_O que você acha que ele está pensando?
_Victor, eu não sei!
_Olha, eu sei que a situação pede uma atitude drástica, mas não podemos fazer nada de exagerado.
_Dessa vez ela foi longe de mais. Talvez se ela ainda estivesse aqui, as coisas iriam ficar muito feias.
_Bom, desse jeito não tem como ficar. Vocês tem que se mudar rápido.
_Estamos procurando um apartamento, mas tá difícil.
_Imagino. Mas vamos, se não o povo vai acabar desconfiando de alguma coisa.
Quando chegamos na sala, algumas pessoas ficaram olhando. Eu estava preocupado com esse mais novo problema. Que a Ana era doente, não restava mais dúvidas. Porém, eu acreditava que isso era mais por inveja ou qualquer outra coisa. Ser sem vergonha está super na moda.
Ao término da aula, o Victor me deixou no portão do edifício e foi pra sua casa. No elevador, encontrei uma amiga (vizinha) e acabamos por conversar enquanto subíamos. Quando cheguei ao meu andar, dei de cara com ela esperando o elevador pra descer.
_Oi Rafa!
Passei e fui para casa. Ao entrar, encontrei o Murilo dormindo no sofá. O arranhão tinha marcado muito seu rosto, mas em alguns dias, as marcas iriam sumir.
Fiquei um tempo vendo ele dormir, e depois fui tomar um banho. Quando saí do banheiro ele ainda estava dormindo, então peguei as chaves do carro e fui comprar alguma coisa pra lanchar depois. Ao sair de casa, dei de cara com ela, no mesmo local que estava em minha chegada. Parecia até que ela iria montar acampamento ali no corredor, já que a cada vez que saia do meu apartamento a via por lá.
_Preciso falar com você, e nem pense em fugir.
_Ou o que? Vai me arranhar também?
_Aquilo foi um acidente!! Eu não queria que aquilo tivesse acontecido, acredite em mim.
_Não estou interessado.
_Rafa, eu sei que estão dizendo algumas coisas sobre mim, mas eu estou sendo mal interpretada.
_Ana, eu realmente não tenho interesse em qualquer coisa que você esteja disposta a contar. Agora, se você me der licença, tenho que sair.
_Ele está aí dentro? – disse ela apontando para o meu apartamento – Queria pedir desculpas, eu sei que tenho sido muito impulsiva. Eu não sou assim.
_Tchau.
_Espere – disse ela me segurando pelo braço – eu ainda não terminei.
_Então termina.
_Eu sei o que você está pensando sobre mim, e digo que boa parte pode até ser verdade. Mas uma coisa você ainda não sabe.
_Ah, é? O que?
Nisso ela me segurou mais firme e tentou me beijar a força. Não foi difícil esquivar, porém a situação era incômoda.
Segurei ela pelos pulsos com firmeza, não me importando com futuras marcas. Ela me encarou, e por um breve momento eu fiquei assustado. Ela sorria, não sei se por prazer ou por sentir o meu desconforto. Talvez ambas as coisas em conjunto.
_Você torna tudo mais interessante. Esse seu modo comportado, sua paciência, a sua falta de capacidade em cortar o mal pela raiz.
_....
_Você é fraco, e é por isso que eu te quero tanto. Eu sei que é questão de tempo para que você venha até mim procurando o meu corpo, buscando o que você não pode ter com ele. Pense bem, você ainda está em tempo de dizer alguma coisa, de fazer algo. Por que você não entra em minha casa? Estou só.
Soltei os pulsos dela, que apenas me observava. A encarei, sem saber o que dizer. Ela me desafiava, incitava que meus músculos se movessem violentamente. Porém alguma coisa em mim não permitia que atitudes mais drásticas e impactantes tivessem espaço em meu arsenal de comportamentos.
