Começo agradecendo os leitores dos contos anteriores e deste, muito obrigado, é realmente excelente compartilhar experiências que eu não tenho coragem de fazer com mais ninguém. E, me adiantando, peço desculpas se o texto a seguir se estender muito, procurarei ser o mais fiel à realidade possível e não costumo poupar detalhes.
Final de ano letivo na minha universidade sempre é uma correria, reposição, DP, gente precisando ficar, gente querendo ir embora. Era meio de dezembro, e, por sorte, eu já não precisava mais frequentar a faculdade até o ano que seguinte. Tinha tudo planejado para passar algumas semanas no Rio Grande do Sul, visitar alguns amigos de longa data que agora estavam praticamente casados. Eu estava na universidade naquele dia para resolver o resto das coisas, e partiria em dois dias após àquele, numa sexta. Antes do final da tarde, estava tudo resolvido, e eu já podia ir pra casa. Resolvi comer alguma coisa, e foi quando encontrei alguém que tinha marcado minha vida. Kay. Estava sentada num banco, olhando para o horizonte, estava de vestido branco e seus cabelos ruivos dançavam com o vento, dando um ar de teatralidade que a fazia bonita como só ela podia ser, ao menos aos meus olhos. Fingi que não a vi. A verdade é que não queria falar com ela, despertar sentimentos adormecidos ou abrir velhas feridas. Tive que aceitar que ela fazia parte de mim, e sempre fará, e só então consegui seguir em frente. Mas vê-la ali, sentada, como se nada tivesse acontecido, fazia todas as minhas defesas se abalarem. Decidi me esquivar, e rapidamente dei as costas; iria embora com a barriga vazia mesmo, não importava. Já tinha dado alguns passos em direção à saída quando o seu timbre tão familiar me alcançou.
- Michael? - O lugar estava praticamente vazio, e isso permitiu que eu a ouvisse se aproximar. Fiquei ali parado, pensando em como proceder. Cheguei a conclusão que o mais sensato a se fazer era correr, mas sabia que eu nunca faria isso. Virei devagar, e simulei surpresa em minha expressão.
- Kay. - Um sorriso de soslaio se desenhando em meu rosto. Queimava por dentro, parte aquele amor impetuoso, parte uma raiva descomunal. Eu não devo sequer ousar uma tentativa de exprimir o quanto eu a amo; mas a raiva que eu sentia não era tão abstrata. Estava puto com o simples fato dela ter aparecido ali, como se ainda fossemos velhos amigos.
- Oi! - Ela disse num tom entusiasmado, e se aproximou. Nos abraçamos, e eu pude experimentar novamente daquele seu perfume tão peculiar; era como o sopro da vida pra mim. - Você 'tá indo pra casa? - Ela perguntou já afastada, enquanto arrumava uma mecha do cabelo ruivo atrás da orelha.
- É. - Respondi sem emoção. Me perguntei a razão dela estar ali. Não parecia exatamente que foi somente para me ver, embora ela estivesse em época de vestibular e a minha faculdade fosse bastante conceituada em todo país. Ignorei essa questão.
- Posso ir com você? - Seus olhos castanhos me encararam, e ela com toda certeza percebeu minha expressão, provavelmente de dor. Por que ela estava fazendo isso? Mordeu o lábio inferior, e encarou o chão. - Tudo bem se não quiser. Eu entendo. - Concluiu, um tanto quanto constrangida.
- Não tem problema, vamos lá. - Tentei parecer animado, mas eu nunca fui bom nisso. - Não vejo por que não. - Concedi um sorriso, que ela retribui. Fomos até o meu carro, e iniciamos a nossa viagem.
