Acordo luzes excessivamente claras ferindo meu olho. Reconheço de imediato que estou na enfermaria. Percorro meu olhar pelo lugar e vejo uma figura desconsolada dormindo de mal jeito na cadeira.
- Ela chorou a noite toda, não te deixou um minuto.
Assustada finalmente reparo na enfermeira ao meu lado.
- Sabe, eu não deveria falar. Mas ela gosta muito de você Marcela, muito mesmo. Toda noite ela chora aqui.
Olho Bianca dormindo quietinha no seu canto. Os cabelos caem na frente de seu rosto.
- Ela esta com aquele menino. Se ela gostasse ela não estaria. - olho para a enfermeira e percebo como ela é jovem e bonita.
- Vocês deveriam mesmo conversar. E você deve ficar aqui de repouso.
Ia responder mas quando olho para o lado ela não esta mais. Observo a serenidade de Bianca. Naquele momento me dou conta do tamanho de meu sentimento por aquela criatura tão linda e delicada. Acabo pegando no sono enquanto observo-a.
Acordei com mãos frias envolvendo as minhas. Abro meus olhos levemente e encontro aqueles lindos olhos verdes que tanto me encantam, mas que agora estão envoltos em vermelhos de choro.
- Morri e fui para o céu? - digo sonolentamente.
Bianca solta uma risada soluçada enquanto aperta minha mão.
- Não amor, ainda bem que não.
Meus pensamentos voam. "Amor? Ela me chamou de amor?".
- Entao ainda terão que me aguentar muito.
- Não fala assim. Eu não consigo nem imaginar como eu ficaria se algo sério tivesse acontecido.
- Afinal o que houve comigo? Só lembro de apagar do nada.
- Sua pressão caiu por conta da sua bebida. Deu nisso.
- Agora que to bem vamos voltar para a festa. - disse em tom de brincadeira. - Você tem seu amigo e eu minhas amigas, é feio deixar esperando.
A ultima parte acabou saindo sem querer com a voz cheia de magoa. Nos calamos. Nossos olhos se fixaram, uma tentando ler os pensamentos da outra, sentia sua mão apertar e soltar a minha.
- Sobre isso, eu não estou mais com ele... - disse quase inaudivelmente.
- Por quê?
Ela engoliu em seco como se tomasse coragem de dizer algo.
- Eu.. - abria e fechava a boca como se forçasse a voz a sair.
Quando achei que finalmente ia dizer algo, fez melhor. Me beijou.
Seu beijo me dava energia. Toda a tristeza que passei me sentindo distante dela sumiu. Era como se eu voltasse a enxergar. Seu ritmo guiava o meu e pela primeira vez me senti domada por alguém.
Cedo demais sua boca se separou da minha. Pude ver em seus olhos que ela se sentia como eu, que o brilho havia voltado a ela.
Bianca pegou ambas minhas mãos e as segurou forte me fazendo um pedido.
- Por favor Marcela, me encontra no jardim dos alojamentos no horário do jantar.
Achei seu pedido estranho mas concordei sem pestanejar. Ela saiu do quarto da enfermaria me deixando baqueada sentada na cama.