Capitulo onze
ENZO.
Ouvir o som da porta sendo batida por ele na minha frente foi o suficiente para despedaçar meu coração. As lágrimas se tornaram ácidas e queimavam minha pele.
Caminhei até o meu quarto sentindo o buraco em meu peito abrindo-se cada vez mais onde meu coração uma vez pulsou. Minha alma havia congelado me deixando mais vazio do que nunca.
"Mas a culpa se foi". Uma parte de mim tentou me alegrar. "Ele também". Respondeu a segunda parte. Aquela que eu sentia mais dentro de mim, aquela que chorava por sua perda, aquela que sentia a dor no peito, aquela que teve o coração destroçado e atirado ao fogo.
O meu telefone tocou naquele momento e eu não quis atende-lo. Sentia muita dor para isso. Mas o telefone era insistente e tocou sem parar até que eu o peguei e vi que era minha mãe que estava ligando.
— Onde você está? — Ela perguntou em tom urgente.
Respirei fundo e tentei soar o mais natural possível.
— Em casa por que? — Não deu certo. Soei triste e dolorido.
Mas minha mãe estava preocupada demais para se importar.
— Aconteceu uma coisa com seu irmão! — Ela tinha o tom de voz preocupado e ligeiramente choroso.
A imagem de Gabriel deixando a casa mais cedo veio a minha mente como um soco no estomago. Seu rosto triste e choroso claramente perturbado. Algo de ruim aconteceu com ele e a culpa era toda minha.
— Onde ele está? — queria perguntar o que houve, mas tinha tanto medo resposta que preferi saber onde ele estavaGABRIEL
Aquele sorriso só fez com que eu me sentisse pior. Era um sorriso triunfante de quem acaba de ganhar uma batalha.
— O que faz aqui Gabriel? — ele tentou soar educado, mas seu sorriso não desapareceu do rosto.
Caminhei até ele sentindo meu corpo começar a se inflamar pelo ódio que sentia por ele. Assim que o alcancei na carandá, minha mão se moveu por conta própria e eu lhe deu um tapa tão forte que ele virou o tosto que instantaneamente ficou marcado.
— Seu filho da puta! — disse com a voz embargada pelo choro.
— Se acalma Gabriel — ele pediu acariciando o rosto vermelho — Vamos conversar.
— Nós não temos nada para conversar sua bicha ordinária! — gritei tentando dar um soco nele, mas Miguel segurou minha mão antes dela acertar seu rosto.
— Temos sim! — ele insistiu — Eu nunca quis o mal de Enzo e muito menos o seu!
— Mas mesmo assim encheu a cabeça dele com idiotices — Eu ainda chorava muito.
— Eu só disse a verdade para ele. Enzo é meu amigo e eu quero o bem dele.
Como aquele puto podia ser tão sonso?
— Você não me engana Miguel. Você gosta do Enzo e eu era uma pedra no seu caminho.
— Enzo é meu amigo e só — ele estava começando a ficar irritado comigo — Eu não gosto dele!
— Mentiroso! — Com a mão esquerda peguei o objeto em meu bolso e o ataquei com ele.
A lâmina do canivete não penetrou muito sua barriga, mas foi o suficiente para sangrar bastante. Miguel gritou de dor, mas não me soltou como eu esperava. Ele tirou o canivete de sua barriga e me girou me dando um mata leão muito apertado. Comecei a me debater tentando me libertar enquanto ele apertava cada vez mais meu pescoço.
— Eu vou te matar! — Gritei com a voz rouca.
— Janete! — Miguel gritou e em seguida gemeu de dor — Janete!
A empregada da casa apareceu na varanda e se desesperou ai ver a cena.
— Liga para Enzo! Manda ele vir aqui!
Ela correu para dentro da casa em desespero e essa foi a ultima coisa que vi antes de desmaiar por falta de arMIGUEL.
Falei para Janete ligar para Enzo, mas ela ligou para a polícia. Gabriel ainda estava desacordado quando eles chegaram e ao verem meu ferimento, me levaram correndo para o hospital junto de meu pai que só percebeu que algo estava errado no momento em que eu gritei por Janete. O corte era bem profundo e resultou em cinco pontos, mas não era isso que me importava.