Apesar da universidade ser no centro da capital, eu continuava a morar numa cidade do interior em que o trajeto de minha casa até a faculdade era de mais ou menos uma hora. Havia voltado para a casa de minha mãe após todos os problemas familiares se resolverem, e nossa condição financeira melhorou bastante por conta de uma herança, cuja qual iniciou todo o ciclo de problemas internos na nossa família. Não havia música na nossa viagem, só o som da voz de Kay. Tagarelava sobre como estava sua rotina de estudos, qual curso agora pretendia fazer, e sobre algumas novelas mexicanas que acompanhava. Ela era assim, tão viva, tão intensa. Aquela viagem que demorou menos de uma hora e meia me fez relembrar a razão de eu ter me apaixonado como um completo idiota por aquela garota. Embora aquilo fosse uma tortura, tê-la ao mesmo tempo que não a tinha, eu não queria que fosse embora, e meu coração estava quase pulando da garganta quando cheguei à sua casa. Não queria que fosse. Eu parei o carro, desliguei-o e encarei ela. O silêncio reinou o automóvel por alguns momentos, enquanto nos encarávamos, o que parecia durar uma eternidade.
- Quer entrar? - Perguntou ela então, quebrando o silêncio. Eu parei para refletir sobre a resposta que daria. Novamente, eu sabia que deveria ter dito não. Deveria ter me sentido satisfeito em vê-la, conversar com ela, e só. Deixaria tudo isso pra trás na sexta, e provavelmente esqueceria daquele conflito enquanto em viagem com os amigos. Mas o fato era que eu queria entrar. Queria estar mais um pouco com ela. Abri a boca pra falar, mas a voz não saiu. Ela riu baixinho, daquele jeito que eu adorava. Acenei com a cabeça então, e ela tocou meu rosto numa carícia sutil com os dedos. Naquele momento, eu mandei toda a frieza e sobriedade que ensaiava para à merda. Queria beija-la, tê-la ali, não precisávamos nem sair do carro. Mas ela abriu a porta e saiu antes que eu pudesse fazer algo. A mãe dela não estava, chegaria só mais tarde com a sua irmã caçula. Ela sorriu-me daquele modo que eu sabia o que significava, e me sentia o cara mais sortudo do mundo sempre que o fazia.
Kay podia dizer o que quisesse sobre mim, ou nossa relação, e eu poderia desprezar ou sentir pena de mim; mas nós tivemos nossos momentos. Momentos como aquele, em que a ardência da paixão era tanta que eu parecia respirar fogo. Eu a tomei nos braços antes que ela pudesse abrir a porta da casa, e nos beijávamos acaloradamente. Não havia resistência por parte dela, só a paixão que entregou à mim. Nos beijávamos como se nossa própria vida dependesse daquela união de lábios, língua, saliva. Daquela troca de paixão, calor, cheiros e olhares. Lentamente minha mão subia à sua perna, e tocava a sua calcinha que estava úmida à esta altura. Não demorou para que eu expressasse minha animação também. O beijo terminou repentinamente, sentia que minha língua ainda procurava a sua boca quando ela se afastou, e quando abri os olhos a vi virando-se para destrancar a porta. Caímos sobre o chão da sala, um segundo após passarmos pela porta e sem sequer se dar o trabalho de tranca-la. O êxtase de nossas mentes, nossos corações, nas almas e nossos corpos nos impediu até de nos despirmos. Eu tirei a sua calcinha, e abaixei as calças. Sequer fizemos qualquer tipo de pre-eliminar. Só a pura e a doce penetração. Sempre procurei ser gentil, mas desta vez não foi possível. Eu estocava sem parar, sem conseguir contar quantas foram. Ela me deixava deslizar por dentro, movimentando delicadamente o seu quadril. Gemia baixinho, chamando o meu nome em sussurros. Como eu amava aquilo. Não demorou para chegar ao orgasmo, e, como sempre fazia quando com ela, despejei toda a minha semente ainda dentro. Me aconcheguei no seu corpo molhado de suor, ainda com o pênis dentro de sua vagina. Nos ficamos ali por alguns minutos, deitados no chão da sala, completamente suados, e um preenchendo o outro. Não havia palavras, só a nossa respiração. Não havia beijos, só a sua carícia sutil em meus cabelos. Eu poderia ficar ali pra sempre, me alimentando de cada nova respiração dela. Ela não reclamaria, mas eu sabia que o meu peso estava incomodando, movi-me para o seu lado e encostei as costas no chão, encarando o teto de sua casa.
