-Ok...- também queria conversar, mesmo depois de 2 meses. Sentei no sofá e ela sentou ao meu lado.
-Sua mão tá doendo?
-Sim, mas nada que eu não aguente.
-Posso pegar nela?
-Por que não...- ela pegou na minha mão, por algum motivo ela respirou fundo.
-As meninas ficaram assustadas vendo você socando a árvore...
-Eu não culpa elas, tava mesmo parecendo maluco! Mas por que "as meninas"? Você não ficou assustada?
-Acho que assustada não é a palavra certa...
-Como assim?
-Sei lá, não sei explicar...
-Pode tentar. E olha pra mim não pro chão...- eu disse virando seu rosto na minha direção.
-Desculpa, é que... sei lá... ver você depois de 2 meses, tocar sua mão depois de 2 meses... se eu olhar nos seus olhos eu não conseguir me segurar...
-Segurar? Segurar o quê?
-A vontade... vontade de te beijar...-ela diz se aproximando- de sentir sua mão no meu corpo...
Ela coloca minha mão sobre a sua cintura, se aproxima ainda mais, coloca a mão no peito e me beija, e eu correspondi por alguns segundos, até voltar a mim. Eu me levantei do sofá.
-Seu namorado não vai gostar muito de saber que você anda beijando outras pessoas...
-Namorado? Que namorado?
-Você me deixou porque estava apaixonada por outro...
-Eh... Não durou muito tempo...
-Por que?
-Por que eu só conseguia pensar em você...
-Até onde eu saiba você me deixou por que gostava mais dele do que de mim.
-Não, claro que não!
- Então por que me deixou?
-Porque eu fui burra! Eu não conseguia controlar meu corpo, e eu sabia que disso e não queria te magoar...
-Então pra não me magoar você me magoou?
-Sim... mas ninguém sofreu mais nessa história do que eu, Xande. Eu chorei tudo que dava e mais um pouco pensando em você e na burrada que eu fiz. Mas pelo menos deu certo, você não sofreu tanto...
-Como assim eu não sofri tanto??
-Mas a sua irmã me disse que você ficou bom rápido, que duas semanas depois já tava farreando com os amigos...
-Eu saio com meus amigos quando te namorava também, e você ia junto.
-Você entendeu o que eu quis dizer.
-Sim, entendi... mas se você diz que eu não sofri, como explica a minha reação quando te vi??
-Eu... eu não sei...
-Eu te explico. Eu sofri, e sofri muito sim. Mas eu aprendi uma coisa, você pode guardar a dor pra si, você pode explodir ou você pode superar a dor, e seguir vivendo. E eu superei.
-Mas se você tivesse superado mesmo não teria agido daquela forma.
-E quem disse que foi antes daquilo? Eu pensei muito, sozinho no meu quarto, e a dor passou...
-Então você não tá mais magoado comigo?
-Não.
-Então... você me perdoa?- ela se levanta e segura minhas mãos.
-Sim...- ela abriu um enorme sorriso, e começou a se aproximar de mim, mas eu me afastei. O sorriso desapareceu de sua face e em seu lugar lagrimas surgiram.
-Mas... você disse que perdoava...
-E eu te perdoo.
-Então...
-Mas isso não quer dizer que eu vou voltar a te namorar.
-Xande, eu...
-Você o quê?
-Eu te amo...
-Me ama? Não, não ama.
-Amo sim! Eu sei o que sinto!
-Sabe mesmo? E aquele por quem estava você apaixonada?
-Eu... ele...
-Eu, sim, te amava, Juliana. E tentei demonstrar isso a cada momento em que estava com você. Mas, pra você, eu era só uma opção. E quando apareceu uma que você julgou melhor, você me trocou. Como eu posso namorar um pessoa assim?? Pena foi ter percebido isso só agora...
-Não, Xande. Eu te amo, de verdade! Você é a única pessoa que eu já amei!
-Isso é o que você diz, mas o que você fez diz um coisa totalmente diferente.-eu comecei a andar em direção ao meu quarto.
-Xande! Eu te juro por tudo! Eu te amo!-ela dizia me seguindo. Eu parei na frente da porta do meu quarto.
-Juliana... você me pediu o meu perdão, eu perdoei. Mas e você? Você se perdoa? Porque só quando você se perdoar, você vai conseguir seguir em frente, pra valer.
-Mas eu não quero seguir em frente, Xande! Eu quero você devolta! Eu te amo!!
-Mas eu não quero voltar, eu quero seguir em frente. Eu sempre vou seguir em frente.- engraçado como nessas horas nós dizemos coisas nunca conseguiríamos cumprir.
