_Por que você veio junto?
_E isso importa? Estou aqui e não vou deixar o Rafael sozinho.
_Tudo bem.
Eu tinha muitas perguntas, então tentei ser o mais breve possível:
_Tá bom, Manoel o que você vai fazer agora?
_Nada.
_Como assim?
_Olha, eu não pretendo mais ir atrás daqueles caras, então isso significa que vou parar com essa história de drogas.
_E você acha que vai ser assim, tão fácil? E que eles não virão atrás de você? De nós?
_Eu sei que não é fácil, eu vou me controlar. E quanto a eles, eu sei que virão cedo ou tarde. Mas com eles funciona assim: caso você queira sair do esquema, como o Victor, eles te deixam ir, mas sob a condição de nunca comentar com ninguém sobre o assunto. Caso eles desconfiem que alguém abriu o bico... bom, mas não vai ser o NOSSO caso, de nós três.
Ele olhou pro Murilo como se ele fosse o real problema. Parecia que os dois estavam se encarando mais que o normal.
_Manoel, o negócio é o seguinte: para com essas coisas, antes que você acabe com um tiro da testa. E da próxima vez que você se meter em uma confusão como essa, é bom sair sem precisar que ninguém entre no caminho.
_Ok, não preciso de lição de moral.
O clima estava cada vez mais tenso. O Murilo acabou perdendo a paciência:
_Qual é o seu problema? Virou drogado e agora tá pagando uma de marrento?
O Manoel se levantou, com o dedo na cara do Murilo:
_Vai querer resolver isso como? O que isso te interessa?
_Se você quiser, resolvemos no braço!
.....
_Oww, parem aí vocês dois, ninguém vai brigar aqui. Somos todos parceiros.
_Pra mim chega, vamos rafa, a outra aula vai começar daqui a pouco.
_Não, eu quero conversar com você Rafael. A sós.
_Murilo, relaxa, vai na frente, logo chego lá.
_Blz_Eae, o que foi?
_Eu quero saber o óbvio. Vocês estão mesmo juntos?
_Sim.
_Eu não consigo acreditar.... você?
_O que tem de mais nisso?
_Eu.... por que ele?
_Eu não entendi.
_O que você viu de especial nele?
_Cara, o que você tem na cabeça? Vocês sempre foram amigos, vocês até... você sabe. O que deu em você?
_Não sei. Talvez porque eu sempre quis você.
_...hã, eu?
_Sim, desde sempre eu te curti, mas é claro que eu nunca iria tentar nada porque eu achava que você era hetero. Se eu soubesse....
_Cara, eu não sei o que dizer. Mas eu tô curtindo ficar com ele. Não sei como você fez a idiotice de deixar ele daquele jeito.
_Você não entende. Eu não queria ser assim.
_Mas é. Assuma pra você mesmo.
_Olha, esqueça isso. Eu já lido melhor com essa situação.
_Cara, você mudou muito! Volta a ser como antes.
_Rafa, eu juro que tô tentando. Mas não é fácil. E por falar nisso, eu sinto muito pelo que aconteceu com você. Eu juro que nunca quis que isso acabasse assim.
_Eu sei.
_Se eu soubesse que você curtia, eu teria tentado algo com você.
_Olha, não é assim que as coisas acontecem. Eu descobri alguns tempo atrás, e o Murilo estava lá pra me dar a mão. Sabe, você perdeu a oportunidade de conhecer melhor um grande cara.
_Eu imagino. Mas comigo tudo sempre é diferente.
_Eu vou voltar pra aula. Você vai também?
_Demorou!
Nisso ele veio me dar um abraço. Retribui e ele me pediu desculpas mais uma vez.
Quando voltamos, encontramos o Murilo nos esperando na porta da sala. O Manoel pediu pra falar com ele e saíram. Fui para o meu lugar sendo o rei da atenção. Todos, inclusive o professor estavam olhando pra minha cara. Quando me sentei, as meninas e o Victor foram logo questionando o que tinha acontecido. Falei que depois explicava, porque queria que o próprio Manoel contasse para todos o que tinha acontecido. O Victor adivinhou, porque logo chegou um sms dele perguntando se eu tinha feito a burrada de ir no lugar sozinho. Confirmei e ele respondeu dizendo que eu não devia ter feito isso. Ele realmente parecia muito preocupado.