_Desde o primeiro dia, quando te vi, percebi que você nasceu para ser meu. Quando descobri que você era gay, cheguei a cogitar estar errada. Porém você não foge, nunca me trata mal. Alguma coisa está errada. Mas isso não importa, eu vou te dar todo o espaço necessário para tomar uma decisão. Só espero que você tenha força pra fugir da sua vidinha. Quando você descobrir o que eu tenho a lhe oferecer, me procure.
_Eu não faço ideia do que você está falando.
_O que você ainda está fazendo aqui?
Algumas coisas faziam sentido. Mas o modo frio, calculista e persuasivo dela era algo notável, não havia como ignorar. A forma dela de expor minhas fraquezas me deixava nervoso.
A encarei uma última vez, então resolvi sair de lá. Mas já era tarde demais, o que havia acontecido ali poderia me afetar, direta ou indiretamente.
Ao descer o elevador, eu suava frio e isso me corroía por dentro. Como eu podia dar ouvidos a ela, depois de tudo o que houve?
Ao entrar no carro, fui até uma pizzaria, fiz o meu pedido e fiquei esperando no balcão. Enquanto isso, parecia que o espaço estava me deixando sufocado, então resolvi ir até o banheiro e jogar uma água na cara.
Eu precisava, mais do que nunca ficar longe dela, independentemente de quanto tempo fosse. Porém, além de morar ao meu lado, ela estudava comigo. Era inevitável manter uma distância segura, algo capaz de me dar espaço, de manter o Murilo calmo ao meu lado.
Quando a pizza ficou pronta, fui para casa e ao chegar lá o Murilo estava no banho. Fiquei refletindo mais um pouco no sofá até o momento em que ele saiu com a toalha em volta da cintura. Ficou parado me olhando por um tempo, depois veio e deitou no meu colo.
_Tava com saudades já!
_hahahahaha só fui buscar uma pizza.
_Então vamos comer!
_Vai se vestir primeiro!
_kkkkkkk beleza.
Comemos aquela pizza e depois fomos assistir um filme. Dormimos tarde, e no outro dia pela manhã não demos de cara com a Ana, que por sinal nem foi a aula, em nenhum dos períodos. Quando chegou o anoitecer, resolvemos ir pra casa da Thaís, fazer um churrasquinho pra distrair um pouco, já que todos estavam ficando um pouco tensos por causa da Ana.
O Murilo e eu fomos embora por volta das 3 da madrugada, e ao passarmos pelo apartamento da criatura, eis que a porta se abre e um cara (da nossa turma) sai de lá. Ao nos ver ele ficou todo sem graça, mas por um breve momento eu fiquei feliz de vê-lo, porque enquanto ele servia de distração para ela, eu tinha algum tempo de descanso mental.
Como chegamos em casa muito cansados, resolvemos ir dormir rapidamente. No outro dia, ficamos sabendo de uma festa surpresa de um calouro do curso no final de semana, o qual envolvia a minha turma também (as vezes é bom ser influente). O Victor, o Murilo e eu achamos que seria a chance perfeita pra provocar alguma coisa em público que deixasse a Ana desmoralizada.
Mas havia muitos “poréns”, e um deles era sobre o fato de ela poder contar a todos que o Murilo e eu formávamos um casal. Ou ainda tentar inventar alguma mentira absurda, o que a deixaria com status de santa, e nós de demônios incompreensíveis. Sendo assim, não nos restava muitas oportunidades. Mesmo convivendo com ela, pouco sabíamos a seu respeito, então resolvemos investigar.
No outro dia, o Murilo ficou esperando no carro, enquanto eu ficava lá em cima no nosso andar cuidando para que o momento em que ela saísse de casa não passasse por despercebido.
Quando ela saiu, avisei e o Murilo ficou esperando. Ele ligou de volta dizendo que ela estava esperando alguém, e enquanto estava na ligação, ele informou que o pai dela havia chegado para apanhá-la. Foi então que eu mandei ele segui-los, enquanto eu faria outras coisas. Desliguei o celular e fui para o computador. Qualquer informação sobre ela poderia ser útil para alguma coisa. Encontrei o Pedro online na rede, então resolvi puxar assunto sobre a Ana.