- Mikey... - Ela gemeu, se aninhando em mim. Eu estava completo, satisfeito. Não poderia desejar nada mais na minha vida, se não aquilo. Eu abdicaria minha viagem sem pestanejar se fosse pra ficar com ela, ou qualquer outra coisa que ela me pedisse. Ficamos em silêncio mais alguns momentos, nossos corpos colados ainda, mesmo que por baixo de roupas. Ela repetiu então: - Mikey... - Desta vez sussurrava, embora houvesse uma surpreendente pitada de seriedade em seu tom que me deixou curioso. Encarei-a para então ouvir o que viria a seguir. - Eu 'tô namorando. - As palavras me atingiram como lâminas, direto no coração. Senti como seu o chão tivesse escapado de mim, e eu caísse num abismo sem fim. Tinha a excluído ou bloqueado o seu conteúdo em cada rede social, não queria saber de nada, pois tinha a plena certeza de que só me faria mal. Alguém como ela não fica sozinha por muito tempo. Mas o pior fora a surpresa que aquela informação veio. Mas eu entendia, entendia porque daquilo, porque agora, e ela sabia disso. - Eu. amo. ele. - Estas três palavras com certeza não foram proferidas com tanta vagarosidade quanto eu me lembro, mas cada uma foi uma estocada profunda em minh'alma. Senti-me temporariamente morto. - Eu ainda te amo, Mike. - Seu rosto agora se afogava em meu peito, e eu podia sentir suas lágrimas quentes. - Seu idiota. - Sussurrou quase inaudível. Eu era idiota, sem dúvida; mas naquele momento, mais do que qualquer coisa, eu queria ser o idiota dela. Eu fiquei em silêncio, acariciava o seu cabelo com os dedos. Tinha cansado de falar para Kay que a amava, mas acho que ela nunca poderá compreender como e quanto eu a amo. Mas agora ela estava indo, e eu sabia disso. Fechei os olho, e deixei todas essas coisas quicarem em meu cérebro. Eu ainda tinha aquele último momento, só nós dois.
Tínhamos algumas horas sozinhos, e ela cozinhou pra mim. Como cozinheira, ela é uma ótima amante. Sempre queimava tudo o que fazia, e eu sempre dizia que gostava mesmo de "bem passado". Ela me contou que o novo namorado era da mesma universidade que eu, e cursava engenharia civil. Já foi alguém de fama nacional, embora eu pouparei mais detalhes. Tinha dito pra ela que aquela seria a última vez que nos veríamos, e ela me xingou por isso. Sempre dizia que eu era muito dramático com tudo, que a vida era mais simples do que eu a tratava, mas de fato era a última vez. Eu não a veria de novo, não queria. Estava colocando um ponto final, num lugar onde todos os cantos do meu coração implorava pra ser uma vírgula. Eu fui embora antes de ver a minha "ex sogra" e a irmã de Kay, embora gostasse muito de ambas. Não queria ficar mais. Pensei em dormir quando cheguei em casa, e foi o que eu fiz. Queria dormir sem acordar até o horário da minha viagem, embora soubesse que não fosse possível.
