Ah, não. Eu não consigo. Quando tento dormir sem calcinha, mesmo estando sozinha em casa, sinto-me pelada, desprotegida, culposa.
Desde pequena sou assim. Acho que foi muita repressão da minha mãe, sempre preocupada que ninguém podia ver nada, que era feio ficar mostrando a bunda e a xexeca. Depois que começaram a crescer os pêlos, então, nem minhas irmãs e primas podiam me ver. É claro que todas seguíamos suas instruções à risca.
Para brincar de médico nos trancávamos no quarto ou brincávamos num mato que tinha nos fundos do quintal. Lá a gente trepava em árvore, fazia casinha, comidinha, arrumava camas de folhas no chão e era sempre um jogo espiar a calcinha da outra, comparar a cor ou a quantidade de pêlos ou fazer xixi em roda. Máximo da ousadia infantil, fazíamos xixi as quatro, às vezes cinco, juntas. Tirávamos as calcinhas, nos acocorávamos de mãos dadas, em círculo, uma segurando a outra, e fazíamos xixi na rodinha. Quem não conseguia, acabava apanhando das outras.
Tinha uma vizinha, a Lana, dois ou três anos mais velha que nós, que já tinha um tufo de pêlos pretos na aranha – como ela chamava - e peitinhos bem desenvolvidos, que sempre tomava a iniciativa de propor essa brincadeira. A gente entrava numa excitação histérica e acho mesmo que ali, naquele matinho, tive meus primeiros orgasmos, embora não soubesse o que era isso e me assustasse muito com o que acontecia, ao mesmo tempo em que queria repetir sempre de novo.
A Lana era, de longe, a mais sacana e desenvolvida da turminha de brincadeiras e, às vezes, segurava por gosto o xixi e não fazia na hora da roda. Como era a maior, ela não apanhava, mas pedia pra alguém ajudá-la a fazer. Uma a segurava pelos braços, pra não cair, ela ficava acocorada de pernas bem abertas e, a outra, tinha que afastar seus pêlos com os dedos e abrir os lábios pra ela poder fazer. Se alguém não conseguia ou não sabia fazer isso direito, a Lana ensinava, demonstrava como fazer com os dois dedos. Não sei se eu era a mais burrinha, mas era sua vítima preferida e nunca conseguia fazer direito. Então recebia várias aulas extras.
Até hoje, quando sento no vaso, às vezes instintivamente, levo a mão até a vagina para abri-la e sinto o mesmo prazer que aquele gesto me proporcionava. E me vem, nítida, à memória, os olhos verdes e grandes da Lana – seu olhar era profundo, parece que ela olhava dentro da gente - e a forma como ela molhava seus lábios com a língua e os mordia com os dentes brancos. Faço o mesmo quando estou transando e sinto que meu marido vai acabar. Lembro daquela cena e gozo junto com ele, que sempre fica feliz achando que foi ele que me levou ao ápice. Nunca tive coragem de lhe contar de minhas lembranças infantis e prefiro mantê-lo com esta ilusão machista.
Lembro, também, que uma vez fomos flagradas nesta brincadeira por um bando de garotos que ‘invadiram’ nosso matinho e daí estabeleceu-se uma longa negociação para ver quem mostrava o que primeiro. Mas não passou disso. Acho que eles tinham mais medo que nós e acabaram fugindo. Um deles era primo da Lana e daí ficaram se trocando ameaças de contar para as respectivas tias, mas foram embora juntos. Por sinal, uns dois anos depois, a Lana apareceu com barriga e a família acabou se mudando dali e nunca mais a vi. O mato acabou cedendo lugar a um edifício e fiquei só com as lembranças.
Quando escrevo estas memórias é, também, na esperança de que a Lana as leia e faça contato para recordarmos estas brincadeiras e para que eu possa mostrar-lhe o quanto aprendi e o quanto estou aberta a novas aprendizagens.