Logo os dois voltaram, aparentemente de boa um com o outro. Estávamos os seis novamente assistindo uma aula, tentando esquecer os problemas e pensando no futuro.
Assim se passaram algumas semanas, o Manoel conseguiu se desligar daqueles caras. Por sinal, sempre que eu encontrava com eles na universidade, o cara que me socou dava uma risada disfarçada e seus amigos o acompanhavam, mas isso não me importava. O Murilo estava cada vez mais ligado a mim, éramos cumplices o tempo todo, e durante todas as noites fazíamos sexo como se fosse nossa primeira vez. Eu estava viciado no corpo dele. Depois que nos mudamos, arrumamos os dois quartos do novo apartamento por pura formalidade pra ninguém desconfiar. Ainda não estávamos prontos para contar para os nosso amigos sobre nós. O Manoel prometeu e cumpriu que não iria contar pra ninguém, e ainda ficou mais próximo de nós.
As meninas arrumaram namorados novos, o que significou mais gente para a turma. O namorado da Paty era da minha cidade, era bem gente fina e bonito pra caramba. Guria de sorte! Como ele era alto, fazíamos questão de aumentar o nome dele, o chamando de Jéfão. Já a Thaís, acabou arrumando um “nerd” que apesar de sempre estar falando coisas relacionadas a computadores era uma boa companhia. O Guilherme fazia curso da área da computação, e conheceu a Thaís num evento da facul.
Estava todo mundo bem arrumado, menos o Victor e Manoel. O Victor por sinal passou a ir sempre lá em casa, seja pra estudar, para zuar ou até mesmo dormir. É claro que o Murilo e eu tínhamos que nos conter na frente dele, mas ainda assim era muito bom ter a presença dele por lá.
Porém, quando as coisas estão todas encaminhadas em nossa vida, sempre algo ruim acontece. Em um dia que o Victor estava lá em casa, ele passou muito mal e desmaiou. Foi um susto muito grande. Algum tempo depois, descobrimos que ele estava com uma espécie de câncer. Realmente foi um golpe muito duro em todos, mas tivemos que ser fortes para suportar o sofrimento dele e ainda dar ânimo a ele.
Depois da segunda sessão de quimioterapia, o cabelo dele começou a cair. Morremos de dó, porque ele amava os cachinhos dele. Ele resolveu ir cortar todo o cabelo, porque seria menos doloroso. No dia, o Manoel, o Murilo, o Jéfão, o Gui e eu fomos juntos, e depois dele, um por um cortamos nosso cabelo também. Ficamos todos carecas para dar apoio a ele.
Depois de um tempo o tratamento começou a dar resultados, e lentamente a vida do Victor foi entrando nos eixos de novo. Era impressionante ver a tamanha força que ele apresentava.
Durante esse período, o Murilo estava muito ligado a mim, mais do que nunca. Ele me contava até o que estava acontecendo com a sua família, coisa que ele nunca tocava no assunto. Até que um dia, ele me surpreendeu com um convite que eu esperava a muito tempo.
_Hein, quer ir pra minha casa comigo nesse final de semana?
_Hã? Sério? Claro! Maneiro, vou conhecer tua família.
_Mas antes, eu queria fazer uma coisa que faz tempo que estou tomando coragem.
Ele tirou do bolso uma caixinha, e quando a abriu eu vi duas correntinhas de ouro com um pingente de coração.
_Bom, aliança iria pegar estranho, então comprei isso. Quer namorar comigo?
Eu nem podia acreditar no que estava ouvindo, parecia que eu estava em um mundo paralelo. Incrível.
_Mas é claro!! Eu adorei!
Nos beijamos muito. Depois fomos para o quarto. Foi a primeira noite de amor após estarmos namorando.
