Hoje um trecho curto, apenas para manter o ritmo.
Bom final de semana pra todos!!!!
"Cheguei e como de hábito me joguei no sofá. Tentava entender o motivo de aquela menina mexer tanto comigo, pensava nela e estava realmente preocupada em como ficaria, pois por mais absurdo que fosse, para mim pelo menos, ela parecia mesmo gostar muito do cachorro, mas algo me dizia que não podia ser só isso. Pensando nela cochilei e acordei depois de uma hora, tomei um banho e como bateu o cansaço, talvez por conta do estresse do acidente com o carro e as loucuras que vinha sentindo por Marcela, me preparei para dormir, desisti depois de revirar na cama durante um tempo. A Marcela não me saía dos pensamentos e junto vinha uma espécie de angústia que eu ainda não havia experimentado. Não conseguia entender o que havia comigo, normalmente eu não sou do tipo que se preocupa com quase desconhecidas que saem por aí batendo no meu carro, mas num impulso sentei encostada na cabeceira da cama e liguei para ela. Enquanto o telefone chamava percebi que sentia uma necessidade quase física de ouvir a voz dela novamente, minhas mãos tremiam e minha pulsação estava acelerada.
— Alô? – apenas ouvir aquela palavra já me deixou mais calma e consegui falar sem gaguejar.
— Oi, Marcela. É Patrícia. Te acordei?
— Que bom que ligou, estava pensando em você... – lá estava de novo o choro na voz dela e aquilo me apertou o coração.
— Menina, não chora, por favor. – eu sentia que lágrimas estava se formando nos meus olhos e aquilo me deixou apavorada... não entendia o que estava acontecendo comigo!
— Me perdoa por chorar tanto, mas minha avó foi para um evento em Santos e volta só na semana que vem e essa casa parece tão grande sem o Elvis... Desculpa Paty, você está sendo tão legal comigo e a única coisa que eu faço e te obrigar a agüentar meus dramas. - ela parou bruscamente e quando voltou a falar estava constrangida - Você não se importa que te chame de Paty, se importa? Patrícia parece sério demais, não combina.
— Não me importo de forma alguma. Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? Sei que acabamos de nos conhecer, mas me incomoda imaginá-la aí sozinha num momento como esse.
— Fico agradecida e até envaidecida com isso, mas vou ficar bem, não se preocupe. Afinal posso não parecer, mas sou adulta... – ela pareceu respirar fundo e quando falou o fez num sussurro tão baixo que quase nem consegui entender – E além do mais eu não teria coragem de pedir que viesse ficar comigo, uma por que seria muito abuso e depois por que você com certeza tem coisa melhor para fazer.
Tentei não me deixar afetar pela súplica na voz dela, porém uma idéia começou a brotar e deixei que se formasse, enquanto isso tratei de continuar a conversa perguntando como iria trabalhar na semana seguinte e ela nem deu importância dizendo que iria de trem. Enquanto Marcela falava, já mais tranqüila a idéia gerada momentos antes, recebia os acabamentos finais e aquilo me deixou excitada e assustada ao mesmo tempo.
— Você gosta de sorvete? - perguntei como quem apenas puxa conversa.
— Baunilha... adoro. Por quê?
— Por nada, apenas me deu vontade de comer algo doce. - ela parecia mais calma e gostei de pensar que eu tinha alguma coisa com isso - Olha... eu preciso desligar, mas quando eu era criança e não conseguia dormir a minha mãe me dava um copo de leite morno com uma colher de mel. Por que não tenta?
— Não gosto tanto assim de leite, mas... vou experimentar.
— Então tá. Qualquer coisa me liga. Beijo.
Desliguei antes de ouvi-la dizer qualquer coisa e levantei da cama num pulo. Não era todo dia que eu tinha a oportunidade de alegrar a vida de alguém então, não perderia aquela.
De repente minha louca interior, um personagem que eu inventei para ter aquelas conversas que todo mundo tem consigo mesmo, apareceu e perguntou:
— Desde quando você se preocupa em alegrar a vida de alguém, Patrícia?
— Desde hoje! – respondi não querendo pensar no que aquela mudança significava.
Coloquei uma calça jeans rasgadas - pelo uso - uma camiseta do meu time do coração, calcei sapatilhas, passei meu perfume, pois jamais saio de casa sem ele, coloquei meu kit emergencial na bolsa e sai como uma louca porta a fora. No caminho liguei para um amigo dono de uma sorveteria na Oscar Freire e quando ele disse que estava fechando eu implorei que ele esperasse mais quinze minutos até eu chegar lá. Cheguei, comprei um pote enorme de sorvete de baunilha que eles vendem com outro nome e fui para a casa da Marcela.
Do portão liguei no celular dela que atendeu no primeiro toque.
— Ainda bem que você ligou! – ela chorava desesperada e os soluços eram de cortar o coração – estava quase ligando para você... por favor... vem pra cá... sei que estou parecendo uma louca... e você... deve estar pensando... em chamar aqueles caras... com camisas de força... mas eu não agüento mais... ficar sozinha aqui...
— Então vem abrir o portão. – ouvi o celular caindo no chão e os passos dela correndo."