Ele estava livre novamente e agora que eu sabia que ele era gay, a única coisa que me impediria de tê-lo era a distância. Ainda me lembro da primeira vez que o vi. Enzo tinha entrado como bolsista em minha escola dois anos antes e ninguém deu muita bola para ele inclusive eu. Mal nos falávamos até que tivemos um trabalho em que nosso professor de geografia decidiu que eu faria o trabalho com Enzo. Eu não tinha nada contra Enzo, mas também nada a favor. Combinamos de fazer o trabalho na casa dele e foi quando eu vi Gabriel.
Ele deveria ter quase treze anos e eu dezesseis, mas mesmo assim não pude deixar de nota-lo. Estava deitado sem camisa no sofá da sala assistindo televisão. Seu corpo parecia o de um garoto de quinze anos naquela época por conta do futebol. Sua pele era bronzeada pelo sol e seu rosto lindo e jovial. Mas o que mais me encantou foram os seus olhos cor de mel. Eram lindos e penetrantes. Todas as vezes que olhava naqueles olhos, me sentia perdido como se nada mais no mundo existisse além daqueles olhos.
Me aproximei de Enzo por causa de Gabriel, mas com o tempo passei a gostar de Enzo e nos tornos amigos de verdade. Os anos se passaram r eu nunca tive coragem de falar com Gabriel sobre o que sentia. O admirava de longe com medo. Adorava quando estava no quarto de Enzo e o ouvia tocar em seu quarto. As vezes eu fechava os olhos e me imaginava sentado ao seu lado enquanto ele cantava uma música para mim e depois me beijava. Eu amava aquele garoto como nunca havia amado ninguém e quando Enxó disse que eles estavam namorando eu simplesmente não suportei. Não pela ideia de dois irmãos ficarem juntos (embora isso realmente me incomodasse), mas pelo fato de perde-lo para o meu melhor amigoENZO
Acorrentei minha bicicleta as presas e entrei na delegacia onde minha mãe já me esperava. Ao me ver ela correu até mim e me abraçou.
— Eles dizem que ele tentou matar o Miguel — minha mãe chorava — Mas eu não acredito nisso Enzo! Conheço o Gabriel melhor do que qualquer um. Ele nunca faria algo assim!
Não conhece tão bem quanto acha. Quase disse, mas consegui me segurar.
— E o que o Miguel disse? — indaguei ainda sentindo meu peito doer de tristeza.
— Ele disse que não sabe o por que ele fez isso — minha mãe chorava — A policia o está interrogando agora.
Aguardamos na delegacia durante um bom tempo até que um policial coutou trazendo meu irmão. Seu rosto estava completamente diferente do que eu tinha visto quando ele deixou nossa casa mais cedo. Toda a tristeza tinha desaparecido dali dando lugar a nada. O rosto de meu irmão demonstrava indiferença.
— A familia di garoto não vai prestar queixa senhora — o policial anunciou — Mas o delegado aconselha a senhora a levar seu filho a um psiquiatra.
— Um psiquiatra? — minha mãe indagou.
Eu e ela compartilhavamos a mesma expressão de espanto enquando Gabriel se manteve neutro.
— Seu filho disse que não se lembra de ter atacado Miguel esta tarde e a ultima coisa que se lembra antes disso é de estar voltando da escola — ele explicou — Se o que ele diz é verdade, apagões assim são perigosos e podem voltar a acontecer.
— Está dizendo que ele é maluco? — indaguei ao policial me sentindo profundamente ofendido.
— Não foi isso o que eu quis dizer...
— Vamos para casa — Gabriel o interrompeu e até sua voz não demonstrava nenhuma emoção — Estou cansado.
E começou a rumar para fora da delegacia.
— Vamos pensar no assunto — minha mãe respondeu embora nunca fosse pensar — Adeus policial.
— Adeus senhora.
E fomos para casaDesculpa ter matado todos vocês de curiosidade pelo que iria acontecer e espero que tenha valido a pena a espera.
Ninguém acertou qual era o real motivo pelo qual Miguel tentou separar esses dois irmãos e espero que tenham gostado da revelação.
Obrigado a todos que comentaram, votaram ou apenas leram meu conto. Espero que tenham gostado de mais esse capitulo e a história ainda está longe de acabar. Até o próximo.