Na manhã de sexta, minha mãe e tia me levaram até o aeroporto. As duas eram extremamente corujas, e embora minha tia tivesse seus próprios filhos, nunca separou o laço materno que sempre teve comigo. O voo foi tranquilo, e quando cheguei, fui recebido por dois de meus melhores amigos, Alexandre e Jane. Fazia um bom tempo que não os via, e estavam exatamente do modo como sempre foram, aquilo me fazia sorrir. Tinha dito que não queria causar desconforto pra eles, e ficaria no hotel, mas eles prontamente recusaram, eu conhecia aqueles dois, ficariam até ofendidos se eu não fosse hospedado por eles. A casa deles em Porto Alegre era pequena, em um bairro médio. O lugar mal era mobiliado, mas não importava a falta de móveis quando sobrava hospitalidade. Eram amigos da minha adolescência que virávamos noites e noites conversando sobre Senhor dos Anéis, ou histórias em quadrinhos, e a nossa atividade preferida sempre foi jogar RPG, e foi o que fizemos naquela noite. Dormi num quarto pequeno e frio ao lado do deles, tudo o que tinha no cômodo era um colchão, uma estante e algumas coisas jogadas. Eu não me importei, também não ficaria melhor num hotel. Depois do término de qualquer ligação com Kay, eu precisava de um pouco de calor humano. Nos primeiros dias, nos revezamos à isso, Jane me levava para conhecer os locais durante o dia, enquanto Alexandre trabalhava, e de noite fazíamos algo juntos, beber, comer fora ou simplesmente fazer (outra) maratona de Senhor dos Anéis. Quando eu olhava para os dois, via que aqueles dois eram mesmo feitos um para o outro, completamente. Eu os acompanhei por tantos anos, vibrei por cada vitória de ambos, e agora ficava feliz em ver que um tinha o outro, embora aquilo me invocava memórias tristes, mas eu decidi não ficar triste naquela viagem. Eu os ouvia transar no quarto do lado, as paredes eram finas e eu nunca dormia cedo. Não poderia dizer que não me excitava, mas o sentimento mais evidente era a carência.
Jane, na segunda semana de minha estadia lá, me levou até a sua universidade. Ela sempre foi minha confidente, e eu dela, e agora eu despejava todos os meus sentimentos sobre o meu relacionamento fracassado com Kay. Ela me encorajava, à sua própria maneira. Dizia que foi ela quem me perdeu, e não o contrário, e mais um monte de outras coisas que entram num ouvido e saem pelo outro. Não era como se eu desprezasse ou não dava importância ao que ela falava, mas era simplesmente que aquilo realmente não mudava nada. Eu sempre fui uma espécie de psicólogo de meus amigos, mas o efeito nunca parecia ser o mesmo comigo. Jane me deixou sozinho num dos pátios do campus para resolver algo sobre suas aulas, eu não quis acompanha-la, sentei-me e esperei. Fiquei a observar as pessoas ali. Todas as pessoas pareciam tão bonitas, e aquele sotaque gaúcho soava tão bem. Jane não era gaúcha, embora Alexandre fosse. Medi algumas garotas que passavam por ali, mas pensei que nenhuma delas me daria algo além de uma noite boa. Mas então meus olhos encontraram alguém que tive de perder alguns bons segundos pra ter certeza de que se tratava de quem eu achava que era. Me levantei assim que confirmei, e me aproximei da garota que estava com um grupo de amigos. Era baixa, mais ou menos 1,65m, tinha os cabelos castanhos avermelhados e o rosto incrivelmente bonito, não havia nada avantajado em seu corpo, mas isso era irrelevante em comparação com sua beleza.
- Ana? - Chamei-a, meio ainda tímido. Mesmo que eu tivesse quase certeza de que fosse ela, ainda havia aquela dúvida. Nós costumávamos ser amigos na internet, e ficamos bastante próximos durante algum tempo, o sentimento rolou, mas eu fui covarde para seguir em frente. A distância era a desculpa. Não nos falávamos fazia algum tempo, por conta de ambos estarmos agora na faculdade. Ela virou ao ouvir o seu nome, e olhou pra mim com aquele brilho nos olhos que mesmo nunca antes ter visto pessoalmente, ainda podia reconhecer. - Você ainda lembra...