Eu entrei no meu quarto, tranquei a porta, pois sabia que ela tentaria entrar, e deitei na cama, pra me acalmar. Mal me deitei e Juliana começou a bater na porta, chorando e dizendo meu nome. Ficou assim por alguns por alguns minutos, até que ela ficou só soluçando do lado de fora. Mais um tempo e o choro foi ficando mais distante, provavelmente as outras meninas que a consolavam. Minha irmã bateu na porta me chamando e fui atender.
-Oi...-disse a ela.
-As meninas levaram a Juliana lá pra fora pra tomar um ar...
-Ela precisa se acalmar...
-E você? Não quer conversar?
-Amanhã a gente conversa...-eu disse fechando a porta.
-Xande.
-Oi...
-Você fez o certo.
-Eu sei...
Ela me beijou o rosto e saiu, e fechei a porta e a tranquei, me deitei na cama novamente, e fiz o melhor que conseguia fazer, olhar o teto. Logo perdi a noção do tempo, o sono não viria aquela madrugada, só voltei a mim quando o relógio despertou. 8 da manhã, decidi fazer o que sempre fazia, sair pra correr. Me levantei e fui tomar um banho e fazer minha higiene. Quando sai do quarto não achei vestígios de nenhuma das meninas, provavelmente todas estavam dormindo, peguei uma maçã e saí logo de casa. Fui correr em uma pista que ficava próximo a nossa casa, corri por um quase uma hora, e enrolei a volta pra casa outras duas, até que tomei coragem e voltei pra casa, a pior parte já tinha passado.
Entrei em casa, as meninas estavam vendo um filme na sala, com exceção de Ana Clara, Bia e Ellen, que estavam na cozinha. Lá entrei, o cheiro estava ótimo, Ana sempre cozinhou muito bem, as outras duas a ajudavam. Tomei um copo d'agua e fui tomar um banho. Banho tomado, sentei na sala pra assistir o filme mas Ana Clara logo me chamou.
-Diz.- disse entrando na cozinha.
-Eu quase esqueci...- ela tirou um papel do bolso.- a Juliana deixou esse bilhete antes de ir embora.
-Embora?
-E você achou que ela ia ficar depois de ontem?
-Tá certo...- peguei o bilhete e li.
"Você me perguntou se eu mesma me perdoava, e não, não me perdoo. Mas se você não me aceita devolta, também não vou ficar me torturando."
-O que isso quer dizer?- perguntei.
-Ela não vai ser mais minha amiga... vai mudar de escola escola, e tava até pensando em sair da cidade, ir morar com o pai dela...
-Mas eu nunca pedi pra ela fazer nada disso...
-Ela não tá fazendo isso por você, tá fazendo por ela mesma.
-Você tentou conversar com ela?
-Nos todas tentamos, mas ela parece muito decidida...
-Então eu acho que te devo desculpas.
-Por que?
-Por ter feito você perder uma amiga...
-Foi decisão dela. Mas eu não entendo. Por que isso agora? Nem quando vocês terminaram foi assim.
-Talvez ,pra ela, esse tenha sido o fim.- Ellen disse.
-Como assim?- perguntei.
-Ela ainda tinha esperança que, se ela consiguisse o seu perdão, também consiguiria o namoro devolta. Mas você acabou até com o último fio de esperança que ela tinha ontem, então pra não sofrer mais...
-Desse jeito até parece que eu sou o vilão da história...
-Você é o sensato, Xande. As vezes só demora um tempo pra perceber...
Sentei em uma cadeira, pensei um pouco, mas talvez isso fosse o melhor.
-E você, Bia? Até agora não me xingou... O que aconteceu?
-Nada... só estou feliz.
Ela deu um sorriso e saiu da cozinha, Ana respirou fundo, largou o que estava fazendo e foi atrás dela.
-Você sabe o que aconteceu, Ellen?
-Não, mas sabe o que eu acho?
-O quê?
-Eu acho que a Bia é apaixonada por você...
-O quê??
-Pensa bem... ela sempre tava atrás da sua irmã e principalmente de você, mas ela sabia o que você achava de namoro antes de Juliana aparecer...
-Até que faz sentido...
-Não é? E depois que você começou a namorar a Juliana ela simplesmente começou a te "odiar", o que pra mim não passava de ciúmes. E até onde eu sei ela nunca sequer sorriu pra Juliana.
-Como você viu tudo isso?
-Eu só observo bem...
-De qualquer forma, eu vou tirar essa história a limpo... E vou agora.