Sempre que viajo à Olivença dou um jeitinho de tirar um tempo e ficar sozinha no meu pedacinho do paraíso. É assim que chamo uma pequena parte da praia, isolada por pedras e pouco frequentada, principalmente ao pôr do sol. As lembranças da última vez que fui lá insistem em povoar minha mente, como chuvas repentinas de verão que vem e vão sem muito aviso.
Lembro-me daquele fim de tarde como se fosse ontem. Estava com os pés úmidos na areia, olhava o horizonte e admirava o entardecer, o céu avermelhado produzia um lindo efeito no mar e o vento trazia um delicioso cheiro de maresia. Usava um vestido leve de algodão cru. Sentia a brisa tocar a minha pele bronzeada pelo verão: que delícia! Fechei os olhos e imaginei que estava num quadro de Monet. O vento agitava os meus cabelos lisos e escuros, minha roupa pressionada mostrava cada curva do meu corpo, contornos semelhantes às estátuas gregas femininas. Senti-me nesse instante desejável e fiquei excitada.
Por alguns minutos permaneci nesse estado meditativo respirando profundamente. Ao sair desse transe contemplativo olhei mais uma vez ao redor para admirar a paisagem que tanto me encantava. Só nesse instante me dei conta que não estava sozinha. À minha esquerda, sentado nas pedras, um estranho me observava com o semblante interrogativo. Nossos olhares se cruzaram e não se desviaram mais. Parecíamos hipnotizados, nos avaliando mutuamente. Minha respiração se tornou ofegante. Ele notou. Levantou-se e caminhou lentamente em minha direção. Pude observa-lo melhor, era alto, magro, usava a cabeça raspada, peito liso, pernas e braços com pelos na medida certa. Vestia apenas uma bermuda de surf. Deveria ter trinta e poucos anos, um pouco mais que eu. No braço direito havia uma fênix tatuada. Perguntei-me o que ele teria vivido para escolher esse desenho. Ao se aproximar mais, notei os traços delicados do seu rosto, os olhos oliva e a barba por fazer. Não posso negar, ele era extremamente charmoso.
Quando estava perto o suficiente para me tocar, desviei o rosto e olhei para o mar. O peito arquejante denunciava a minha inquietação. Ainda afastado, mas posicionado atrás das minhas costas, tocou o meu ombro esquerdo e desceu lentamente pelo meu braço. Meu silêncio era minha aquiescência. Acariciou minha mão e observou o metal dourado que adornava meu dedo anelar. Girou a mão e me mostrou sua aliança em sinal de cumplicidade. A atração instantânea que nasceu entre nós nublou minha consciência. Deixei-me levar pelo momento, não pensei nas consequências, pensei apenas nos prazeres que aquele estranho me oferecia.
Sem hesitação, mas com ternura, enquanto colava o seu corpo no meu, ele retirou os cabelos que cobriam o meu pescoço e pousou sua boca em minha jugular numa deliciosa carícia. Nesse momento me abandonei em seus braços, gemi ao contato do calor de sua pele e de sua boca úmida.
Seu corpo túrgido roçou o meu. Suas mãos trêmulas, porém decididas, exploraram meus seios por cima do vestido, empecilho que foi descartado em segundos. Com destreza, ele desatou os laços que sustentavam minha vestimenta. Afastou-se o suficiente para deixar a roupa cair na areia. Por alguns instantes observou-me nua, ainda de costas e olhando o mar.
Ofegante, eu sentia o peso daquela atração proibida, não tinha forças para mover-me, nem para correr, nem para me entregar. Fui me deixando levar, como uma flor caída no rio, esperando a correnteza me direcionar.
Suas mãos cálidas voltaram a percorrer meu corpo, uma delas repousou em meu seio, enquanto a outra percorria o caminho em busca do prazer supremo. Ao sentir a proximidade de sua mão, meu corpo se aqueceu, uma fornalha me inundou, fechei os olhos e desejei ardentemente ser invadida por aquele homem. Dedos hábeis extraíram meus gemidos e me umedeceram. Minha inércia cedeu lugar a ousadia. Já não havia mais lugar para a hesitação. Virei-me e busquei a sua boca, nossos lábios se tocaram com paixão e intimidade, como se fossem antigos conhecidos. Um harmonioso baile de línguas que se saboreavam e se desfrutavam mutuamente. O sabor de sua boca me inebriou e seu hálito me incendiou como um poderoso afrodisíaco.
Atrevida, enquanto nos beijávamos, abri sua bermuda e a deixei cair a seus pés. Abaixei um pouco sua sunga, livre do tecido que nos separava toquei com ardor o objeto do meu desejo. Não sei quem gemeu primeiro, se foi ele ou eu. Tê-lo tão rígido em minha mão me deixou alucinada.
Ainda colados pelos lábios e em sincronia nos deitamos na areia macia. Senti o peso do seu corpo e toda a demonstração de virilidade que ele podia oferecer. Paramos de nos beijar e nos olhamos profundamente. Arquejante, senti seu corpo ingressar lentamente em mim enquanto nossos olhares contínuos tentavam desnudar as nossas almas.
Nossas respirações arfantes se misturavam com os sons do mar. Suas investidas se aceleravam, embaladas por nossos gemidos intensos e indubitáveis de extremo prazer. Tentei manter contato visual o quanto pude, queria guardar o seu rosto em minha memória, gravar indelevelmente a sua imagem em minha mente, suas expressões de pleno deleite, mas não consegui manter os olhos abertos quando a onda de êxtase me arrebatou. Fui tomada por contrações e vibrações avassaladoras. Meu corpo ardia e pressionava ainda mais o dele. Em seguida, senti o relaxamento que só a maior das volúpias pode propiciar. Pude então abrir os olhos e vê-lo experimentar as delícias que eu tinha acabado de vivenciar.
Instigado, ele se deixou dominar pelo prazer. Seus movimentos se intensificaram e em instantes ouvi o som mais sedutor da excitação, os gemidos mais profundos de prazer que um homem pode dedicar a uma mulher. Como um guerreiro vencido, descansou seu corpo sobre o meu. Manteve o rosto cravado em meu pescoço enquanto recuperava a tranquilidade da respiração. Ainda unidos, eu usava todos os meus sentidos para eternizar aquele momento.
Ele levantou o rosto, olhou-me suavemente com um doce sorriso. Insinuou emitir algumas palavras, mas o impedi com um beijo e em seguida com o dedo em seus lábios em sinal de silêncio. Ele me compreendeu. Não queria perder a magia daquele instante. Por alguns minutos ficamos calados, abraçados deitados na areia, admirando o pôr do sol.
Sem dizer nada, nos levantamos e nos vestimos. Toquei o seu rosto delicadamente e me despedi com um terno beijo no canto dos seus lábios. Afastei-me sem perguntar seu nome e sem dizer o meu. Caminhei em direção à outra praia, sem olhar para trás, com a sensação de ter vivido um momento único, desses que marcam a nossa vida para sempre. Não houve nenhuma consequência física desse ato, somente na alma. Carrego comigo, junto às deliciosas lembranças, um pouco de culpa, mas tento não me punir. E nos meus invernos, essas recordações me aquecem e me dão forças para continuar. Lembranças de uma tarde de verão que ficaram tatuadas na memória.