- Barney! - Ela gritou, pulando em mim em um abraço antes que eu pudesse terminar. Barney era como ela me apelidou carinhosamente" anos antes, e eu não me importava que ela me chamasse assim, embora soasse um tanto quanto estúpido. - O que você tá fazendo aqui? - Ela me perguntou depois de me metralhar com meia centena de beijos no rosto. Ela era exatamente como sempre fora: doce; ao menos comigo, foi um tanto assustador quando a vi realmente brava, embora sempre amaciava suas palavras comigo.
- Visitando uns amigos. Eu pensei que você morava longe daqui. - Mostrei um sorriso de felicidade por finalmente encontra-la, ainda mais dessa forma. Ela me acertou com um tapa leve na cabeça em resposta.
- Porra, Barney, você devia ter me avisado mesmo assim. Eu estou morando por aqui agora, mas mesmo que ainda estivesse longe, viria te encontrar. - Ela sorriu de maneira delicada, e tomou minha mão, me puxando enquanto voltava para o seu círculo de amizades. - Pessoal, esse daqui é o... Michael. Mas podem chamar ele de Barney. - Alguns cumprimentos com a cabeça, outros apertaram a minha mão, não havia guardado o rosto ou o nome de qualquer pessoa ali. - Na verdade... - Continuou Ana. - Não chamem ele de Barney, só eu posso. - Ela concluiu, alguns deram risadas, eu só mostrei um meio sorriso.
- Ana, eu tô com uma amiga, daqui a pouco ela aparece por aqui e é meio tímida. Vou ver por onde ela 'tá. - Disse quase num sussurro, de maneira reservada diante ao resto da conversa do grupo. - Eu quero te ver, mais tarde. - Pensei em abraça-la, mas senti meio estranho; nós já fomos grandes amigos, e mesmo que eu ainda gostava dela, e ela, aparentemente, de mim, era a primeira vez que nos víamos, tudo era estranho.
- Amiga, né? Por que você não me apresenta a essa tua namoradinha, bah... - Ela disse num tom de piada, mas eu via seu tom azedando. Soltei uma gargalhada controlada.
- Tá. Ana, te apresento... Ana. - Fiz que ela apertasse a sua própria mão. - Minha namoradinha da internet que agora tá com ciumes. - Ela riu, mas não falou nada, apenas ficou me observando. Nós nunca fomos verdadeiramente namorados, embora o que eu tinha sentido por ela foi intenso o suficiente para deixar aquela impressão. - É minha amiga, Jane. Eu estou hospedado na casa dela e do namorado/marido. Mas enfim, você vai me ver mais tarde? - Ela me encarou sorrindo, aquele rostinho encantador que levemente corava.
- Tá, tá. Eu vou pensar num lugar, e te mandar um inbox. - Ela piscou de maneira jovial, e eu ri.
Jane estava me esperando quando saí de perto do grupo de Ana, ela ficou me enchendo o saco o dia todo dizendo que eu já tinha arrumado namorada, mas eu não podia esperar nada de diferente. Quando chegamos na casa, Alexandre já havia chegado do trabalho e ele se juntou à sua "esposa" ao ficar me dando conselhos para garotas gaúchas. Eu ri, dizendo que não era nada disso, mas pelo menos daria um espaço pra eles. Jane ficou vermelha como um pimentão, mas Alexandre só riu ruidosamente. Depois de uma hora, havia uma mensagem inbox no meu facebook de Ana, com o nome do lugar, o endereço e quando ela estaria lá. Alexandre se ofereceu de me levar lá, mas eu disse que acharia o caminho, mas não recusei uma orientação. Me perdi algumas vezes naquela cidade desconhecida, mas eu finalmente cheguei. Atrasado, como era do meu feitio. Ana estava levemente maquiada, com roupas escuras e até um pouco curtas, embora sem perder a sua personalidade. Ela sorriu quando me viu, e disse que achou que eu não iria. O lugar era uma lanchonete reservada, tocava uma música suave e a comida era boa. Ana dizia que eu era muito tímido, mais do que pela internet, e me puxou para dançar. Pra dizer a verdade, eu sempre gostei de dançar, desde Kay. Eu não posso dizer que sou um exímio dançarino, mas raramente rejeito uma dança. Estávamos grudados um ao outro, numa valsa que se limitava em ir pra cá e para lá. Nos beijamos. Foi um beijo mais natural do que o ritmo em nosso pés. Ficamos mais um pouco na lanchonete, ela pediu um bebida e conversamos mais um pouco. Me perguntou se eu tinha lugar pra ficar essa noite, e eu, sem segundas intenções, disse que tinha. Ela sorriu daquela maneira tão doce:
- Isso aí, meu apê. - Ela riu, pegou a minha mão e deixei-a me guiar até o seu apartamento à algumas quadras dali.