Para minha surpresa, descobri que eles já foram namorados a dois anos atrás, porém nunc contaram por não desejar situações de desconforto, já que ambos estavam estudando juntos. Fiz algumas perguntas sobre diversas coisas, as quais ele respondeu sempre com diálogos objetivos. Por fim, perguntei o que ele achava do comportamento dela, o que ele respondeu afirmando que ela era estranha as vezes, e que gostava muito de mandar na relação.
Porém eu tinha descoberto uma série de coisas. Assim, deu pra perceber que ela sempre teve um lado dominador, o qual serve para intimidar as pessoas a atender seus desejos. Até aqui a história conferia. Porém, havia uma amiga, a qual o Pedro pouco soube informar a respeito, que vez ou outra fazia contato. Na hora, lembrei que havia alguma amiga a qual ambas firmaram uma aposta acerca de mim.
Descobri que ela teve poucos namorados, e também que era de classe média alta, porém sem interesses econômicos sobre outras pessoas. Porém o que mais me intrigou foi o fato de ele dizer que terminaram o relacionamento por causa de traição dela. Mesmo não tendo namorados fixos, aparentemente ela gostava de manter relações sexuais com várias pessoas ao mesmo tempo.
Quando o Murilo ligou de volta, informou que ela estava na casa do pai (ninguém sabia sobre mãe), e que aparentemente iria demorar a sair. Pedi que ele ficasse por lá mais alguns instantes.
Pensei que uma parte interessante da história seria revelada a partir do momento em que descobríssemos quem era a amiga misteriosa. De fato, era impossível ser a que dividia apartamento com ela.
Era preciso ir mais a fundo nas investigações, já que o tempo era nosso inimigo. Logo o Murilo ligou dizendo que estava seguindo o pai dela, mas que provavelmente não estavam retornando para o nosso edifício, e sim indo em direção à saída da cidade. Tenho que reconhecer que o Murilo soube se camuflar muito bem seguindo-os. Dessa forma, ele me informou que ela foi deixada pelo pai em um posto de gasolina. Ele continuou na linha, me mantendo informado a respeito dos movimentos dela. Em seguida, ele disse que uma mulher, de moto, apareceu e a apanhou. Tinha que ser ela, tinha que ser a amiga da aposta. Era essa a chave para descobrir algum podre dela que iria danificar sua imagem de garota perfeita, que cativava a todos ao deus redor.
Pelo telefone, pedi que ele as seguisse para ver o rosto da amiga sem capacete. Ele desligou o celular para continuar dirigindo e após um longo tempo de espera, eu já preocupado, resolvi ligar, mas ele não atendia. Alguns minutos depois, ele chegou.
_Caramba, já estava preocupado.
_E era pra estar.
_Por que? O que aconteceu?
_Olha, não se assuste, acho que ninguém me viu, mas eu vi o rosto da menina.
_Ah é? É conhecida? Como ela é?
_Sim, é conhecida.
_Fala logo caralho!
_É a tal Andréia (para quem não se lembra dela, voltar aos primeiros capítulos), amiguinha do Manoel, da galera das drogas. A Ana também está envolvida com o esquema, é isso que nós vamos usar contra elaPessoal, gostaria de me desculpar pelo dia de ausência. Eu estive com alguns problemas de saúde. Porém, provavelmente ficarei sem postar até terça feira da próxima semana, já que irei ficar sem internet por uma troca de serviços, e esse é o prazo limite para tal ato. Se der apareço antes. Talvez, amanhã eu consiga escrever alguma coisa.
PS: Continuem comentando e mandando e-mails. Curto muito ver a opinião de vocês.
rafael_hanchuka@outlook.com