me dizia que o meu super-caipira (era assim que me acostumei a chamar meu pai) não estava bem... Chegamos ao carro, guardamos as malas, entramos , ele ligou o som, e partiu... Ficamos uns cinco minutos em silêncio. Eu observava aquela estrada, aquela natureza. Depois que fui estudar na Inglaterra, voltei ao Brasil somente uma vez. Sim, uma vez, quando a mãe de meu pai faleceu. Meus pais é que iam para Londres passar as férias de verão comigo, todo ano. Eu nunca fui muito fã do Brasil, e com o Pietro lá, não sentia a menor vontade de vir, e eles gostavam muito de me visitar (principalmente mamãe, meu pai nunca gostou muito de ficar fora de casa).
Alguns minutos depois, uns três, eu acho, escuto a voz de Rodrigo. Mas sabe quando você está tão distraído que o cérebro não processa que tem alguém falando com você? Pois é, aconteceu isso. De repente, sinto um cutucão.
- Ou, tá me escutando?
- Opa, desculpa, cara, tava distraído.
- Percebi... Tem muitos anos que não vem aqui, não é?
- Sim, cinco, para ser mais exato... Está bem diferente...
Vovó morava no Paraná, então, não cheguei a ir em casa quando ela faleceu.
- Puxa, muito tempo mesmo. Não sentiu falta de casa?
- Sinceramente? Não. Me adaptei muito bem a Londres... Na verdade, nunca gostei muito da vida que eu levava aqui... Sempre soube que isso não me pertencia. Principalmente depois de ir viver em Belo Horizonte, quando fiz o ensino médio.
É, durante os três anos do ensino médio eu morei na capital, e ia para a casa dos meus pais no fim de semana. É perto, uma hora e quinze de viagem.
- Entendi. Olha, eu não conseguiria viver em cidade grande igual BH não, rapaz... Não aguento todo aquele stress, aquela tensão... Gosto dessa vida aqui, do campo, natureza, os bicho, isso sim, é vida.
Achei graça e sorri.
- É, somos bem diferentes...
O assunto acabou novamente, e o silêncio voltou. Ficamos assim durante uns dois minutos, até que volto a escutar sua voz, mas agora menos distraído.
- E pretende ficar quanto tempo?
- Ainda não sei, vai depender da recuperação de papai...
- O Dr. Ricardo é forte, tenho certeza que vai sair dessa, meu rapaz.
Ele disse isso, e colocou a mão em minha perna, apertando-a. Achei estranho, senti algo diferente, mas ele logo tirou, e pensei ser apenas alguma mania diferente.
Foi quando ele veio com um dos papos que mais detesto.
- E a namorada, deixou lá na Europa?
Eu respirei fundo, pois detesto esse tipo de indireta, insinuação, joguinhos de “jogar o verde para colher o maduro”. Então respondi, seco.
- Pois é, ela ficou.
Ele não disse nada, ficou olhando para a estrada. Meu instinto sentia algo estranho, mas eu ignorei, estava muito preocupado com o pai para ficar nesse tipo de neura. Com o silêncio, ele colocou algumas músicas do pen-drive pra tocar. Sim, ele era um peão moderno e bem instruído, já havia percebido. Deve ser o braço direito de papai, pensei. Aquele que ele sempre sonhou que eu fosse, hahaha. Dez minutos depois, e o carro faz um barulho estranho... Rodrigo para o carro.
- Vixe, era só o que faltava... Deixa eu parar, ver o que é.
Eu olhei para os retrovisores. A estrada estava escura, a noite já tinha caído, não gostei daquilo, aquela estrada erma, afinal, já era carnaval, e não tinham festas por aquela região. Tive medo de assalto. Rodrigo olho o motor e as outras coisas (não entendo nada de carro) durante uns 5 minutos, voltou e falou pela janela.
- É problema na vela, cara... O carro não vai ir muito longe não... Nossa cidade fica há mais de duas horas do aeroporto.
- Tá, então é melhor chamar a seguradora, não?! Vamos rebocar logo o carro e ver o que eles nos instruem sobre o transporte para a casa. – Eu disse, já pegando o celular.
Rodrigo sorriu... Não gostei daquilo.
- Acontece que seu pai não quis fazer seguro desse carro.
- O que? – Eu disse, não acreditando.
- É, acabou ficando caro, porque é pra fins comerciais (era uma caminhonete, e papai usava ela pra visitar clientes e entregar algumas coisas), e, como ele pretende vendê-la em breve, achou melhor não fazer.
- Puta que o pariu... E agora, cara? – Eu disse, sem acreditar.
Rodrigo olhou pra estrada, pensou por alguns segundos, voltou para a janela, e sorriu. Novamente, não gostei.
- Cara, só me vem uma ideia em mente.
- E qual é? – Eu disse, sem paciência.
- A gente arruma um lugar pra dormir, e amanhã eu ligo pra um dos funcionários da fazenda e peço para nos buscar. Então, chamamos um reboque.
- Tá, pode ser. Tem hotel aqui perto? – Continuava sem paciência.
- Pois é, hotel não tem não. – Ele disse, esboçando um leve sorriso.
- O que então, pensão? Tá bom também, não tenho dessas frescuras não.
- Também não. Há uns 3 minutos daqui tem um motel, e é só. – Ele disse, agora já com um sorriso formado.
Eu não acreditei no que ouvi...
- Motel? Você tá sugerindo que a gente vá para um motel? Não tem nenhuma outra possibilidade melhor?
- Hoje é feriado de carnaval, não vai ter ninguém na cidade para nos buscar, estão todos nas cidades vizinhas. Só nos resta chamar a sua mãe, ou tentar pegar uma carona, mas deixando o carro aqui...
Incrédulo, eu decidi.
- Tá, esquece, toca logo pra esse motel. É foda, viu.
Definitivamente, essa viagem não começava bem, pelo menos era o que eu achava.
No próximo episódio...
- Mateus e Rodrigo passam a noite no Motel;
- Mateus tem uma crise de choro, e Rodrigo o consola;
- Mateus chega em casa;
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Abraço, e bora carnavalizar!