Eu não tinha protestado, mas logo que chegamos, eu disse que não podia ficar ali. Não tinha roupa, não queria incomoda-la, e cheguei a dizer que era até um tanto quanto inapropriado. Ela não quis saber. Nos beijamos um pouco, conversamos, ela contou-me sobre a faculdade, e eu contei sobre a minha. E ela disse que tomaria um banho. Estremeci no sofá. Ana era o tipo de garota que qualquer um teria sorte em ter, e eu sabia disso. Era aquela garota que deveria se agarrar, e não deixar escapar nunca. Tudo o que havia de ácido e intenso em Kay, havia de doçura em Ana. Suas palavras eram macias, sua voz era uma carícia aos ouvidos e até seus trejeitos eram charmosos. Nunca pensei em algo sério com ela, por conta da distância, mas ponderar um segundo naquilo me fazia sentir que era uma mulher certa para casar. E ali estava ela, jogando verde. Eu não queria acelerar as coisas, diabos, eu não sabia nem se queria ir além de alguns beijos e carícias. Mas resolvi esquecer um pouco todas as minhas preocupações e medos que me travaram por tanto tempo. Beijei-a, e depois sussurrei sorrindo:
- Precisa de ajuda? - Foi o melhor que pude fazer; ela sorriu e eu soube que foi o suficiente.
Ligou o chuveiro, despiu-se, e entrou no box. Como eu havia dito, não havia nada de avantajado em seu corpo, suas pernas eram relativamente finas, sua bunda era redonda e bonita, e seus peitos eram pequenos. Me livrei das minhas roupas rápido, e entrei no chuveiro com ela. Nos beijamos por alguns momentos, e ela se ajoelhou em minha frente. Envolveu meu pinto com a sua boquinha em forma de coração e chupou-o lentamente, meio sem prática. Eu não tenho um pênis muito longo, ou largo demais, mas percebi que ela se engasgava na maior parte do tempo, era realmente falta de prática. Tirei-o delicadamente de sua boca, e me ajoelhei junto a ela. Beijei sua boca, penetrando-a com minha língua, e depois o pescoço, cada parte de seu rosto, e então seus seios. Ela gemia bem baixinho, de forma quase inaudível. Pedi pra que ficasse de pé, e lentamente a dava prazer com a minha língua. Gostava sempre de começar com um dedo, brincando lá dentro, explorando lentamente. E depois a língua vinha, beijando o seu sexo de forma carinhosa, e penetrando-a de maneira perversa. Ela movia os quadris timidamente, e gemia ainda baixinho. Não era preciso muito pra entender que ela tinha feito aquilo poucas vezes. Me coloquei de pé, e a penetrei enquanto beijava. Sem pressa, explorando o seu corpo e a profundidade de sua boceta enquanto a água caia em nossos corpos. Era realmente bem apertada, e começou a gemer mais alto com as penetrações. Seus olhos se mantinham fechados, e o seu corpo bailava ainda timidamente, movia-se em conjunto ao meu. Estava a estocando há alguns minutos, e ela se entregava cada vez mais, seu corpo se amolecia e ela entregava-se toda para mim. Às vezes, entre os gemidos baixos tímidos, sussurrava o meu nome e balbuciava algo que eu não conseguia compreender. Estava sentindo que o orgasmo viria logo, e Ana estava quase que completamente entregue, seus braços estavam ao redor de minha nuca, e suas pernas em meus quadris, eu a sustentava com a ajuda da parede, embora ela fosse bastante leve. Deixei de penetra-la então, não estava usando camisinha e não a conhecia bem o bastante saber como gostava. Ana não protestou, apenas abriu os olhos pela primeira vez desde que a chupei e sorriu. Beijava meu rosto, minha boca, e tocava-me lentamente.
- Vem cá - Ela pediu, e eu prontamente obedeci. Desligou o chuveiro, pegou uma toalha e a esticou na cama que estava por fazer. Me fez deitar. - Eu esqueci... você tem camisinha? - Ela disse, parando na metade do caminho de montar em mim. Eu balancei a cabeça, e ela deu de ombros.
Se Ana não sabia chupar uma pica, ela certamente sabia como montar em uma. Montava como num rodeio numa hora, e então parava para lentamente deslizar o meu membro em seu interior, parava todos os movimentos para então continuar. Era uma tortura que eu estava adorando participar. Mantinha os olhos abertos agora, e suas mãos não saiam de meu rosto, acariciava-me de forma carinhosa, mas eu gostava daquilo. Eu, antes disso, sabia o que era fazer sexo, foder, transar, trepar, dar uma rapidinha, mas com Ana era realmente fazer amor, e, enquanto ela cavalgava de maneira tão jeitosa, eu entendia a plenitude daquilo. Ela me beijava lentamente, sem parar os seus movimentos e depois me recusava todos os beijos, estava no controle. Eu gozei como não fazia há muito tempo, rajadas e mais rajadas de minha porra em sua boceta. Ela parou os movimentos quando sentiu, e ficou parada, deixando entrar, olhando para mim com aquele seu rostinho e passando a mão sobre meu rosto. Perguntei se ela usava pílulas, e ela disse que tomaria uma "do dia seguinte" de manhã. Não era como se eu estivesse ansioso para ser pai.
Ficamos grudados ali, na cama desarrumada dela. Conversamos mais um pouco, e ela me contou sobre a vida dela com os namorados, e dizia como ela se sentia triste e sozinha naquela cidade, mesmo com os amigos na faculdade.
- Por que você não fica? - Ela me perguntou, e eu repeti a mesma pergunta mentalmente para mim. Por que eu não fico? Porque eu não fico com aquela garota que me faria feliz novamente? Tinha a plena certeza de que se fosse Kay pedindo, eu faria e achei que isso fosse um erro. Tinha me doado demais, e acabei na merda. Fui novamente covarde com a minha doce Ana.
- Eu não posso. - Respondi. Pensei na minha faculdade, nos amigos que deixaria para trás, na família. A verdade era que eu largaria todos eles pra ficar com Ana, mas eu tinha medo de outra vez me machucar. - E por que você não vem comigo? - Questionei depois de algum tempo de silêncio, percebi o quão egoísta a pergunta fora e me arrependi de ter feito.
- Eu não posso. - Ela repetiu, mas não com desdém, ironia ou desprezo, era uma lamentação.
Fiquei mais duas semanas em Rio Grande do Sul, e Ana esteve comigo todos os dias, Jane e ela descobriram até que tinham aulas juntas e nunca se falaram, era bem a cara de Jane. Eu fui embora sem pesar, os três me deixaram no aeroporto e eu me despedi sem grandes dificuldades. Eram três pessoas incrivelmente importantes pra mim, dois de meus melhores amigos e a mulher que, se eu tivesse alguma sensatez, eu deveria me casar. Mas, afinal, embora eu sentisse algo por ela, e ela me mostrou o calor do sul brasileiro, meu coração ainda não voltou a me pertencer. Quem poderia julgar o amor?